sábado, 28 de janeiro de 2012

À PROCURA DA PALAVRA

À PROCURA DA PALAVRA
DOMINGO IV COMUM
“Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade….” Mc 1, 27
A autoridade que atrai
O pai, interpretado por George Clooney no filme “Os Descendentes, que, inesperadamente, tem de cuidar das duas filhas porque a mulher teve um grave acidente, surpreende-se com a pouca autoridade que tem sobre elas. Irá descobrir que a autoridade tem a ver com convicções, com a referência a valores fundamentais e comunitários, com a profundidade da relação, e até com a importância das raízes familiares. Mas a autoridade é diferente do autoritarismo. A primeira tem em conta o interlocutor, é uma proposta de crescimento, algo que desacomoda mas que também atrai; o segundo é afirmação de força e domínio, impõe sem convencer, nada faz para tornar credíveis as convicções que defende.
A autoridade de Jesus incomodava e atraía. Certamente ninguém adormecia quando ele falava ou tinha o pensamento noutro lado. Logo no início do evangelho de Marcos (ainda estamos no primeiro capítulo) participamos na força transformadora da sua palavra. Imaginamos os olhos a brilhar dos ouvintes, mas também o incómodo da religião de subsistência, dos ritos vazios de vida, da ideia de um Deus distante ou indiferente ao quotidiano. Que dizia Jesus de novo, com que palavra expressava o amor, mas também como semeava o projecto que Deus tem para todos, como maravilhava quem O escutava?
É curioso como o homem com o “espírito impuro” estava calmo e integrado na assembleia até ouvir Jesus. Talvez fosse um dos mais “praticantes”, habituado a uma religião que “não aquecia nem arrefecia”. A palavra viva de Jesus faz revelar a prisão daquele homem. E liberta-o com a mesma palavra. Não é uma mudança fácil (é agitado violentamente, solta um forte grito) mas tem o sabor de uma recriação. É a bondade de Deus em movimento, capaz de devolver a verdadeira liberdade que compromete, que leva a descobrir a vida nova em Cristo, que faz nascer e crescer a fé como motor de transformação do mundo.
Por estes dias Mons. Fernando Sebastián, Arcebispo emérito de Pamplona e Tudela, falando aos padres de Lisboa nas Jornadas de Formação Permanente sobre a “Nova Evangelização”, afirmou-a como “a acção pastoral que se ordena directamente a fortalecer a fé dos que crêem (muitos afastados, débeis, feridos…) e a fomentar, provocar a fé dos que não crêem, que desertaram da Igreja ou nunca acreditaram. Isto significa uma redescoberta da fé como raiz da vida cristã. Temos de superar a pastoral utilitária (…) a dispersão. Parecemos a Igreja dos centenários, das solenidades. A fé é conversão a Deus, a Jesus Cristo, à vida eterna, ruptura com o modo de ser do mundo, comunhão com a Igreja. Não podemos conformar-nos com menos.” A autoridade tem a ver com o “mais” do amor: e isso atrai!
P. Vitor Gonçalves

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Indicações do Vaticano para preparar o Ano da Fé




A celebrar entre 11 de Outubro de 2012 e 24 de Novembro de 2013 –, indicações essas que, segundo o documento, «desejam favorecer tanto o encontro com Cristo por meio de autênticas testemunhas da fé, quanto o conhecimento sempre maior dos seus conteúdos». O documento foi redigido «por ordem do Papa Bento XVI», «em acordo com os Dicastérios competentes da Santa Sé e com a contribuição do Comité para a Preparação do Ano da Fé. «O Ano da Fé quer contribuir para uma conversão renovada ao Senhor Jesus e à redescoberta da fé, para que todos os membros da Igreja sejam testemunhas credíveis e alegres do Senhor ressuscitado no mundo de hoje, capazes de indicar a “porta da fé” a tantas pessoas que estão em busca». A Congregação lembra que o início deste Ano da Fé coincide com «a grata recordação de dois grandes eventos que marcaram a face da Igreja nos nossos dias»: os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II e o vigésimo aniversário da promulgação do Catecismo da Igreja Católica. «Cada iniciativa para o Ano da Fé quer favorecer a alegre redescoberta e o testemunho renovado da fé» e as indicações oferecidas na Nota visam «convidar todos os membros da Igreja ao empenho, a fim de que este Ano seja a ocasião privilegiada para partilhar aquilo que o cristão tem de mais caro: Cristo Jesus, Redentor do homem, Rei do Universo, “autor e consumador da fé”». O organismo da Santa Sé lembra que «a fé é um acto pessoal e ao mesmo tempo comunitário: é um dom de Deus que deve ser vivenciado na grande comunhão da Igreja e deve ser comunicado ao mundo». Celebração a nível universal, nacional e local Na Nota são apresentadas sugestões para a celebração do Ano da Fé ao nível da Igreja universal, das conferências episcopais, das dioceses e das paróquias, comunidades, associações e movimentos No âmbito da Igreja universal, o documento refere que o principal evento eclesial no início do Ano da Fé é a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada por Bento XVI para Outubro de 2012, sobre a Nova evangelização para a transmissão da fé cristã, durante a qual tem lugar uma celebração solene de inauguração do Ano da Fé Durante este período «devem-se encorajar as romarias dos fiéis à Sé de Pedro», «será importante favorecer também as romarias à Terra Santa» e, procurando «encorajar qualquer iniciativa que ajude os fiéis a reconhecer o papel especial de Maria no mistério da salvação», «será muito conveniente organizar romarias, celebrações e encontros junto dos maiores Santuários». O documento aponta ainda a realização de simpósios, congressos e encontros «de grande porte, também a nível internacional», e a organização de «várias iniciativas ecuménicas» Num âmbito mais restrito, a Nota defende que as conferências episcopais dediquem «uma jornada de estudo ao tema da fé, do seu testemunho pessoal e da sua transmissão às novas gerações». Além disso, «será útil favorecer a republicação dos Documentos do Concílio Vaticano II, do Catecismo da Igreja Católica e do seu Compêndio, também em edições de bolso» e espera-se um «esforço renovado para traduzir os documentos do Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja Católica nas línguas em que ainda não existem». Aproveitando as potencialidades dos novos meios de comunicação, os Pastores devem empenhar-se em «promover transmissões televisivas ou radiofónicas, filmes e publicações, também a nível popular e acessíveis a um grande público, sobre o tema da fé, dos seus princípios e conteúdos, como também sobre o significado eclesial do Concílio Vaticano II». No âmbito diocesano, «deseja-se uma celebração de abertura do Ano da Fé e uma solene conclusão do mesmo a nível de cada Igreja particular» e propõe-se que em cada diocese do mundo se organize uma jornada sobre o Catecismo da Igreja Católica, «convidando especialmente os sacerdotes, as pessoas consagradas e os catequistas». Além disso, cada Bispo poderá dedicar uma Carta Pastoral «ao tema da fé, recordando a importância do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica», e deseja-se que em cada diocese se organizem momentos de catequese dirigidos aos jovens e aos que procuram um sentido para a vida. «Os Bispos são convidados a organizar, especialmente no período da Quaresma, celebrações penitenciais nas quais se peça perdão a Deus, também e particularmente, pelos pecados contra a fé. Este Ano será também um tempo favorável para se aproximar com maior fé e maior frequência do sacramento da penitência». A fala ainda no «envolvimento do mundo académico e da cultura por uma renovada ocasião de diálogo criativo entre fé e razão por meio de simpósios, congressos e jornadas de estudo, especialmente nas universidades católicas» e em aproveitar-se o Ano da Fé para «prestar uma maior atenção às escolas católicas, lugares próprios para oferecer aos alunos um testemunho vivo do Senhor». Finalmente, ao nível das paróquias, comunidades, associações e movimentos, a Congregação começa por dizer que, preparando o Ano da Fé, «todos os fiéis são convidados a ler e meditar atentamente a Carta Apostólica Porta fidei», de Bento XVI. Este Ano é uma «ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia». Os sacerdotes podem prestar mais atenção ao estudo dos documentos do Concílio e do Catecismo da Igreja Católica, tirando daí fruto para a pastoral paroquial». Os catequistas devem aproveitar a «riqueza doutrinal» do Catecismo e as paróquias devem ter um «empenho renovado na difusão e na distribuição do Catecismo da Igreja Católica ou de outros subsídios adequados às famílias». Os membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica são desafiados a empenhar-se «na nova evangelização, com uma adesão renovada ao Senhor Jesus», as comunidades contemplativas «dedicarão uma intenção de oração especial para a renovação da fé no Povo de Deus e para um novo impulso na sua transmissão às jovens gerações» e as associações e movimentos eclesiais são convidados a promover iniciativas específicas que, «pela contribuição do próprio carisma e em colaboração com os Pastores locais, sejam inseridas no grande evento do Ano da Fé

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O MUNDO À NOSSA VOLTA


Sim e exactamente por isso. Erick Erickson construiu a teoria do desenvolvimento psico-social dos indivíduos a partir de etapas que não são mais do que ultrapassagens das diversas crises por onde o ser humano tem de passar para crescer. De outra maneira ficaríamos sempre crianças. Talvez se possa dizer o mesmo a respeito das sociedades. Se soubermos aproveitar o momento difícil em que nos encontramos, podemos sair dele mais doridos, mas também mais amadurecidos. A crise é sempre um choque com a realidade, que nos obriga não só a parar, mas também a “reparar” (“re-parar”) quer no sentido de “prestar atenção” ao que nos está a acontecer (pensar, reflectir), quer no sentido de corrigir/reparar trajectórias de vida, refazer projectos, reconstruir futuros, tomando as decisões necessárias para seguir em frente. Neste aspecto, é uma porta aberta e uma ocasião favorável à esperança que está do outro lado da crise em busca de resposta, quando não escondida dentro da mesma crise e, neste caso, à espera que a acordem. A realidade não muda, ou só muda na medida em que mudarmos nós. E mudarmos, em primeiro lugar, a nossa concepção de vida, para depois mudarmos a nossa concepção de esperança e os caminhos para a atingir. Temos muito que resolver ao nível da vida que levámos, da esperança que a alimentou e dos caminhos percorridos. Andámos a viver na lua, confundindo sonho com vida e esperança com miragens; agora caímos na dureza da realidade. Mas atenção! Não basta mudar de vida, como pretendem alguns, no sentido de viver com menos, adaptando o seu estilo às posses económicas, nem tão pouco mudar a nossa concepção de esperança, sonhando menos e duma forma mais realista. Mais do que mudar de vida, precisamos de mudar a vida, dando-lhe novos conteúdos e enchendo-a de valores autênticos, como sublinharam alguns dos nossos bispos nas homilias do Natal, apelando à recuperação dos valores espirituais e morais na nossa vida comum. E mais do que sonhar menos esperança, precisamos de conquistá-la, buscando-a no caminho onde ela se encontra, porque acertar com a verdadeira esperança é acertar com o caminho que a ela conduz.
Há quem olhe a crise como tempo de espera, como se fosse uma onda gigantesca que nos assusta ao passar por cima de nós, mas que acabará por seguir em frente rumo à praia, para depois retomarmos a vida do costume. É querer que ela passe por nós (aguentar), quando nós é que temos de passar pela crise e sair dela com a lição aprendida, ou seja, sabendo pelo menos que temos de mudar o caminho que nos trouxe até aqui. Parece claro que outro terá de ser o rumo a dar às nossas vidas.
Chamou-me a atenção a mensagem natalícia do Cardeal Patriarca de Lisboa, ao falar da necessidade duma nova etapa da civilização em que se desse prioridade aos valores do espírito e não apenas ao dinheiro, apontando o caminho de Belém com uma pergunta no seu título: “E se o Natal nos ajudasse a enfrentar a crise?”. Pergunta provocadora às nossas vidas e convite desafiante a pormo-nos a caminho de Belém e do Presépio, ao encontro dum Deus Menino, duma família acolhedora e duma vida mais simples, mas certamente mais aquecida e humana. Talvez esteja aqui a nova etapa da civilização de que falava D. José Policarpo na sua mensagem de Natal: uma civilização assente e construída a partir de Deus, da Família e da pobreza/riqueza partilhadas. Temos muito a aprender com o Natal e o Presépio. Os magos, diz-nos Mateus, foram até lá e, oferecendo o melhor que tinham, regressaram ao seu país “por outro caminho”. É esse “outro caminho” que temos de percorrer, de regresso à nossa realidade pequena e ao nosso país pobre.
Esperança em tempo de crise? Sim, se tivermos a coragem de ir pelo caminho que traz “vida nova” para que haja “ano novo” e um virar de página nas agruras que nos esperam.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

PARA A CELEBRAÇÃO DO ANO DA FÉ

 Congregação para a Doutrina da Fé publicou uma Nota com indicações pastorais para o Ano da Fé – a celebrar entre 11 de Outubro de 2012 e 24 de Novembro de 2013 – , indicações essas que, segundo o documento, «desejam favorecer tanto o encontro com Cristo por meio de autênticas testemunhas da fé, quanto o conhecimento sempre maior dos seus conteúdos». Na Nota são apresentadas sugestões para a celebração do Ano da Fé, ao nível da Igreja universal, das conferências episcopais, das dioceses e das paróquias, comunidades, associações e movimentos. No âmbito da Igreja universal, o documento refere que o principal evento eclesial no início do Ano da Fé é a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, convocada por Bento XVI para Outubro de 2012, sobre a Nova evangelização para a transmissão da fé cristã, durante a qual tem lugar uma celebração solene de inauguração do Ano da Fé. Durante este período «devem-se encorajar as romarias dos fiéis à Sé de Pedro», «será importante favorecer também as romarias à Terra Santa» e, procurando «encorajar qualquer iniciativa que ajude os fiéis a reconhecer o papel especial de Maria no mistério da salvação», «será muito conveniente organizar romarias, celebrações e encontros junto dos maiores Santuários». O documento aponta ainda a realização de simpósios, congressos e encontros «de grande porte, também a nível internacional», e a organização de «várias iniciativas ecuménicas». Num âmbito mais restrito, a Nota defende que as conferências episcopais dediquem «uma jornada de estudo ao tema da fé, do seu testemunho pessoal e da sua transmissão às novas gerações». Além disso, «será útil favorecer a republicação dos Documentos do Concílio Vaticano II, do Catecismo da Igreja Católica e do seu Compêndio, também em edições de bolso» e espera-se um «esforço renovado para traduzir os documentos do Concílio Vaticano II e o Catecismo da Igreja Católica nas línguas em que ainda não existem». Aproveitando as potencialidades dos novos meios de comunicação, os Pastores devem empenhar-se em «promover transmissões televisivas ou radiofónicas, filmes e publicações, também a nível popular e acessíveis a um grande público, sobre o tema da fé, dos seus princípios e conteúdos, como também sobre o significado eclesial do Concílio Vaticano II». No âmbito diocesano, «deseja-se uma celebração de abertura do Ano da Fé e uma solene conclusão do mesmo a nível de cada Igreja particular» e propõe-se que em cada diocese do mundo se organize uma jornada sobre o Catecismo da Igreja Católica, «convidando especialmente os sacerdotes, as pessoas consagradas e os catequistas». Além disso, cada Bispo poderá dedicar uma Carta Pastoral «ao tema da fé, recordando a importância do Concílio Vaticano II e do Catecismo da Igreja Católica», e deseja-se que em cada diocese se organizem momentos de catequese dirigidos aos jovens e aos que procuram um sentido para a vida. «Os Bispos são convidados a organizar, especialmente no período da Quaresma, celebrações penitenciais nas quais se peça perdão a Deus, também e particularmente, pelos pecados contra a fé. Este Ano será também um tempo favorável para se aproximar com maior fé e maior frequência do sacramento da penitência». A Nota fala ainda no «envolvimento do mundo académico e da cultura por uma renovada ocasião de diálogo criativo entre fé e razão por meio de simpósios, congressos e jornadas de estudo, especialmente nas universidades católicas» e em aproveitar-se o Ano da Fé para «prestar uma maior atenção às escolas católicas, lugares próprios para oferecer aos alunos um testemunho vivo do Senhor». Finalmente, ao nível das paróquias, comunidades, associações e movimentos, a Congregação começa por dizer que, preparando o Ano da Fé, «todos os fiéis são convidados a ler e meditar atentamente a Carta Apostólica Porta fidei», de Bento XVI. Este Ano é uma «ocasião propícia também para intensificar a celebração da fé na liturgia, particularmente na Eucaristia». Os sacerdotes podem prestar mais atenção ao estudo dos documentos do Concílio e do Catecismo da Igreja Católica, «tirando daí fruto para a pastoral paroquial». Os catequistas devem aproveitar a «riqueza doutrinal» do Catecismo e as paróquias devem ter um «empenho renovado na difusão e na distribuição do Catecismo da Igreja Católica ou de outros subsídios adequados às famílias». Os membros dos Institutos de Vida Consagrada e das Sociedades de Vida Apostólica são desafiados a empenhar-se «na nova evangelização, com uma adesão renovada ao Senhor Jesus», as comunidades contemplativas «dedicarão uma intenção de oração especial para a renovação da fé no Povo de Deus e para um novo impulso na sua transmissão às jovens gerações» e as associações e movimentos eclesiais são convidados a promover iniciativas específicas que, «pela contribuição do próprio carisma e em colaboração com os Pastores locais, sejam inseridas no grande evento do Ano da Fé».

A Igreja e a Maçonaria

Tudo opõe a filosofia maçónica e a religião católica
1 — Historicamente

Cada um sabe quem foi São Pedro, chefe dos Apóstolos, primeiro bispo de Roma, a quem Jesus confiou a sua Igreja.
As origens da maçonaria são muito mais escuras. No entanto, historiadores admitem que a sua criação resultou da transformação e fusão de quatro lojas da maçonaria operativa (a dos construtores de catedrais) em Londres, em 1717, sob o impulso de dois pastores protestantes, James Anderson (presbiteriano) e Jean-Théophile Desaguliers (anglicano), e sob a influência discreta de Isaac Newton, cientista famoso mas herético notório, adito à magia e à alquimia, e admirador de Nostradamus e… dos filósofos da Luz — o que é pelo menos contraditório !
Aliás, as Constituições fundadoras, ditas de Anderson (1723), só mencionam Deus uma única vez, num título, e nunca a Santíssima Trindade, ou o pecado, ou a salvação, a Ressurreição, a Ascenção ou o Pentecostes (isto é, a descida do Espírito Santo).
Em França, a maçonaria surge logo em 1725, designadamente em Bordéus : nela aparece filiado Montesquieu ; e todos os seus membros — fidalgos, grandes burgueses, eclesiásticos até — são galicanos, isto é, opostos à preeminência do bispo de Roma, o Papa, sobre os outros bispos.
Como já disse, a maçonaria, seja ela operativa ou especulativa, é uma ressurgência da gnose, sistema de pensamento já condenado por Santo Ireneu no séc. II, mas cuja influência permanece viva em todas as ordens iniciáticas.
2 — As origens
Para o cristianismo, a origem é o kerigma, isto é, o anúncio público, por testemunhas oculares (entre as quais o Apóstolo São João), da morte e ressurreição de Jesus para a nossa salvação.
Para a maçonaria, a origem são as fábulas, os mitos, entre os quais o mito central de Hiram, arquitecto do templo de Salomão, que teria sido morto por três maus companheiros — uma lenda desprovida de toda a base escriturária ou histórica, como o é também a da pretensa transmissão por São João de um ensinamento secreto de Jesus transmitido pelas ordens de cavalaria, passando pelos Templários, com um lapso de mais de mil anos…
Ora, Jesus, falando perante o Sinédrio, declarou : « Falei ao mundo abertamente, sempre ensinei nas Sinagogas e no Templo (…) e não disse nada em segredo » (S. João 18, 20).
Mais inverosímil ainda é a hipótese de uma transmissão secreta de ritos iniciáticos desde a antiguidade egípcia até aos maçons modernos, hipótese recentemente espalhada pelo talentoso romancista maçon, Christian Jacq.
3 — Os fundamentos
O cristianismo é uma religião revelada pelo próprio Deus, primeiro a Moisés, depois por e em Jesus Cristo, o Messias. Comporta um certo número de dogmas, isto é, de pontos doutrinais essenciais, enunciados no Credo, que um católico bem formado e coerente não pode contestar sem renegar a sua Fé : Deus trinitário, Encarnação, Ressurreição, Ascensão, Imaculada Conceição e Assunção da Virgem Maria.
A Igreja afirma, na base da Revelação (Escritura e Tradição), deter a verdade sobre as relações entre Deus e o Homem.
Finalmente, o cristão apoia-se mais na graça misericordiosa de Deus do que nas suas próprias obras para conseguir a salvação.
Pelo contrário, a maçonaria advoga uma filosofia humanista, principalmente preocupada com o Homem, e dedicada, é certo, à procura da verdade, mas uma verdade que afirma ser finalmente inacessível. Rejeita liminarmente toda a ideia de uma revelação, bem como toda e qualquer espécie de dogma, defendendo o relativismo:
— relativismo religioso, ou indiferentismo, que coloca todas as religiões no mesmo plano, ao mesmo tempo que se eleva acima delas (já em 1723), como centro de união ;
— relativismo moral, uma vez que nenhuma regra ética é de origem divina e, portanto, definitiva e intangível ; assim, a moral evolui consoante o consenso das sociedades.
O Papa Leão XIII, ao qualificar, em 1884, a maçonaria de « seita », define assim a atitude desta perante a moral : «Em todas as coisas, a natureza ou a razão deve ser mestra e soberana.»
Ora, é precisamente esta ideia que vemos defendida pelo antigo senador Henri Caillavet, maçon muito influente e ferrenho defensor da eutanásia : «Não existe moral universal, com fundamento divino; a moral é essencialmente contingente; evolui, não é transcendental; aquilo que é verdadeiro hoje será falso amanhã.»
Por outras palavras, e qualquer que seja a obediência, é sempre a independência do Homem em relação a Deus ; é a cidade terrestre como a define Santo Agostinho : «O amor de si mesmo levado até ao desprezo de Deus.»
A recusa da Revelação e da transcendência divina implica também, obviamente, a recusa de todo o fenómeno sobrenatural : teofanias, aparições, milagres.
4 — Os ensinamentos
Na Igreja Católica, os ensinamentos são acessíveis a todos : Catecismo da Igreja Católica, Actas dos Concílios, Encíclicas (dirigidas aos bispos, mas divulgadas urbi et orbi [à Cidade (Roma) e ao Mundo]).
Na maçonaria, uma formação esotérica, secreta, é dada aos iniciados conforme os seus graus, formação no decurso da qual são progressivamente revelados os mistérios supostamente escondidos pelos dignitários da religião exotérica, isto é os responsáveis da Igreja Católica Romana. (Sendo assim, poder-se-á perguntar porque é que as igrejas ortodoxas e as comunidades protestantes dissimularam os mesmos mistérios, já que combatem há tanto tempo a Igreja Romana ?)
Todos os rituais fazem reluzir aos olhos dos iniciados um pretenso «conhecimento» de uma pretensa «tradição primordial», prehistórica, e de uma «Luz» que, quando muito, será a de um melhor conhecimento de si mesmo pelo iniciado, mas, em caso nenhum, a da Transfiguração de Jesus no Monte Tabor (cf. S. Mateus 17, 1-9) ou a de um São Serafim de Sarov na presença de Motovilov , ou a de outros Santos.
5 — O próprio conceito de Deus é profundamente diferente
Para um cristão, Deus é um ser pessoal : três Pessoas num só Deus, que mantêm uma relação de amor com a criatura humana. É o que os teólogos chamam teísmo.
Para o maçon, Deus será, quando muito, «o Grande Arquitecto do Universo», ou «o Mestre Relojoeiro» (Desaguliers), imagens sem substância verdadeira, mas difundidas, em particular, por Voltaire, «iniciado » em idade provecta. Esta concepção é a do deísmo. A este Grande Arquitecto pede-se — assim se pode dizer — para não intervir nos assuntos dos homens. Aliás, nem sequer é mencionado nas Constituições de Anderson.
6 — A escatologia; os novíssimos
No cristianismo, o fim da vida é a Vida Eterna, concedida por graça, numa adoração e num louvor sem fim, face a face amoroso com o Senhor.
Na maçonaria, é a morte, chamada « passagem para o Oriente Eterno », a qual escapa a toda a definição ou descrição.
7 — O aperfeiçoamento do Homem
Para o cristão, o aperfeiçoamento consiste em caminhar, com o auxílio de Deus e dos sacramentos da Igreja, para a santidade, na imitação de Jesus Cristo, da sua humildade e caridade.
Para o maçon, é o acesso à elite dos iniciados, através dos graus sucessivos. É, segundo René Guénon, grande iniciado, e Mircea Eliade, historiador das religiões, uma forma de animismo. O « bem » nunca aparece definido, já que a moral evolui constantemente. Os maçons falam em « sinceridade », mas esta não é sinónimo de verdade. Na realidade, o maçon não passa de um self-made man. É alguém que se cria a si próprio, com a ajuda dos seus « irmãos », independentemente de toda a graça divina : isto relembra o pelagianismo, tão combatido, no seu tempo, por Santo Agostinho.
8 — A relação com as religiões
Para o católico, tem que haver respeito pelos crentes das outras religiões, na tolerância devida às pessoas que não foram ainda iluminadas pelo Espírito Santo, mas na preservação escrupulosa da doutrina da Igreja, transmitida pelos Apóstolos e pelos seus Sucessores ; é este o verdadeiro espírito do Encontro de Assis em 1986.
Para o maçon, a relação com as religiões baseia-se numa tolerância geral para com todas as crenças (e filosofias), com uma tendência nítida pelo sincretismo, isto é, pela combinação, nem sempre muito coerente, das diversas doutrinas espirituais — volta-se assim, mais uma vez, à gnose, que não passa de uma subversão da verdadeira Fé, de uma tentativa para tornar o sal da terra insípido.
9 — A relação com o corpo e com o prazer
Para o católico, esta relação não é puritana, como era, por exemplo, para os cátaros e para os jansenistas. Não o é, designadamente, nos escritos do Papa João Paulo II, que celebra o acto conjugal como um « verdadeiro acto de adoração » ; mas o uso do corpo e dos sentidos deve obedecer à consciência e à lei moral, e permanecer subordinado ao amor verdadeiro.
Para os maçons, a atitude face ao corpo e ao prazer deve ser de uma total liberdade (entre adultos coniventes) ; a maçonaria valoriza o prazer, e é este hedonismo que a tem levado a promover as leis favorecendo a libertinagem sexual, a homossexualidade, o divórcio, a contracepção, o aborto, os PACS’s, as manipulações de embriões e, até, a despenalização das drogas ditas leves, bem como a eutanásia. « É todo o conceito de família que está a afundar-se », disse um dia o Dr. Pierre Simon, médico, antigo Grão-Mestre da Grande Loja de França.
10 — A universalidade
Convém ainda referir a oposição entre o carácter universal da religião católica, que espera a conversão e a salvação de todos os homens, e o universalismo maçónico, que tem por objectivo o governo mundial (por iniciados), objectivo esse sustentado de modo subterrâneo por múltiplas organizações internacionais orientadas por maçons : Trilateral, Bilderberg, B’naï B’rith, etc..

11 — Conclusão

O católico não deve deixar-se seduzir pelos ideais maçónicos — os da República Francesa : Liberdade, Igualde, Fraternidade —, que não têm o mesmo sentido para um cristão e para um maçon.
A liberdade, para um cristão, é um meio concedido por Deus ao Homem para se dirigir para o bem e para o amor. Para um maçon, é um objectivo sem finalidade, que serve para deitar abaixo todos os tabús e todos os interditos da moral tradicional. Ora, como bem advertiu o Cardeal Ratzinger numa comunicação à Académie des Sciences Morales et Politiques, em Paris, em 1992 : « Uma liberdade cujo único conteúdo consistiria na possibilidade de satisfazer os seus desejos deixaria de ser uma liberdade humana : passaria a pertencer ao domínio animal. »
A igualdade, para os cristãos, resulta do facto de serem todos filhos de um mesmo Pai, e irmãos e irmãs de Jesus Cristo. Para um maçon, tal igualdade não passa de uma ilusão, já que há que distinguir entre profanos e iniciados, alguns destes pertencentes a numerosos graus — 33 nalguns ritos!
A fraternidade cristã é universal e traduz-se, de há muitos séculos a esta parte, por inumeráveis organizações caritativas e humanitárias fundadas em todo o planeta ; a dos maçons limita-se, ou concentra-se, no círculo restrito dos iniciados.
Recentemente (2 de Março de 2007), Mons. Gianfranco Girotti, secretário da Penitenciaria Apostólica, relembrou a condenação romana de 1983 : o católico filiado numa organização maçónica encontra-se « em estado de pecado grave » e « não pode ter acesso à comunhão », devido à incompatibilidade entre a fé cristã e a filosofia maçónica.
Em 20 de Setembro de 2007, D. Dominique Rey, bispo de Fréjus-Toulon, reafirmou esta incompatibilidade (cf. o seu livro, Peut-on être chrétien et franc-maçon ?, Paris, Salvator, 2007).
Já em Fevereiro de 1936, a vidente Marthe Robin (cuja processo de beatificação está presentemente em estudo em Roma) declarou ao Padre Georges Finet que « entre os erros que vão proximamente soçobrar, há o comunismo, o laicismo e a maçonaria » (cf. Raymond Perret, Prends ma vie, Seigneur : la longue messe de Marthe Robin, Paris, Desclée de Brouwer, 1985, p. 139). Efectivamente, o comunismo já não tem futuro. Rezemos, pois, para a conversão dos maçons, que se encontram no erro e nas trevas, quando julgam, com boa fé, ter recebido a «Luz»!
A Luz que ilumina todo o homem é Jesus Cristo, não é Lúcifer !
ORAÇÃO
Pai de infinita bondade, vês no segredo dos corações e das lojas. Sabes que muitos maçons, iludidos por uma filosofia enganadora, procuram vãs verdades. Liberta-os, Senhor, dos espíritos que os abusam. Que o Espírito Santo, Espírito de Verdade, abra a sua inteligência e o seu coração e lhes revele a Verdade prima e última, o Alfa e o Ómega, o teu Filho, Jesus Cristo, a sua Vida e os seus ensinamentos, a Boa Nova do teu Amor. Ámen.
Perguntas frequentes nas minhas conferências
P. Quais as razões que levaram o Padre Michel Riquet, jesuíta, a defender a maçonaria?
R. O Padre Riquet frequentou maçons no período da Resistência (1940-1945) ; alguns deles tornaram-se seus amigos ; nada mais natural. Mais tarde, ele aceitou, com toda a ingenuidade, um convite de uma loja, em Laval, em 1961, e ficou seduzido pela parte do ritual que aceitaram revelar-lhe, pois os maçons nunca mostram a totalidade do ritual a um profano. Não sei se ele tinha autorização dos superiores da Companhia de Jesus, mas o seu caso não foi único. Há outros jesuítas, ainda hoje, a defender a ideia de que é possível ser católico e maçon. Por exemplo, o Padre José António Ferrer Benimelli, historiador em Saragoça. O Padre Jean-Marie Glé, do serviço Incroyance et foi. O Padre Étienne Perrot, em Genebra (cf. o seu artigo em Croire aujourd’hui, de 15-4-2006), e outros. Confundem tolerância e sincretismo — uma « açorda » espiritual ! O diálogo é sempre desejável, mas não deve levar a abalar os fundamentos da Fé. Aliás, houve reuniões, nos anos 1970/1980, entre a Igreja Católica e as Grandes Lojas Unidas da Alemanha, e chegaram à conclusão, em ambos os lados, que não é possível, razoavelmente, pertencer, simultaneamente, à Igreja e à maçonaria. E o debate incidia apenas sobre os três primeiros graus da iniciação, por os maçons se terem recusado a abordar os graus superiores…
P. Já sofreu pressões ou ameaças por parte de maçons?
R. Sim. Mais precisamente depois da minha conversão e quando tinha ainda responsabilidades na Segurança Social. Recebi, até, uma ameaça de morte por parte de um responsável da Grande Loge de France, quando manifestei a minha intenção de apresentar queixa nos Prud’hommes [tribunal profissional]. Devo confessar que há, no entanto, idealistas incorrigíveis entre os maçons, como, por exemplo, este irmão 33.º grau que, depois de ler o meu primeiro livro, me escreveu : « Congratulo-me por teres encontrado a Luz que eu próprio procuro há tanto tempo!»
P. Já participou em missas negras?
R. Não, nunca. Mas sabe-se que tem havido profanações desse género, sobretudo no início do século xx. Basta ler os testemunhos da Madre Yvonne-Aimée de Jesus, prioresa-geral das agostinhas hospitaleiras de Malestroit, na Bretanha, a quem o próprio Jesus informava da presença de hóstias consagradas em casas de certos profanadores. Ela ia buscá-las, para grande espanto dos culpados . Por outro lado, fiquei bastante impressionado com o ritual da minha última iniciação, 18.º grau, Cavaleiro Rosa-Cruz : esta, com o nome de « Ceia », tem lugar na noite de Quinta-Feira Santa, com partilha de pão e de vinho, sem consagração felizmente ! O Senhor preservou-me de conhecer directamente os rituais dos graus superiores ; mas sei que no 30.º (Grande Eleito Cavaleiro Kadosh) — e isto foi também confirmado por D. Joseph Stimpfle, bispo de Augsburgo, que participou nas já referidas reuniões, na Alemanha —, o iniciado lança no chão a tiara do Papa.
P. Será possível definir a maçonaria como uma seita?
R. É a designação que lhe dá o Papa Leão XIII, na sua encíclica Humanum genus (1884). No que diz respeito às lojas de base, não se pode falar em seita, porque o seu funcionamento é democrático, em todos os níveis da pirâmide hierárquica. Agora, os altos graus funcionam por cooptação e com progressivo secretismo. A influência intelectual e psicológica dos graus superiores sobre os inferiores induz um « efeito Janis » , ou pensamento gregário, em que cada um tende a conformar-se com o « espírito da casa » para aceder aos escalões superiores. Seja como for, é pouco provável que a maçonaria venha a ser catalogada como seita, pois, em França, a UNADFI (Union Nationale des Associations de Défense des Familles et de l’Individu Victimes des Sectes), que combate as seitas, é presidida por Catherine Picard, filiada na maçonaria!
P. É possível deixar de ser maçon?
R. As Constituições e Regulamentos prevêem a possibilidade de abandonar as lojas de base, e também os altos graus, mas, na realidade, o maçon que se demite volta a ser constantemente contactado ; os responsáveis da loja vêm dizer-lhe que as iniciações o marcaram de maneira indelével — o que é falso —, e que poderá, a todo o momento, retomar o seu lugar « sobre as colunas », sem ser obrigado a recomeçar as iniciações — o que é verdade. Eu próprio, fui contactado por ex-amigos e irmãos, que me diziam que a minha conversão não impedia o meu regresso à loja. A minha resposta deixava-os sem voz : « O que é que havia de encontrar agora na loja, eu que encontrei Jesus Cristo ? » Mas os maçons comprometidos em casos políticos ou financeiros podem ser sujeitos a chantagem por parte dos seus « irmãos » e hesitar em deixá-los por medo das represálias. Em todo o caso, são raros os que ousam dizer publicamente que abandonaram as lojas. Conhece-se o caso do Reverendo Michel Viot, protestante, que se tornou padre da Igreja Católica depois de abandonar a maçonaria.
P. A este propósito, porque é que as relações entre o protestantismo e a maçonaria não são conflituosas?
R. Primeiro, porque a maçonaria moderna foi fundada por dois pastores protestantes, um anglicano e o outro presbiteriano, e porque, durante muito tempo, os dignitários das comunidades anglicanas tiveram responsabilidades na maçonaria anglo-saxónica. Assim, o rei de Inglaterra é, de direito, Grão-Mestre da maçonaria (a actual rainha faz-se representar pelo duque de Kent, pois a maçonaria inglesa não admite mulheres sobre as suas « colunas »). Convém, no entanto, referir que, ultimamente, a High Church tem desaconselhado a dupla filiação, a exemplo da Igreja Romana. Por outro lado, a independência de consciência do maçon em relação a Deus coaduna-se muito bem com o livre exame do protestante, de maneira que estes são bastante numerosos nas lojas. Os judeus também.
P. Existe alguma aliança entre o judaismo e a maçonaria?
R. Católicos integristas defendem a ideia de uma conspiração judeo-maçónica para a conquista do mundo ; não acredito nisto, nem no famoso Protocolo dos Sábios de Sião, que não passa de uma falsificação escrita por um russo mais que iluminado. Tão-pouco se deve dar crédito às Instruções da maçonaria aos bispos maçons : a pobreza do texto basta para o desacreditar ; não é digno nem dos bispos nem dos maçons. O facto de a maçonaria estar a ser frequentemente instrumentalizada por Satanás não nos deve levar a diabolizá-la exageradamente, pois o que é excessivo é insignificante ; basta recomendar aos católicos que não entrem na maçonaria, pois nela não há qualquer espécie de vantagem espiritual que se possa encontrar… A não ser que se procurem vantagens materiais… mas com prejuízo da sua alma.
P. Haverá ligações entre a maçonaria e clubes como o Rotary Club e o Lion’s Club ?
R. Não se pode negar que estes clubes foram criados nos Estados Unidos da América por maçons dos altos graus (que encontramos também na origem dos Mormons e das Testemunhas de Jeová). Nestes clubes, de fachada mundana e aparência inócua, existe um certo número de maçons encarregados de aliciar discretamente as individualidades «interessantes».
P. Como é que os maçons se reconhecem uns aos outros?
R. Conforme os graus, o iniciado aprende « sinais e toques » que lhe permitem reconhecer os irmãos numa assembleia de profanos. São saudações especiais, apertos de mão significativos… Por outro lado, na maioria das cidades francesas, os mestres dispõem de um pequeno guia com os nomes e os endereços dos irmãos que podem servir de albergue. Podem também inserir na sua assinatura pequenos sinais que o iniciado reconhece facilmente.
P. Quais são as relações entre a maçonaria e o islão?
R. Tirando alguns intelectuais árabes a viver nos países ocidentais, os muçulmanos não têm a ingenuidade, ou a inconsideração, de quererem entrar na maçonaria… Os únicos países muçulmanos onde houve lojas maçónicas foram o Líbano, devido ao seu cosmopolitismo, o Egipto, no tempo da ocupação inglesa, e a Turquia, mais ocidentalizada do que os seus vizinhos.
P. Qual foi a situação da maçonaria durante a ocupação da França pelos nazis?
R. O governo de Vichy proibiu a maçonaria e ordenou perquisições nas lojas ; os arquivos viriam a ser encontrados, mais tarde, na Alemanha… Maçons foram presos e deportados. Isso explica a animosidade dos maçons em relação ao regime de Vichy e o seu acentuado secretismo depois da Libertação.
P. Os rituais da maçonaria comportam elementos de magia, de ocultismo ?
R. Sim, e, muitas vezes, os próprios maçons não têm consciência disso. É assim que a « cadeia de união », que reúne os irmãos no fim de cada reunião ou sessão branca, visa, na realidade, a reforçar a egrégore, isto é, a força mental do grupo com vista à transformação do mundo profano à sua volta. Além disso, venera-se nas lojas a serpente Uroboros, instigadora da desobediência. Já falei dos rituais « pouco católicos » dos graus superiores ao 18.º.
P. Qual é a influência da maçonaria na política francesa ?
R. Esta influência tem variado consoante as épocas. Foi muito forte durante a III República (1871-1940), com inúmeros Presidentes da República e Presidentes do Conselho oriundos das lojas. Maçons como Jules Ferry e Émile Combes estiveram na origem das leis de separação da Igreja e do Estado, em 1905. Durante a IV República (1946-1958) e a V (a actual), a influência não se tem feito sentir tão fortemente como dantes, sendo porém talvez mais perniciosa, chegando a perverter o sistema democrático. Houve alturas em que, no Parlamento, os maçons eram tão numerosos à direita como à esquerda (exceptuando o Partido Comunista e a Frente Nacional). A lei Veil sobre o aborto foi adoptada por um voto maciço dos maçons de esquerda e de direita, independentemente das suas divergências ideológicas no plano político. Foi por isso que preconizei, em 2005, a separação da maçonaria e do Estado (cf. L’Homme Nouveau, n.o 1356).
Incompatibilidade entre a adesão à Fé Católica e a filiação na maçonaria

Declaração da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé sobre a maçonaria
Foi perguntado se mudou o parecer da Igreja a respeito da maçonaria pelo facto de, no novo Código de Direito Canónico, ela não vir expressamente mencionada como no Código anterior.
Esta Sagrada Congregação quer responder que tal circunstância é devida a um critério redaccional seguido também em relação às outras associações igualmente não mencionadas, uma vez que estão compreendidas em categorias mais amplas.
Permanece portanto imutável o juízo negativo da Igreja a respeito das associações maçónicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçónicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão.
Não compete às autoridades eclesiásticas locais pronunciarem-se sobre a natureza das associações maçónicas com um juízo que implicaria derrogação de quanto foi acima estabelecido, e isto segundo a mente da Declaração desta Sagrada Congregação, de 17 de Fevereiro de 1981 (cf. AAS 73, 1981, p. 240-241).
O Sumo Pontífice João Paulo II, durante a audiência concedida ao subscrito Cardeal Prefeito, aprovou a presente Declaração, decidida na reunião ordinária desta Sagrada Congregação, e ordenou a sua publicação.
Roma, da Sede da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, 26 de Novembro de 1983.
Joseph Card. RATZINGER, 
Prefeito
† Fr. Jérôme Hamer, O. P. , Secretário
A Igreja e a maçonaria
Declaração dos Bispos da Alemanha
Entre 1974 e 1980, tiveram lugar, entre a Igreja Católica e as Grandes Lojas Unidas da Alemanha, conversações oficiais com a finalidade de verificar se a posição da maçonaria em relação à Igreja Católica se tinha modificado e se, eventualmente, era doravante possível admitir a compatibilidade entre a adesão à maçonaria e a adesão à Igreja Católica. As conversações, que tiveram lugar num clima de abertura, incidiram designadamente sobre o estudo dos rituais maçónicos. No documento a seguir publicado, a Conferência Episcopal Alemã dá a conhecer o resultado final destas conversações. A sua conclusão é que a visão do mundo da maçonaria, o seu conceito de verdade e a sua ideia de Deus não tendo sofrido alterações substanciais, permanece excluída a possibilidade de se pertencer ao mesmo tempo à Igreja Católica e à maçonaria, mesmo no caso de esta dar provas de benevolência para com a Igreja.
As conversações oficiais entre a Conferência Episcopal Alemã e as Grandes Lojas Unidas da Alemanha tiveram lugar entre 1974 e 1980.
O mandato
A Conferência Episcopal Alemã tinha dado ao grupo de contacto o seguinte mandato:
1.    Verificar as mudanças ocorridas no interior da maçonaria alemã ;
2.    Estudar a compatibilidade entre a adesão à Igreja Católica e a adesão à maçonaria ;
3.    Em caso de resposta positiva a estas questões, estudar a maneira de dar a conhecer ao grande público as mudanças verificadas.
Resultado das conversações
Não se verificou qualquer mudança da maçonaria na sua essência. O facto de a ela se aderir põe em causa os fundamentos da existência cristã.
Por outro lado, o estudo aprofundado dos rituais maçónicos, da especificidade maçónica e da ideia, ainda hoje inalterada, que a maçonaria tem de si própria, revela claramente que a adesão à Igreja Católica e a adesão à maçonaria excluem-se mutuamente.
Os maçons negam a possibilidade de um conhecimento objectivo da verdade.
O carácter relativo de toda a « verdade » constitui, pois, a base da maçonaria. Como os maçons recusam toda a fé dogmática, não admitem qualquer espécie de dogma nas suas lojas (cf. Dr. Th. Vogel, KNA, 11 de Fev. de 1960, p. 6).
O que se pede a um maçon, é, pois, que seja um homem livre, « que não admite qualquer submissão a qualquer dogma ou espécie de paixão » (Lennhoff-Posner, Internationales Freimaurer Lexikon, Wien, Amalthea Verlag, 1975, p. 524 et seq.).
Tal atitude implica a rejeição em absoluto de todas as posições dogmáticas, o que se traduz, na língua dos maçons, da forma seguinte : « Todas as instituições assentes numa base dogmática, sendo a Igreja Católica a mais representativa delas, exercem uma coacção de fé » (Lennhoff-Posner, p. 374).
Tal conceito da verdade não é compatível com o conceito católico de verdade, nem do ponto de vista da teologia natural, nem do ponto de vista da teologia revelada.
O conceito de religião nos maçons
O conceito maçónico de religião é relativista. As religiões não passam de tentativas concorrentes para exprimir a verdade sobre um Deus que, afinal, é inacessível. De facto, a única coisa conforme à « verdade de Deus » é a linguagem polissémica [em que as palavras possuem mais de um sentido], cabendo a cada maçon dar a estas palavras o sentido que entender, na base dos símbolos maçónicos. Mas não é sem razão que, no interior da loja, a discussão sobre os problemas religiosos é severamente proibida.
É verdade que, antigamente, os maçons eram obrigados a aderir à religião maioritária do seu país, ou do seu povo, mas hoje é aconselhado aderir à religião « em que todos os homens estão de acordo », deixando a cada um as suas convicções particulares (cf. Die Alten Pflichten von 1723, Hamburg, Bauhütten Verlag, 1972, p. 10).
O conceito de religião « em que todos os homens estão de acordo » implica uma concepção relativista da religião que não é compatível com a convição fundamental do cristianismo.
Nos rituais maçónicos, o conceito de « Grande Arquitecto do Universo » ocupa um lugar central. Trata-se — apesar da vontade de abertura ao religioso « no seu conjunto » — de uma concepção eivada de deísmo.
De acordo com esta concepção, não há qualquer conhecimento objectivo de Deus, no sentido do Deus pessoal do teísmo. O « Grande Arquitecto do Universo » é um das (isto) neutro, indefinido, aberto a toda a interpretação. Cada um pode pôr nele a sua representação de Deus, seja ela cristã ou muçulmana, confucianista ou animista, etc. Para o maçon, o « Grande Arquitecto do Universo » não é um ser no sentido de um Deus pessoal. (…) Este conceito do « Grande Arquitecto do Universo », pontificando num longínquo deísmo, destrói pela base a representação que todo o católico tem de Deus e a resposta que Lhe dá quando se dirige a Ele como Pai e Senhor.
O conceito de revelação
O conceito de Deus na maçonaria exclui liminarmente a ideia de uma auto-revelação de Deus, tal como é confessada por todos os cristãos. Pior ainda, o conceito de « Grande Arquitecto do Universo » reconduz as relações do Homem com Deus para posições anteriores ao próprio deísmo. O facto de, na maçonaria, se ligar expressamente o cristianismo à religião astral dos babilónios e sumérios, está em total contradição com a Fé revelada (cf. Ritual II, p. 47).
Tomada de posição final
Embora a maçonaria, em parte devido às perseguições sofridas durante o período do regime nazi, tenha manifestado ultimamente maior abertura em relação a certos sectores da sociedade, nem por isso deixou de permanecer fiel a si própria na sua mentalidade, convicções fundamentais e actividades.
As divergências verificadas incidem sobre os próprios fundamentos da existência cristã. E as pesquisas efectuadas sobre os rituais e a espiritualidade maçónicos evidenciam claramente que permanece excluída toda a adesão simultânea à Igreja Católica e à maçonaria.
Os Bispos alemães,
12 de Maio de 1980″

terça-feira, 3 de janeiro de 2012