sexta-feira, 29 de julho de 2011

O MUNDO À NOSSA VOLTA

Férias, dom de Deus

Dário Pedroso, s.j.


Meses de Verão, habitualmente tempo mais reservado para férias, para o merecido descanso, para um tempo privilegiado de repouso, de pausa. Infelizmente, nem todos podem gozar deste tempo de férias, mas é um direito que a todos pertence. Quem trabalha um ano inteiro devia poder descansar e gozar umas férias dignas e sérias, com repouso e sossego, com algum tempo de lazer mais forte e mais alegre.

É pena que não seja assim para toda a gente. E hoje, com tantos milhares sem emprego, sem ordenado, sem condições familiares, as férias vão ser mais raras. Outros talvez esbanjem e não tenham consciência nem sintam a carestia de muitos outros. Até nas férias há muita situação de injustiça. Atentados à dignidade humana. E talvez haja alguns que vão gozar férias sem poderem, pedindo empréstimo para viagens ao estrangeiro ou outras extravagâncias menos “dignas”.

Mas não basta ter férias, é preciso saber vivê-las, saber aproveitá-las bem, saber gozá-las com sentido cristão. Daqui nascerão forçosamente muitas opções fundamentais. Não servem umas férias quaisquer para quem tem sentido cristão para a vida e, por isso, também para o descanso e para as férias. Quantos saem das férias mais cansados, mais esgotados, mais desfeitos por dentro.

Férias, tempo para mais oração. Ao longo do ano, o trabalho, o stress, o reboliço, a azáfama de horários e de vida nem sempre deixam tempo suficiente para rezar. Nas férias, Deus devia ser contemplado com a nossa gratuidade de mais oração, mais diálogo, mais companhia. Férias com Deus. Ou seja, não dar férias a Deus. Ele não precisa delas.

Férias, tempo de leitura. Lemos pouco, nem sempre lemos o que nos forma e nos enriquece. O tempo de férias poderá ser um momento privilegiado para boas leituras. Leituras formativas e descansativas. Leituras que enriquecem nossos conhecimentos culturais e religiosos. Há tanta coisa boa a ler, começando pela Bíblia, pelos documentos do Papa, por livros de espiritualidade, de teologia, de vida de santos, etc. Um bom romance ou um bom livro de teologia também podem ajudar a enriquecer.

Férias, tempo de caridade. Porque não dedicar um tempo a visitar algum doente, algum familiar mais idoso e que viva mais só, alguma instituição de solidariedade? Porque não dar algum do nosso tempo a ajudar os que mais precisam, a exercitar a nossa caridade? Tempo de voluntariado para nos enriquecermos e para distribuir à nossa volta mais alegria e mais felicidade. Há quem vá fazer voluntariado em África. Mas todos podemos encontrar a África perto de nós, na nossa vila ou cidade, bem à nossa beira.

Férias, tempo para a família. Todos se queixam que, durante o tempo de trabalho e de estudo, os momentos para a família são muito escassos. Não há muita oportunidade de conversar, de dialogar, de trocar impressões, de partilhar projectos. Aproveitar as férias para pôr a conversa em dia, para um diálogo mais profundo, para uma partilha mais amiga seria um excelente modo de viver algum tempo das nossas férias. E, depois, a família mais alargada, que quase nunca vemos, podia ser contemplada nestas férias. Não sejamos egoístas. Que os outros tenham lugar no nosso coração e no nosso tempo de férias.

Férias, tempo de contemplação. Olhar a imensidade do mar, a beleza das ondas, as areias da praia com olhar contemplativo é um precioso enriquecimento. Olhar o verde das florestas, ouvir o cantar dos pássaros, deliciar-se com a beleza das flores, são modos de descansar contemplando Deus e as maravilhas do seu amor. Precisamos de ter um olhar interior mais intenso e mais límpido para, aos poucos, ver e encontrar Deus em tudo e tudo em Deus.

Não fiquemos em casa, passando horas a ver televisão, a consultar a internet. Saibamos arejar, descansar com qualidade, mesmo que não possamos sair da nossa terra. Aí também podemos arranjar tempos e modos de bom descanso e de boas férias. Tenhamos qualidade inventiva para saber realizar um bom plano de férias e descansar a sério, com são divertimento, com repouso, com convívio, com leitura, com caridade, sobretudo com mais oração e mais vida de família.

Não dar “férias” a Deus, não deixar a oração e a Eucaristia. Ter um tempinho para ir visitar o Senhor num sacrário é essencial no tempo de férias. Com paz e sossego, com silêncio interior, tentar mais colóquios com Jesus. Porventura, uma visita a algum Santuário, para estar com paz e rezar, seria outro modo de ajudar a enriquecer-nos em tempo de férias. Contemplar obras de arte, como o Papa nos dizia há dias, pode ser um bom momento das nossas férias.

Desejo muito a todos os visitantes deste site umas férias repousantes, descansativas, com tempo de oração, de descanso, de paz e alegria. Que Deus a todos ajude e abençoe. Que os doentes, os idosos, os que passam carências encontrem em Deus seu alívio e seu repouso

sexta-feira, 22 de julho de 2011

O Santo Padre ensina os jovens a Devoçao ao Coração de Jesus

Catequese 9 - Consagração dos jovens ao Coração de Jesus

A finalidade desta catequese é ajudar os jovens a preparar a Consagração da Juventude do Mundo ao Sagrado Coração de Jesus pelo Santo Padre Bento XVI na próxima Jornada Mundial da Juventude.

Consta de três partes. Na primeira, aproximamo-nos da Mensajem do Papa para a JMJ a partir da perspectiva do Coração de Jesus. Na segunda, recordamos brevemente a história da devoção ao Coração de Jesus. Por último, explicamos o sentido desta Consagração da Juventude do Mundo ao Coração de Jesus.

I. “Do coração do homem ao Coração de Deus”

1. Se penetramos nas profundezas do nosso coração, encontramos todos o mesmo desejo: queremos ser felizes. Mas onde e como podemos encontrar a felicidade?, perguntamo-nos. A experiência diz-nos que a felicidade do homem só se encontra na medida em que a sua ânsia de infinito é saciada. Diz o Papa na sua mensagem: “O homem é verdadeiramente criado para aquilo que é grande, para o infinito.” (Bento XVI, Mensagem para a JMJ 2011 Madrid.)

Devemos dar um passo mais. Este desejo de infinito, para o homem, identifica-se com o desejo de ser amado por um Amor que não tem limites. A resposta a esta interrogação é-nos dada pela própria revelação de Deus: “Deus é Amor”. Deus manifestou-Se-nos precisamente como o Amor infinito, eterno, pessoal e misericordioso que dá resposta, com plenitude, aos anseios de felicidade que há no coração de todo o homem. Por esta razão, diz-nos o Papa: “Deus é a fonte da vida; eliminá-l’O equivale a separar-se desta fonte e, inevitavelmente, a privar-se da plenitude e da alegria: ‘De facto, sem o Criador a criatura esvai-se’ (Conc. Ecum. Vaticano II, Const. Gaudium et Spes, 36)” (Mensagem JMJ). Podemos vê-lo nas múltiplas experiências e tentativas que aconteceram e acontecem na nossa sociedade, de construção de um “paraíso na terra” à margem de Deus.

2. O problema do coração do homem só se resolve definitivamente no encontro com o Coração de Deus. A este respeito, diz Santo Agostinho: “Fizeste-nos, Senhor, para Ti, e o nosso coração permanecerá inquieto até que em Ti descanse”. A inquietação de que fala o santo de Hipona refere-se à dificuldade de “alcançar” o Amor, como consequência da nossa condição de criaturas; somos finitos e, além disso, somos pecadores. Uma e outra vez tropeçamos na pedra do nosso egoismo, da desordem das nossas paixões que nos impedem de alcançar esse Amor. O coração do homem “necessitava” um Coração que, por um lado, estivesse ao seu “nível”, e que, por outro lado, fosse omnipotente para o arrancar à sua finitude e ao seu pecado. Em Jesus Cristo, Deus foi ao encontro do homem, e a nós, homens, amou-nos “com coração humano”. No encontro do coração do homem com o Coração de Jesus realizou-se o mistério da Redenção: "A partir do horizonte infinito do seu amor, de facto, Deus quis entrar nos limites da história e da condição humana, assumiu um corpo e um coração, para que possamos contemplar e encontrar o infinito no finito, o Mistério invisível e inefável no Coração humano de Jesus, o Nazareno". (Bento XVI, Angelus 1 de Junho de 2008)

3. A revelação definitiva desse Amor foi-nos dada na Cruz. O amor que Deus tem por nós chega ao “limite” da entrega da sua vida. O Coração aberto de Jesus, na Cruz, como consequência de ter sido trespassado pela lança do soldado, é a maior expressão de quanto Deus nos ama e de como nos ama. Diz o Papa, na sua mensagem: “Do Coração aberto de Jesus na cruz brotou a vida divina” (Mensagem JMJ). Assim, na Cruz, Jesus transforma o nosso “coração de pedra”, ferido pelo pecado, num “coração de carne”, como o seu: dá-nos o seu amor e, por sua vez, torna-nos capazes de amar com o seu próprio amor.

4. Do Coração de Jesus, vivo e ressuscitado, brota a fonte em que o homem deve beber para saciar a sua sede infinita de amar e ser amado. É, portanto, neste encontro pessoal, “de coração a Coração”, que o homem vive “arraigado e edificado em Cristo, firme na fé” (Col 2,7). A santidade consiste en entrar plenamente nesta corrente de amor que brota do Coração de Jesus. “O lema do Cardeal Newman, ‘de coração a Coração’, dá-nos a perspectiva da sua compreensão da vida cristã como uma chamada à santidade, experimentada como o desejo profundo do coração humano de entrar em comunhão íntima com o Coração de Deus” (Bento XVI, Homilia na Beatificação do Cardeal Newman).

II. “Eis aqui o Coração que tanto tem amado os homens”

A Igreja, ao longo dos séculos, foi aprofundando o significado do culto ao Sagrado Coração de Jesus. Muitos homens e mulheres encontraram, na contemplação desta imagem do coração trespassado, um caminho muito válido para se identificarem plenamente com Cristo e alcançarem a meta da santidade.

Entre estes santos, temos de destacar Santa Margarida Maria de Alacoque (1647-1690), religiosa da Ordem da Visitação em Paray-le-Monial, a quem Jesus Se manifesta na Eucaristia, revelando-lhe o mistério do seu Coração: "Eis aqui o Coração que tanto tem amado os homens e que mais não tem recebido que ingratidões e afrontas”. Ao longo da sua vida, Santa Margarida ensinou a amar o Coração de Jesus: acompanhando-O na Eucaristia, por intermédio da Hora Santa, a consagrar-se a Ele e a oferecer pequenos actos de amor em reparação dos pecados. Também difundiu a prática das primeiras sextas-feiras de cada mês: confissão e comunhão em reparação dos pecados. Foi beatificada em 1864 pelo Beato Pio IX e canonizada em 1920 por Bento XV. A sua festa celebra-se a 16 de Outubro.

Juntamente com esta santa, destacamos São Cláudio de la Colombière S.J. (1641-1682), director espiritual de Santa Margarida Maria. Foi ele o encarregado de propagar a mensagem do amor ao Coração de Cristo pelos lugares mais longínquos; e, graças a ele, a ordem religiosa dos jesuítas acometeu a tarefa de propagar a devoção ao Coração de Jesus.
O eco destas revelações na vida da Igreja foi tão grande que o Beato Pio IX, no ano de 1856, proclamou a festa do Sagrado Coração de Jesus; e no ano de 1899, o Papa Leão XIII consagrou o Género Humano ao Sagrado Coração. Centenas de congregações religiosas dedicadas à educação dos jovens, à assistência aos anciãos e enfermos, às missões, nasceram neste tempo, inspiradas na espiritualidade do Coração de Jesus. Ao longo do Século XX, os Pontífices convidaram continuamente a recorrer ao Sagrado Coração como “principal indicador e símbolo do amor com que o divino Redentor ama continuamente o eterno Pai e todos os homens” (Pio XII, Enc. “Haurietis Aquas”).

A contemplação do Coração de Jesus fecunda hoje a Igreja com novos caminhos de santidade e apresenta-se aos homens do nosso tempo, tão necessitados da misericórdia divina, como um anúncio de esperança, para que, “sobre as ruínas acumuladas pelo ódio e a violência, se estabeleça a civilização do amor, o reino do Coração de Cristo” (João Paulo II, Mensagem ao Prepósito Geral da Companhia de Jesus, P. Peter Hans Kolvenbach, 5 de Outubro de 1986).

III. Consagrarmo-nos ao Coração de Jesus para permanecermos “Enraizados e edificados em Cristo e firmes na fé”(Col 2,7)

A Consagração ao Coração de Jesus é um acto com o qual nós, Jovens de todo o Mundo, presididos pelo Santo Padre, queremos dirigir o nosso olhar confiado a Jesus Cristo, para que nos ajude a viver “enraizados e edificados em Cristo e firmes na fé” (Col 2,7).

Trata-se de fazer reviver em nós a experiência do discípulo amado, que, contemplando o Coração aberto de Jesus na Cruz, crê no seu amor e se converte em sua testemunha. “Aquele que O viu, dá testemunho” (Jn 19,35).

É, portanto, um acto de fé. Ao consagrar-nos ao Coração de Jesus, o Santo Padre convida-nos a confessar a nossa fé: “Cremos firmemente que Jesus Cristo Se ofereceu na Cruz para nos doar o seu amor; na sua paixão, carregou os nossos sofrimentos, assumiu sobre Si os nossos pecados, obteve-nos o perdão e reconciliou-nos com Deus Pai, abrindo-nos o caminho da vida eterna” (Mensagem JMJ). Esta confissão fazemo-la, não só a partir do conhecimento das verdades que professamos, mas também como fruto de uma relação pessoal com Cristo, que se estabelece a partir da confiança no Amor do seu Coração. Além disso, esta profissão de fé realizamo-la unidos ao Papa, aos bispos e pastores da Igreja, significando que “a nossa fé pessoal em Cristo […] está ligada à fé da Igreja” (Mensagem JMJ). É no “coração da Igreja” que podemos experimentar o latejar do Coração de Cristo.

É, em segundo lugar, um acto de esperança. Não só nos consagramos, cada um de nós, ao seu Coração, mas também a todos nós, “todos os jovens do mundo”, nos confia o Papa. Nos jovens do presente encontra-se a esperança do futuro da Igreja e da humanidade. Com esta consagração, nós, os jovens, exprimimos com o Papa que “sem Cristo, morto e ressuscitado, não há salvação”, que “só Ele pode libertar o mundo do mal e fazer crescer o Reino de Justiça, de paz e de amor a que todos aspiram” (Mensagem JMJ). Unidos num “só Coração”, pedimos com toda a Igreja: “Vem, Senhor Jesus”, ajuda-nos a nós, jovens do Terceiro Milénio, a ser artífices da Civilização do Amor, que se constrói “onde as pessoas e os povos acolhem a presença de Deus, O adoram na verdade e ouvem a sua voz” (Mensagem JMJ).

Por último, a consagração é um acto de amor. Nós, jovens do terceiro Milénio, tal como o apóstolo Tomé, queremos “ter um contacto sensível com Jesus, meter, por assim dizer, a mão nos sinais da sua Paixão, os sinais do seu amor” (Mensagem JMJ). Ao consagrarmo-nos, “tocamos Jesus”, renovando a graça do nosso baptismo, com que fomos introduzidos plenamente nesse Amor. Afiança-se em nós o desejo de beber constantemente nas fontes de onde brota a vida divina que são os Sacramentos, especialmente a Eucaristia e o Sacramento do Perdão. E, por último, introduzimo-nos no seu olhar misericordioso, para poder estar sempre junto dos mais pobres e enfermos, sendo para eles manifestação palpável do Amor de Deus.

Tal como o discípulo amado, também nós somos convidados a “acolher Maria na nossa casa”. A consagração ao Coração de Jesus, realizamo-la tendo a Virgem como especial intercessora e medianeira. Ela, que “acolheu com fé a palavra de Deus”, ensina-nos a crer no Amor, a confiarmo-nos a Ele e a ser seus testemunhas entre os homens nossos irmãos

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O MUNDO À NOSSA VOLTA

Nada faltará


António Valério, s.j.


O nosso país vive em tempo de incerteza e preocupação, pela situação económica que se tem vivido ao longo dos últimos tempos e que, agora, chega ao ponto da aplicação das medidas que visam resolver estes problemas, sobretudo no cumprimento dos acordos internacionais estabelecidos.

Não se adivinham tempos fáceis e, por isso, a cada cidadão e, particularmente, aos cidadãos cristãos, é pedido um maior esforço de adoptar atitudes e modos de estar na vida que façam destes tempos uma oportunidade de mostrar algo diferente. Somos quase obrigados a adoptar um estilo de vida mais simples, mais despojado, de viver com aquilo que se tem. Somos desafiados a ter um olhar atento às necessidades dos outros, sobretudo os mais pobres, que acabam por ser sempre mais afectados com estas situações.

Já é conhecida a capacidade que as pessoas simples têm de ajudar quem mais precisa. De facto, um dos sinais da pobreza interior é a capacidade de acolher, de ajudar e de sair de si. Não é por ter menos que se é menos. Acredito que, pelo contrário, o ter menos é oportunidade de ser mais, de olhar para o que se tem como dom, de ir percebendo que as coisas essenciais não têm preço nem se guardam em cofres. A simplicidade de vida leva a um aumento da qualidade das relações, de uma maior gratuitidade e serviço.

É muito importante que a atitude cristã do agradecimento e do serviço sejam a pauta para um modo diferente de estar na sociedade. O grande valor de uma sociedade são as pessoas e as relações justas que se estabelecem entre elas. E é neste campo que os cristãos têm uma enorme missão. Mesmo que os ratings ponham a auto-estima nacional a níveis muito baixos, não é por isso que não vamos deixar que a nossa qualidade humana cresça. Pelo contrário, é a resposta mais urgente.

Nestes últimos dias, foi muito significativo o impacto que a morte de Maria José Nogueira Pinto teve nos meios de comunicação, sobretudo o seu “testamento” publicado no Diário de Notícias. Na sua luta contra a doença e o limite, apresenta um extraordinário testemunho de uma cristã implicada no serviço público, sem preconceitos em afirmar a sua fé e confiando absolutamente n’Aquele que nunca faltará. Na crise, no «lixo», nas dificuldades, a confiança em Deus é aquilo que mostra o quanto um cristão é capaz de superar a adversidade com um modo nada ingénuo, mas muito lúcido, de estar na vida.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Papa convida a levar o Evangelho na mala das férias

Numa altura em que muitas pessoas começam a gozar as suas férias, o Papa Bento XVI deixou um conselho, no sentido de o Evangelho não ser esquecido durante este período.

«Deixemos amplo espaço à leitura da Palavra de Deus, em particular do Evangelho, que vocês não deixarão de levar nas vossas malas estas férias», disse, recentemente, na saudação em francês proferida após a recitação do Angelus.

terça-feira, 5 de julho de 2011

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O MUNDO À NOSSA VOLTA

O MUNDO À NOSSA VOLTA
«Descansai um pouco» (Marcos 6, 31)

A. da Costa Silva, s.j.

É convite de Jesus aos seus discípulos, depois duma actividade apostólica que os encantou mas também cansou. Convite, certamente, oportuno para começos de férias, depois de um ano de trabalho mais ou menos cansativo; tempo de calor, de exposição ao Sol e de busca de sombras e brisas refrescantes.

Tempo de paragem, num mundo cansado e explorado até aos limites dos seus recursos, contaminado nas fontes, envelhecido e por vezes revoltado por lhe exigirem aquilo que não pode dar à nossa sociedade de consumo. Um mundo cansado e de pessoas cansadas que não encontram o futuro porque perderam o passado, que não encontram a esperança porque perderam a fé, e, por isso, vagueiam desorientadas no presente. Quais náufragos, agarram-se a não sei quê, porque o não sei quê é a única tábua de salvação, ela mesma perdida nas ondas da vida, vagueando dum lado para o outro, sempre a fugir à esperança que a quer agarrar. O seu rumo é incerto e caprichoso, indo e vindo ao sabor das ondas, ora subindo na sua crista, ora mergulhando na onda cavada onde se esconde para aparecer novamente não se sabe onde. Enfim, um mundo cansado de pessoas cansadas onde a tábua de salvação também já desistiu de encontrar o rumo, limitando-se, abandonada, a andar dum lado para o outro, à superfície, se possível, sem sentido nem tino. Em palavras de Jesus: «Afadigadas e abatidas como ovelhas sem pastor» (Mateus 9, 36). Tempo de férias, tempo de paragem que bem pode ser aproveitado para uma reflexão serena sobre a vida pessoal e colectiva que levamos e sobre o sentido que lhe estamos a dar.

Mas tempo também para tratar das nossas sedes e fomes. «Todos vós que tendes sede, vinde beber desta água, mesmo os que não têm dinheiro»; «comprai trigo para comer sem pagar nada; levai vinho e leite, que é de graça». Estou a citar Isaías 55, 1-2. Convite gratificante para tempo em que o calor aperta e as pessoas debandam para as praias em busca de água que refresque as sedes e descanse os cansaços. Convite que contrasta com outros convites e ofertas sedutoras, mas que esmagam as contas bancárias já em si mesmas esmagadas. Convite que não coloca problemas económicos nem agrava a crise actual. É convite para nascentes de água ainda por contaminar; é convite para alimento que o dinheiro não alimenta nem sacia. Convite, afinal, para matar a sede das origens de nós próprios. Águas de nascente para a «nascente» da vida onde as nossas sedes e cansaços se podem verdadeiramente dessedentar.

Cristo espera-nos em tempo de férias. Não faltam pubs, boites e restaurantes com anúncios luminosos convidando a bons petiscos e pratos regionais à mistura com bebidas requintadas e exóticas. Em contraste, por vezes mesmo ao lado, uma igreja modesta, talvez uma capelinha envergonhada, mas de portas abertas, albergando frescura, silêncio e paz, esconde a Casa de Deus onde o Senhor nos espera com o seu convite: «Quem tem sede, venha a Mim e beba»! Entremos, porque lá corre normalmente brisa refrescante e sombra reconfortante. «Descansai um pouco», diz o Senhor aos seus discípulos. E se, entretanto, acontecer alguma Eucaristia, aproveitemos também o momento para matar as nossas fomes com o Pão da Vida que Ele diz e quer ser. Não nos arrependeremos, garanto.

Nota: Este ano, o mês de Julho abre com a Festa/Solenidade do Sagrado Coração de Jesus. O pensamento leva-me para o Calvário onde Jesus morre com sede («Tenho sede!» – João 19, 28), precisamente à mesma hora de calor em que anos antes O encontrámos sentado e cansado junto ao Poço de Jacob, com fome e sede. Da fome foram tratar os seus discípulos à aldeia mais próxima; da sede tratará a Samaritana que vem a caminho, também ela cheia de sede, outra sede. Duas sedes que se matam reciprocamente com duas águas. Dá-Me da tua água que Eu te darei da minha, pede-lhe o Senhor. No Calvário, uma lança deixa-Lhe o Coração aberto e a brotar «sangue e água» (João 19, 34), qual fonte de Água Viva onde podemos matar as nossas sedes, neste tempo de sede e calor. Assim o queiramos. Boas Férias