sexta-feira, 30 de março de 2012

quinta-feira, 29 de março de 2012

quinta-feira, 22 de março de 2012

Cardeal Patriarca antecipa a 5ª Catequese Quaresmal

S. José, obtém-nos o silêncio

S. José, obtém-nos o silêncio Quando as ferramentas são guardadas no seu lugar e o trabalho do dia termina, Quando do Carmelo ao Jordão, Israel adormece no trigo e na noite, Como antigamente quando ele era jovem e ficava muito escuro para ler, José conversa com Deus com um grande suspiro. Ele preferiu a Sabedoria e é ela que lhe é trazida para a desposar. 
Ele é silencioso como a terra à hora do orvalho, Ele está na abundância e na noite, ele está bem na alegria, ele está bem na verdade Maria está na sua posse, e ele a rodeia de todos os lados.
 Não foi num só dia que aprendeu a nunca mais estar só Uma mulher conquistou cada parcela do seu coração agora prudente e paternal Está de novo no Paraíso com Eva! 
Este rosto de que todos os homens precisam, volta-se com amor e submissão para José. 
 Já não é a antiga prece e já não é a antiga espera depois de que ele sente subitamente um braço sem ódio, o apoio deste ser profundo e inocente. 
Já não é a fé nua na noite, é o amor que explica e opera. 
José está com Maria e Maria está com o Pai. 
 E nós também, para que Deus finalmente seja permitido Suas obras ultrapassam a nossa razão, Para que a sua luz não se apague por outras luzes, E as suas palavras pelo nosso ruído, 
Para que cesse o homem E para que venha o vosso reino,
 E se cumpra a vossa vontade,
 Para que reencontremos a origem com profundas delícias,
 Para que o mar se acalme e Maria comece, Ela que tem a melhor parte, 
E que do antigo Israel abate a resistência, 
José, Patriarca interior, obtém-nos o silêncio
 Paul Claudel (1868-1955)

sábado, 17 de março de 2012

4ª Catequese Quaresmal

domingo, 11 de março de 2012

Patriarca de Lisboa antecipa a 3ª Catequese Quaresmal dirigida aos Agent...

À procura do melhor...


 A ânsia da busca do melhor faz parte da natureza humana. Porém, não significa que, nessa procura, o alcancemos. Nos últimos tempos tivemos a prova disso. Buscamos e buscamos muito, com fasquia alta. Mas afinal, o que parecia ser o melhor para nós, em muitos casos foi o pior, ou pelo menos o menos bom! Por quê este resultado? Talvez tenhamos sido enganados, tanto naquilo que correspondia ao melhor que devíamos buscar, como ao caminho a seguir para o atingir. De facto, parece que houve uma confusão generalizada acerca do que realmente seria o melhor para a satisfação do ser humano. Culpa de quem? Engano dos promotores das ofertas para nossa satisfação? Ingenuidade nossa?... Pelo tipo de sociedade e de cultura que nos caracteriza, parece que fomos dominados pela nossa ignorância e pela de muitos mais, e pela ganância de alguns! Trocaram-nos as voltas: em vez de nos guiarem para a procura das coisas melhores para a nossa realização como pessoas humanas, quase nos iam fazendo regressar à “selva”, despertando em nós interesses semelhantes aos dos animais, que promovem o gosto do domínio traumatizante de uns sobre os outros. Vejamos: levaram-nos à busca da melhor comida e da melhor bebida; do melhor no vestir e no divertir; do melhor nos divertimentos e nos prazeres do corpo. Ao procurar o melhor no sexo, ele ganhou privilégios tais que produziu uma nova escravatura. Foi pior que na selva! E veio a realidade: quando o poder de compra do melhor é dirigido em exclusividade aos prazeres materiais, chegamos ao fim, ou seja, deparamo-nos com a realidade de que nada disso é o melhor. Na verdade, foi a busca de tudo isso que nos trouxe a desilusão: ficamos cheios de vazio interior! Que fazer, então? Mudar de rumo, acordar para a realidade: parar um pouco e reflectir acerca da validade das ofertas que nos fizeram, e das nossas reais necessidades, para retomarmos o caminho certo das buscas do que realmente necessitamos. Afinal, quem sou? Quais as minhas reais e profundas aspirações? Na resposta, apresentar-se-á logo o amor em primeiro lugar. Quanto eu preciso muito mais do amor do que de mero alimento material! O amor, esse que se pretendeu substituir pelo sexo à vontade, não perdoa tal barbaridade. E, do fundo de mim mesmo, o amor reclama o seu lugar no meu coração, que, entretanto, se encheu de egoísmo, de ódio, de solidão, que resultou em agressividade na família, na escola, no trabalho e que conduziu à exploração de uns pelos outros. O amor total é compreensível a todos os cristãos: é uma Pessoa - paradigma e fonte do amor que clama lugar na vida de cada um de nós, e na sociedade dos homens. “Deus é Amor”, diz S. João (1 Jo 4, 16). E, se lermos o 1º capítulo do livro do Génesis - “Deus criou o homem (e mulher) à Sua imagem e semelhança” (Gen 1, 27) - concluímos então que, se Deus é amor, nós somos amor. Deste modo, o Amor será a nossa primeira busca. Mas, o amor semelhante a Deus… de cuja semelhança teremos de nos aproximar. Encontraremos aí, então, o critério para as nossas buscas das coisas boas: tudo aquilo que nos aproxima de Deus, da semelhança com Ele! E se Deus é Espírito, então temos o conselho certo de S. Paulo: “Buscai as coisas do Alto… as espirituais (Col 3, 1). Este novo direccionamento das nossas buscas trará de volta o amor que alimenta a vida na sua realidade profunda e essencial, porque reconstruirá os laços de amor entre as pessoas, reconstruirá a família, retirará os filhos da orfandade, que os atira para a rua, libertar-nos-á da violência e dos medos e doenças psicológicas a que estamos submetidos. Esta nova prioridade de buscas iluminará a orientação das outras: da busca do alimento, do vestir e do lazer, na medida do nosso possível e enquanto concorra para a verdadeira realização da pessoa humana, inclusive na consciência da obrigação da partilha com os que menos têm. A Quaresma, Tempo litúrgico em que estamos, é bom momento para repensarmos a nossa vida e a organizarmos em torno do essencial: a busca do amor. Daí virá luz para o melhor que devemos buscar, numa dialética de inter-ajuda de uns com os outros.
 Hercília Pinto

sexta-feira, 9 de março de 2012

DISCURSO DO PAPA BENTO XVI AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA DA PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA

Senhores Cardeais
venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio
prezados irmãos e irmãs
É-me grato encontrar-me convosco por ocasião dos trabalhos da XVIII Assembleia Geral da Pontifícia Academia para a Vida. Saúdo-vos e agradeço-vos a todos o serviço generoso em defesa e a favor da vida, de modo particular ao Presidente, D. Ignacio Carrasco de Paula, as palavras que me dirigiu também em vosso nome. O delineamento que conferistes aos vossos trabalhos manifesta a confiança que a Igreja sempre depositou nas possibilidades da razão humana e num trabalho científico rigorosamente conduzido, que tenham sempre presente o aspecto moral. O tema por vós escolhido este ano: «Diagnóstico e terapia da infertilidade», além de ter uma relevância humana e social, possui um valor científico peculiar e expressa a possibilidade concreta de um diálogo fecundo entre dimensão ética e pesquisa biomédica. Com efeito, diante do problema da infertilidade do casal, quisestes evocar e considerar atentamente a dimensão moral, procurando os caminhos para uma avaliação diagnóstica correcta e uma terapia que corrija as causas da infertilidade. Esta abordagem nasce do desejo não só de oferecer um filho ao casal, mas de restituir aos esposos a sua fertilidade e toda a dignidade de ser responsáveis pelas próprias opções procriativas, para serem colaboradores de Deus na geração de um novo ser humano. A procura de um diagnóstico e de uma terapia representa a abordagem cientificamente mais correcta da questão da infertilidade, mas também a mais respeitadora da humanidade integral dos interessados. Com efeito, a união do homem e da mulher naquela comunidade de amor e de vida, que é o matrimónio, constitui o único «lugar» digno para a chamada à existência de um novo ser humano, que é sempre um dom.
Portanto, desejo encorajar a honestidade intelectual do vosso trabalho, expressão de uma ciência que mantém vivo o seu espírito de busca da verdade, ao serviço do bem autêntico do homem, e que evita o risco de ser uma prática meramente funcional. Com efeito, a dignidade humana e cristã da procriação não consiste num «produto», mas no seu vínculo com o acto conjugal, expressão do amor dos cônjuges, da sua união não apenas biológica, mas também espiritual. A este propósito, a Instrução Donum vitae recorda-nos que, «pela sua estrutura íntima, enquanto une os esposos com um vínculo profundíssimo, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher» (n. 126). Por conseguinte, as legítimas aspirações genitoriais do casal que se encontra numa condição de infertilidade devem obter, com a ajuda da ciência, uma resposta que respeite plenamente a sua dignidade de pessoas e de esposos. A humildade e a minuciosidade com que aprofundais estas problemáticas, consideradas obsoletas por alguns dos vossos colegas, diante do fascínio da tecnologia da fecundação artificial, merece encorajamento e apoio. Por ocasião do X aniversário da Encíclica Fides et ratio, eu recordava que «o lucro fácil ou, pior ainda, a arrogância de se substituir ao Criador desempenha às vezes um papel determinante. Esta é uma fórmula de hybris da razão, que pode assumir características perigosas para a própria humanidade» (Discurso aos participantes no Congresso internacional promovido pela Pontifícia Universidade Lateranense, 16 de Outubro de 2008: aas 100 [2008], 788-789). Efectivamente, o cientismo e a lógica do lucro parecem hoje dominar o campo da infertilidade e da procriação humana, chegando a limitar também muitas outras áreas de investigação.
A Igreja presta grande atenção ao sofrimento dos casais com infertilidade, interessa-se por eles e, precisamente por isso, encoraja a pesquisa médica. Todavia, a ciência nem sempre é capaz de corresponder aos desejos de numerosos casais. Então, gostaria de recordar aos esposos que vivem a condição da infertilidade, que isto não faz malograr a sua vocação matrimonial. Pela sua própria vocação baptismal e matrimonial, os cônjuges são sempre chamados a colaborar com Deus na criação de uma humanidade nova. Com efeito, a vocação ao amor é uma vocação ao dom de si, e esta é uma possibilidade que nenhuma condição orgânica pode impedir. Portanto, onde a ciência não encontra uma resposta, a resposta que doa luz provém de Cristo.
Desejo encorajar todos vós aqui reunidos para estes dias de estudo e que às vezes trabalhais num contexto médico-científico onde a dimensão da verdade permanece ofuscada: continuai pelo caminho empreendido, de uma ciência intelectualmente honesta e fascinada pela busca contínua do bem do homem. No vosso percurso intelectual não desdenheis o diálogo com a fé. Dirijo-vos o apelo urgente, lançado na Encíclica Deus caritas est: «Para poder agir rectamente, a razão deve ser continuamente purificada porque a sua cegueira ética, derivada da prevalência do interesse e do poder que a deslumbram, é um perigo nunca totalmente eliminável [...] A fé permite à razão realizar melhor a sua missão e ver mais claramente o que lhe é próprio» (n. 28). Por outro lado, precisamente a matriz cultural criada pelo cristianismo — radicada na afirmação da existência da Verdade e da inteligibilidade da realidade, à luz da Suma Verdade — digo a matriz cultural, tornou possível na Europa da Idade Média o desenvolvimento do saber científico moderno, saber que nas culturas precedentes tinha permanecido só em embrião.
Ilustres cientistas e todos vós, membros da Academia comprometidos na promoção da vida e da dignidade da pessoa humana, tende sempre presente também o papel cultural fundamental que desempenhais na sociedade e a influência que tendes na formação da opinião pública. O meu predecessor, beato João Paulo II recordava que, «precisamente porque “sabem mais”, os cientistas são chamados a “servir mais”» (Discurso à Pontíficia Academia das Ciências, 11 de Novembro de 2002: aas 95 [2003], 206). As pessoas têm confiança em vós que servis a vida, tem confiança no vosso compromisso a favor de quantos precisam de alívio e esperança. Nunca cedais à tentação de tratar o bem das pessoas, reduzindo-o a um mero problema técnico! A indiferença da consciência em relação à verdade e ao bem representa uma ameaça perigosa para um progresso científico autêntico.
Gostaria de concluir, renovando os bons votos que o Concílio Vaticano II dirige aos homens de pensamento e de ciência: «Felizes os que, possuindo a verdade, continuam a procurá-la, a fim de a renovar, de a aprofundar e de a transmitir aos outros» (Mensagem aos homens de pensamento e de ciência, 8 de Dezembro de 1965: AAS 58 [1966], 12). É com estes bons votos que vos concedo, a todos vós aqui presentes e a todos os vossos entes queridos, a Bênção apostólica. Obrigado!

quinta-feira, 8 de março de 2012

CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II ÀS MULHERES

CARTA DO PAPA JOÃO PAULO II
ÀS MULHERES
    
   
A vós, mulheres do mundo inteiro,

a minha mais cordial saudação!
1. A cada uma de vós dirijo esta Carta, sob o signo da solidariedade e da gratidão, ao aproximar-se a IV Conferência Mundial sobre a Mulher, que terá lugar em Pequim no próximo mês de Setembro.
Antes de mais, desejo exprimir o meu vivo apreço à Organização das Nações Unidas, que promoveu uma iniciativa de tamanha importância. Também a Igreja se propõe oferecer a sua contribuição para a defesa da dignidade, do papel e dos direitos das mulheres, não só através da específica colaboração da Delegação oficial da Santa Sé nos trabalhos de Pequim, como também falando directamente ao coração e à mente de todas as mulheres. Recentemente, por ocasião da visita que a Senhora Gertrudes Mongella, Secretária Geral da Conferência, me fez tendo em vista precisamente tão significativo encontro, quis entregar-lhe uma Mensagem, na qual estão recolhidos alguns pontos fundamentais do ensinamento da Igreja a este respeito. É uma mensagem que, para além da específica circunstância que a inspirou, se abre para a perspectiva mais ampla da realidade e dos problemas das mulheres no seu conjunto, pondo-se ao serviço da sua causa na Igreja e no mundo contemporâneo. Por isso, dei instruções para que fosse transmitida a todas as Conferências Episcopais, para garantir a sua máxima difusão.
Retomando quanto escrevi em tal documento, gostaria agora de me dirigir directamente a cada mulher, para reflectir com ela sobre os problemas e perspectivas da condição feminina no nosso tempo, detendo-me em particular sobre o tema essencial da dignidade e dos direitos das mulheres, considerados à luz da Palavra de Deus.
O ponto de partida deste diálogo ideal não pode ser senão um obrigado. A Igreja — escrevia na Carta apostólica Mulieris dignitatem — « deseja render graças à Santíssima Trindade pelo "mistério da mulher" — por toda a mulher — e por aquilo que constitui a eterna medida da sua dignidade feminina, pelas "grandes obras de Deus" que, na história das gerações humanas, nela e por seu meio se realizaram » (n. 31).
2. O obrigado ao Senhor pelo seu desígnio sobre a vocação e a missão da mulher no mundo, torna-se também um concreto e directo obrigado às mulheres, a cada mulher, por aquilo que ela representa na vida da humanidade.
Obrigado a ti, mulher-mãe, que te fazes ventre do ser humano na alegria e no sofrimento de uma experiência única, que te torna o sorriso de Deus pela criatura que é dada à luz, que te faz guia dos seus primeiros passos, amparo do seu crescimento, ponto de referência por todo o caminho da vida.
Obrigado a ti, mulher-esposa, que unes irrevogavelmente o teu destino ao de um homem, numa relação de recíproco dom, ao serviço da comunhão e da vida.
Obrigado a ti, mulher-filha e mulher-irmã, que levas ao núcleo familiar, e depois à inteira vida social, as riquezas da tua sensibilidade, da tua intuição, da tua generosidade e da tua constância.
Obrigado a ti, mulher-trabalhadora, empenhada em todos os âmbitos da vida social, económica, cultural, artística, política, pela contribuição indispensável que dás à elaboração de uma cultura capaz de conjugar razão e sentimento, a uma concepção da vida sempre aberta ao sentido do « mistério », à edificação de estruturas económicas e políticas mais ricas de humanidade.
Obrigado a ti, mulher-consagrada, que, a exemplo da maior de todas as mulheres, a Mãe de Cristo, Verbo Encarnado, te abres com docilidade e fidelidade ao amor de Deus, ajudando a Igreja e a humanidade inteira a viver para com Deus uma resposta « esponsal », que exprime maravilhosamente a comunhão que Ele quer estabelecer com a sua criatura.
Obrigado a ti, mulher, pelo simples facto de seres mulher! Com a percepção que é própria da tua feminilidade, enriqueces a compreensão do mundo e contribuis para a verdade plena das relações humanas.
3. Mas agradecer não basta, já sei. Infelizmente, somos herdeiros de uma história com imensos condicionalismos que, em todos os tempos e latitudes, tornaram difícil o caminho da mulher, ignorada na sua dignidade, deturpada nas suas prerrogativas, não raro marginalizada e, até mesmo, reduzida à escravidão. Isto impediu-a de ser profundamente ela mesma, e empobreceu a humanidade inteira de autênticas riquezas espirituais. Não seria certamente fácil atribuir precisas responsabilidades, atendendo à força das sedimentações culturais que, ao longo dos séculos, plasmaram mentalidades e instituições. Mas, se nisto tiveram responsabilidades objectivas, mesmo não poucos filhos da Igreja, especialmente em determinados contextos históricos, lamento-o sinceramente. Que este pesar se traduza, para toda a Igreja, num compromisso de renovada fidelidade à inspiração evangélica que, precisamente no tema da libertação das mulheres de toda a forma de abuso e de domínio, tem uma mensagem de perene actualidade, que brota da atitude mesma de Cristo. Ele, superando as normas em vigor na cultura do seu tempo, teve para com as mulheres uma atitude de abertura, de respeito, de acolhimento, de ternura. Honrava assim, na mulher, a dignidade que ela sempre teve no projecto e no amor de Deus. Ao fixar o olhar n'Ele, no final deste segundo milénio, vem-nos espontaneamente a pergunta: em que medida a sua mensagem foi recebida e posta em prática?
Sim, é tempo de olhar, com a coragem da memória e o sincero reconhecimento das responsabilidades, a longa história da humanidade, para a qual as mulheres deram uma contribuição não inferior à dos homens, e a maior parte das vezes em condições muito mais desfavoráveis. Penso, de modo especial, nas mulheres que amaram a cultura e a arte, e às mesmas se dedicaram partindo de condições desvantajosas, excluídas frequentemente de uma educação paritária, submetidas à inferiorização, ao anonimato e até mesmo à expropriação da sua contribuição intelectual. Infelizmente, da obra imensa das mulheres na história, bem pouco restou de significativo com os métodos da historiografia científica. Mas, por sorte, se o tempo sepultou os seus vestígios documentais, não é possível não perceber os seus influxos benfazejos na seiva vital que impregna o ser das gerações, que se foram sucedendo até à nossa. Relativamente a esta grande, imensa « tradição » feminina, a humanidade tem uma dívida incalculável. Quantas mulheres foram e continuam ainda a ser valorizadas mais pelo aspecto físico que pela competência, pela profissionalidade, pelas obras da inteligência, pela riqueza da sua sensibilidade e, em última análise, pela própria dignidade do seu ser!
4. Que dizer também dos obstáculos que, em tantas partes do mundo, impedem ainda às mulheres a sua plena inserção na vida social, política e económica? Basta pensar como, com frequência, é mais penalizado que gratificado o dom da maternidade, à qual, todavia, a humanidade deve a sua própria sobrevivência. Certamente, resta ainda muito a fazer para que o ser mulher e mãe não comporte discriminação. Urge conseguir onde quer que seja a igualdade efectiva dos direitos da pessoa e, portanto, idêntica retribuição salarial por categoria de trabalho, tutela da mãe-trabalhadora, justa promoção na carreira, igualdade entre cônjuges no direito de família, o reconhecimento de tudo quanto está ligado aos direitos e aos deveres do cidadão num regime democrático.
Trata-se não só de um acto de justiça, mas também de uma necessidade. Na política do futuro, os graves problemas em aberto verão sempre mais envolvida a mulher: tempo livre, qualidade da vida, migrações, serviços sociais, eutanásia, droga, saúde e assistência, ecologia, etc. Em todos estes campos, se revelará preciosa uma maior presença social da mulher, porque contribuirá para fazer manifestar as contradições de uma sociedade organizada sobre critérios de eficiência e produtividade, e obrigará a reformular os sistemas a bem dos processos de humanização que delineiam a « civilização do amor ».
5. Pensando, depois, a um dos aspectos mais delicados da situação feminina no mundo, como não lembrar a longa e humilhante história — com frequência, « subterrânea » — de abusos perpetrados contra as mulheres no campo da sexualidade? No limiar do terceiro milénio, não podemos permanecer impassíveis e resignados diante deste fenómeno. Está na hora de condenar vigorosamente, dando vida a apropriados instrumentos legislativos de defesa, as formas de violência sexual, que não raro têm a mulher por objecto. Mais, em nome do respeito pela pessoa, não podemos não denunciar a difusa cultura hedonista e mercantilista que promove a exploração sistemática da sexualidade, levando mesmo meninas de menor idade a cair no circuito da corrupção e a permitir comercializar o próprio corpo.
Por outro lado, diante de tais perversões, quanto louvor merecem as mulheres que, com amor heróico pela sua criatura, carregam uma gravidez devida à injustiça de relações sexuais impostas pela força; e isto não só no quadro das atrocidades que, infelizmente, se verificam nos contextos de guerras, ainda tão frequentes no mundo, mas também nas situações de bem-estar e de paz, não raro viciadas por uma cultura de permissivismo hedonista, na qual prosperam facilmente também tendências de machismo agressivo. Nestas condições, a escolha do aborto, que permanece sempre um pecado grave, antes de ser uma responsabilidade atribuível à mulher, é um crime que deve ser imputado ao homem e à cumplicidade do ambiente circundante.
6. Assim, o meu « obrigado » às mulheres converte-se numpremente apelo a que, da parte de todos, particularmente dos Estados e das Instituições Internacionais, se faça o que for preciso para devolver à mulher o pleno respeito da sua dignidade e do seu papel. A este respeito, não posso deixar de manifestar a minha admiração pelas mulheres de boa vontade que se dedicaram a defender a dignidade da condição feminina, através da conquista de direitos fundamentais sociais, económicos e políticos, e assumiram corajosamente tal iniciativa em épocas em que este seu empenho era considerado um acto de transgressão, um sinal de falta de feminilidade, uma manifestação de exibicionismo, e talvez um pecado!
Como escrevi na Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, ao contemplar este grande processo de libertação da mulher, pode-se dizer que « foi um caminho difícil e complexo e, por vezes, não isento de erros, mas substancialmente positivo, apesar de ainda incompleto devido a tantos obstáculos que, em diversas partes do mundo, se interpõem não deixando que a mulher seja reconhecida, respeitada, valorizada na sua peculiar dignidade » (n. 4).
É preciso continuar neste caminho! Estou convencido, porém, que o segredo para percorrer diligentemente a estrada do pleno respeito da identidade feminina não passa só pela denúncia, apesar de necessária, das discriminações e das injustiças, mas também, e sobretudo, por um eficaz e claro projecto de promoção, que englobe todos os âmbitos da vida feminina, a partir de umarenovada e universal tomada de consciência da dignidade da mulher. Ao reconhecimento desta, não obstante os múltiplos condicionalismos históricos, leva-nos a própria razão, que capta a lei de Deus inscrita no coração de cada homem. Mas é sobretudo a Palavra de Deus, que nos permite identificar com clareza o radical fundamento antropológico da dignidade da mulher, apontando-o no desígnio de Deus sobre a humanidade.
7. Permiti-me, pois, caríssimas irmãs, que juntamente convosco, medite uma vez mais aquela página bíblica maravilhosa que mostra a criação do homem, e na qual se exprime bem a vossa dignidade e missão no mundo.
O Livro do Génesis fala da criação, de modo sintético e com linguagem poética e simbólica, mas profundamente verdadeira: « Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou varão e mulher » (Gn 1, 27). O acto criador de Deus desenvolve-se segundo um preciso projecto. Antes de mais, diz que o homem é criado « à imagem e semelhança de Deus » (cf. Gn 1, 26), expressão que esclarece logo a peculiaridade do homem no conjunto da obra da criação.
Depois, diz que ele, desde o início, é criado como « varão e mulher » (Gn 1, 27). A mesma Sagrada Escritura fornece a interpretação deste dado: o homem, mesmo encontrando-se rodeado pelas inumeráveis criaturas do mundo visível, dá-se conta de estar só (cf. Gn 2, 20). Deus intervém para fazê-lo sair desta situação de solidão: « Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele » (Gn 2, 18). Portanto, na criação da mulher está inscrito, desde o início, o princípio do auxílio: auxílio — note-se — não unilateral, mas recíproco. A mulher é o complemento do homem, como o homem é o complemento da mulher: mulher e homem são entre si complementares. A feminilidade realiza o « humano » tanto como a masculinidade, mas com uma modulação distinta e complementar.
Quando o Génesis fala de « auxiliar », não se refere só ao âmbito do agir, mas também do ser. Feminilidade e masculinidade são entre si complementares, não só do ponto de vista físico e psíquico, mas também ontológico. Só mediante a duplicidade do « masculino » e do « feminino », é que o « humano » se realiza plenamente.
8. Depois de criar o homem, varão e mulher, Deus diz a ambos: « Enchei e dominai a terra » (Gn 1, 28). Não lhes confere só o poder de procriar para perpetuar no tempo o género humano, masconfia-lhes também a terra como tarefa, comprometendo-os a administrar os seus recursos com responsabilidade. O homem, ser livre e racional, é chamado a transformar a face da terra. Nesta tarefa, que é essencialmente a obra da cultura, tanto o homem como a mulher têm, desde o início, igual responsabilidade. Na sua reciprocidade esponsal e fecunda, na sua tarefa comum de dominar e submeter a terra, a mulher e o homem não reflectem uma igualdade estática e niveladora, mas tampouco comportam uma diferença abissal e inexoravelmente conflituosa: a sua relação mais natural, conforme ao desígnio de Deus, é a « unidade dos dois », ou seja, uma « unidualidade » relacional, que permite a cada um de sentir a relação interpessoal e recíproca como um dom enriquecedor e responsabilizador.
A esta « unidade dos dois », está confiada por Deus não só a obra da procriação e a vida da família, mas a construção mesma da história. Se durante o Ano Internacional da Família, celebrado em 1994, a atenção se concentrou sobre a mulher como mãe, a Conferência de Pequim torna-se ocasião propícia para uma nova tomada de consciência da múltipla contribuição que a mulher oferece à vida inteira das sociedades e nações. É uma contribuição, inicialmente de natureza espiritual e cultural, mas também sócio-política e económica. Devem realmente muito ao subsídio da mulher, os vários sectores da sociedade, os Estados, as culturas nacionais, e, em última análise, o progresso de todo o género humano!
9. Normalmente, o progresso é avaliado segundo categorias técnicas e científicas; ora, até sob este ponto de vista, não falta a contribuição da mulher. Mas, essas não são as únicas dimensões do progresso, antes, não são sequer as principais. Mais importante ainda é a dimensão ético-social, que diz respeito às relações humanas e aos valores do espírito: e, nesta dimensão, frequentemente desenvolvida sem alarde, a partir das relações quotidianas entre as pessoas, especialmente dentro da família, a sociedade é em larga medida devedora, precisamente ao « génio da mulher ».
A este respeito, gostaria de manifestar particular gratidão às mulheres empenhadas nos mais distintos sectores da actividade educativa, para além da família: infantários, escolas, universidades, instituições de assistência, paróquias, associações e movimentos. Onde quer que se revele necessário um trabalho de formação, pode-se constatar a imensa disponibilidade das mulheres a dedicarem-se às relações humanas, especialmente em prol dos mais débeis e indefesos. Nesse trabalho, elas realizam uma forma de maternidade afectiva, cultural e espiritual, de valor realmente inestimável, pela incidência que tem no desenvolvimento da pessoa e no futuro da sociedade. E como não lembrar aqui o testemunho de tantas mulheres católicas e de tantas Congregações religiosas femininas, que, nos vários continentes, fizeram da educação, especialmente dos meninos e meninas, o seu principal serviço? Como não pensar com espírito de gratidão a todas as mulheres que operaram, e continuam a fazê-lo, no campo da saúde, não só no âmbito das instituições sanitárias bem organizadas, mas, com frequência, em circunstâncias muito precárias, nos países mais pobres do mundo, dando um testemunho de disponibilidade que toca não raro o martírio?
10. Faço votos pois, caríssimas irmãs, que se reflicta com particular atenção sobre o tema do « génio da mulher », não só para nele reconhecer os traços de um preciso desígnio de Deus, que há-de ser acolhido e honrado, mas também para lhe dar mais espaço no conjunto da vida social, bem como da vida eclesial. Precisamente sobre este tema, de resto já considerado por ocasião do Ano Mariano, pude deter-me amplamente na mencionada Carta apostólica Mulieris dignitatem, publicada em 1988. Além disso, este ano, por ocasião da Quinta-Feira Santa, quis unir idealmente a Mulieris dignitatem à habitual Carta que envio aos sacerdotes convidando-os a reflectirem sobre o significativo papel que na sua vida desempenha a mulher como mãe, como irmã e como colaboradora nas obras de apostolado. Esta é outra dimensão — distinta da conjugal, mas importante também — daquele « auxílio » que a mulher, segun do o Génesis, é chamada a prestar ao homem.
A Igreja vê, em Maria, a máxima expressão do « génio feminino » e encontra n'Ela uma fonte incessante de inspiração. Maria definiu-Se « serva do Senhor » (cf. Lc 1, 38). É por obediência à Palavra de Deus que Ela acolheu a sua vocação privilegiada, mas nada fácil, de esposa e mãe da família de Nazaré. Pondo-Se ao serviço de Deus, Ela colocou-Se também ao serviço dos homens: um serviço de amor. Este mesmo serviço permitiu-Lhe realizar na sua vida a experiência de um misterioso, mas autêntico « reinar ». Não é por acaso que é invocada como « Rainha do céu e da terra ». Assim a invoca toda a comunidade dos crentes; invocam-na como « Rainha » muitas nações e povos. O seu « reinar » é servir! O seu servir é « reinar »!
Assim deveria ser entendida a autoridade, tanto na família, como na sociedade e na Igreja. O « reinar » é revelação da vocação fundamental do ser humano, enquanto criado à « imagem » d'Aquele que é Senhor do céu e da terra, e chamado a ser em Cristo seu filho adoptivo. O homem é a única criatura sobre a terra « a ser querida por Deus por si mesma », como ensina o Concílio Vaticano II, o qual, de modo significativo, acrescenta que o homem « não se pode encontrar plenamente a não ser no sincero dom de si mesmo » (Gaudium et spes, 24).
Nisto consiste o materno « reinar » de Maria. Tendo-Se feito, com todo o seu ser, dom para o seu Filho, Ela veio a tornar-Se também dom para os filhos e filhas de todo o género humano, gerando uma profundíssima confiança em quem a Ela recorre para ser guiado pelos caminhos difíceis da vida até ao próprio destino definitivo e transcendente. Cada um chega através das etapas da própria vocação a esta meta final, uma meta que orienta o empenho na história tanto do homem como da mulher.
11. Neste horizonte de « serviço » — que, se prestado com liberdade, reciprocidade e amor, exprime a verdadeira « realeza » do ser humano — é possível acolher também, sem consequências desfavoráveis para a mulher, uma certa diversidade de papéis, na medida em que tal diversidade não é fruto de arbitrária imposição, mas brota da peculiaridade do ser masculino e feminino. É um tema que tem a sua específica aplicação, mesmo no seio da Igreja. Se Cristo — por escolha livre e soberana, bem testemunhada no Evangelho e na constante tradição eclesial — confiou somente aos homens a tarefa de ser « ícone » da sua imagem de « pastor » e « esposo » da Igreja através do exercício do sacerdócio ministerial, isto em nada diminui o papel da mulher, como afinal sucede com os outros membros da Igreja não investidos do sagrado ministério, já que todos são igualmente dotados da dignidade própria do « sacerdócio comum », radicado no Baptismo. Tais distinções de papéis, com efeito, não devem ser interpretadas à luz dos cânones em uso nas sociedades humanas, mas com os critérios específicos da economia sacramental, ou seja, daquela economia de « sinais » livremente escolhidos por Deus para Se fazer presente no meio dos homens.
De resto, precisamente na linha desta economia de sinais, mesmo se fora do âmbito sacramental, não é de pouca importância a « feminilidade » vivida segundo o sublime modelo de Maria. Há, de facto, na « feminilidade » da mulher crente, e especialmente da mulher « consagrada », uma espécie de « profecia » imanente (cf. Mulieris dignitatem, 29), um simbolismo fortemente evocador, dir-se-ia uma sugestiva « iconicidade », que se realiza plenamente em Maria e exprime bem o ser mesmo da Igreja, enquanto comunidade consagrada com a dimensão de absoluto de um coração « virgem », para ser « esposa » de Cristo e « mãe » dos crentes. Nesta perspectiva de complementaridade « icónica » dos papéis masculino e feminino, ficam mais em evidência duas dimensões imprescindíveis da Igreja: o princípio « mariano », e o princípio « apostólico-petrino » (cf. ibid., 27).
Por outro lado — lembrei-o aos sacerdotes na mencionada Carta da Quinta-Feira Santa deste ano —, o sacerdócio ministerial, no desígnio de Cristo, « não é expressão de domínio, mas de serviço » (n. 7). É tarefa urgente da Igreja, na sua renovação quotidiana à luz da Palavra de Deus, pô-lo sempre mais em evidência, quer no desenvolvimento do espírito de comunhão e na promoção atenta de todos os instrumentos tipicamente eclesiais da participação, quer através do respeito e valorização dos inúmeros carismas pessoais e comunitários, que o Espírito de Deus suscita para edificação da comunidade cristã e serviço dos homens.
Neste amplo espaço de serviço, a história da Igreja nestes dois milénios, apesar de tantos condicionalismos, conheceu realmente o « génio da mulher », tendo visto surgir no seu seio mulheres de primária grandeza, que deixaram amplos e benéficos vestígios de si no tempo. Penso na longa série de mártires, de santas, de místicas insignes. Penso, de modo especial, em Santa Catarina de Sena e em Santa Teresa de Ávila, a quem o Papa Paulo VI, de venerável memória, conferiu o título de Doutora da Igreja. E como não lembrar também tantas mulheres que, impelidas pela fé, deram vida a iniciativas de extraordinário relevo social, especialmente ao serviço dos mais pobres? O futuro da Igreja, no terceiro milénio, não deixará certamente de registar novas e esplêndidas manifestações do « génio feminino ».
12. Vede, portanto, caríssimas irmãs, quantos motivos tem a Igreja para desejar que, na próxima Conferência, promovida em Pequim pelas Nações Unidas, se ponha em evidência a verdade plena sobre a mulher. Seja colocado realmente em devido relevo o « génio da mulher », tendo em conta não somente as mulheres grandes e famosas, do passado ou nossas contemporâneas, mas também as mulheres simples, que exprimem o seu talento feminino com o serviço aos outros na normalidade do quotidiano. De facto, é no doar-se aos outros na vida de cada dia, que a mulher encontra a profunda vocação da própria vida, ela que talvez mais que o próprio homem vê o homem, porque o vê com o coração. Vê-o independentemente dos vários sistemas ideológicos e políticos. Vê-o na sua grandeza e nos seus limites, procurando ir ao seu encontro e ser-lhe de auxílio. Deste modo, realiza-se na história da humanidade o fundamental desígnio do Criador e aparece à luz incessantemente, na variedade das vocações, a beleza — não só física, mas sobretudo espiritual — que Deus prodigalizou desde o início à criatura humana e especialmente à mulher.
Ao mesmo tempo que, na minha oração, confio ao Senhor o bom êxito do importante encontro de Pequim, convido as comunidades eclesiais a fazer do ano em curso ocasião para uma profunda acção de graças ao Criador e ao Redentor do mundo precisamente pelo dom de um bem tão grande como é o da feminilidade: esta, nas suas múltiplas expressões, pertence ao património constitutivo da humanidade e da mesma Igreja.
Que Maria, Rainha do amor, vele pelas mulheres e pela sua missão ao serviço da humanidade, da paz, da difusão do Reino de Deus!
Com a minha Bênção Apostólica.
Vaticano, 29 de Junho de 1995, solenidade dos Apóstolos S. Pedro e S. Paulo.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Que é a Verdade ?: A LUZ E AS TREVAS

Que é a Verdade ?: A LUZ E AS TREVAS: . . Este tempo da Quaresma, é um tempo particularmente indicado para meditarmos na nossa caminhada com Deus e para Deus. Assim e mais uma ...

sexta-feira, 2 de março de 2012

II Domingo da Quaresma

Neste segundo Domingo da Quaresma, somos confrontados com a obediência de Abraão à vontade de Deus que lhe exige a imolação do seu filho Isaac. Esta história deixa-nos, muitas vezes, escandalizados: Abraão abandonou a sua terra, renunciou à segurança da casa e da tribo a que pertencia, cortou todas as pontes com o passado e acreditou verdadeiramente que Deus realizaria todas as promessas. Seria necessária mais esta prova? Que o sentido deste sacrifício de Isaac? O que nos quer Deus mostrar com este acontecimento? Com razão, Abraão é chamado Pai dos crentes, porque manifestou na sua vida e nas suas obras uma total disponibilidade para acolher o projecto de Deus. No percurso da sua vida, também marcado pelo pecado e pela infidelidade, Abraão percebeu a absoluta centralidade de Deus na sua história, experimentou verdadeiramente o poder de Deus que o arrancou de uma velhice insalubre e destinada ao fracasso, que lhe alargou os horizontes até à plenitude desse encontro verdadeiro e fecundo com o Senhor. O sacrifício de Isaac mostra-nos que “esse filho que tu tanto amas” não é o eixo da sua existência, apesar de tudo aquilo que ele significava - mostra-nos ainda que só Deus pode estar no centro da nossa história e, por isso mesmo, deve estar no centro das nossas respostas, das nossas opções, dos nossos projectos. Tudo o mais é relativo e passageiro, mesmo as relações com aqueles que mais amamos. São Paulo, na carta aos Romanos, mostra-nos que Jesus realiza até ao fim a figura da Isaac. Deus, que não quis que Abraão Lhe oferecesse o filho em sacrifício, permitiu que o seu muito Amado Filho fosse crucificado pelos nossos pecados. Alegremo-nos por isso neste tempo de preparação para a Páscoa e peçamos a Deus o dom de uma fé corajosa, que se espelhe nas obras e no testemunho da nossa vida. Neste Domingo em que escutamos a transfiguração de Jesus no Monte Tabor, peçamos-lhe a graça de viver transfigurados pelo seu amor e alimentados pela esperança da ressurreição. Pe Bruno Machado