Senhores Cardeais
venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio prezados irmãos e irmãs
venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio prezados irmãos e irmãs
É-me grato encontrar-me convosco por ocasião dos trabalhos da XVIII
Assembleia Geral da Pontifícia Academia para a Vida. Saúdo-vos e agradeço-vos a
todos o serviço generoso em defesa e a favor da vida, de modo particular ao
Presidente, D. Ignacio Carrasco de Paula, as palavras que me dirigiu também em
vosso nome. O delineamento que conferistes aos vossos trabalhos manifesta a
confiança que a Igreja sempre depositou nas possibilidades da razão humana e num
trabalho científico rigorosamente conduzido, que tenham sempre presente o
aspecto moral. O tema por vós escolhido este ano: «Diagnóstico e terapia da
infertilidade», além de ter uma relevância humana e social, possui um valor
científico peculiar e expressa a possibilidade concreta de um diálogo fecundo
entre dimensão ética e pesquisa biomédica. Com efeito, diante do problema da
infertilidade do casal, quisestes evocar e considerar atentamente a dimensão
moral, procurando os caminhos para uma avaliação diagnóstica correcta e uma
terapia que corrija as causas da infertilidade. Esta abordagem nasce do desejo
não só de oferecer um filho ao casal, mas de restituir aos esposos a sua
fertilidade e toda a dignidade de ser responsáveis pelas próprias opções
procriativas, para serem colaboradores de Deus na geração de um novo ser humano.
A procura de um diagnóstico e de uma terapia representa a abordagem
cientificamente mais correcta da questão da infertilidade, mas também a mais
respeitadora da humanidade integral dos interessados. Com efeito, a união do
homem e da mulher naquela comunidade de amor e de vida, que é o matrimónio,
constitui o único «lugar» digno para a chamada à existência de um novo ser
humano, que é sempre um dom.
Portanto, desejo encorajar a honestidade intelectual do vosso trabalho,
expressão de uma ciência que mantém vivo o seu espírito de busca da verdade, ao
serviço do bem autêntico do homem, e que evita o risco de ser uma prática
meramente funcional. Com efeito, a dignidade humana e cristã da procriação não
consiste num «produto», mas no seu vínculo com o acto conjugal, expressão do
amor dos cônjuges, da sua união não apenas biológica, mas também espiritual. A
este propósito, a Instrução
Donum vitae
recorda-nos que, «pela sua estrutura íntima, enquanto une os esposos com um
vínculo profundíssimo, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo
leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher» (n. 126). Por conseguinte,
as legítimas aspirações genitoriais do casal que se encontra numa condição de
infertilidade devem obter, com a ajuda da ciência, uma resposta que respeite
plenamente a sua dignidade de pessoas e de esposos. A humildade e a
minuciosidade com que aprofundais estas problemáticas, consideradas obsoletas
por alguns dos vossos colegas, diante do fascínio da tecnologia da fecundação
artificial, merece encorajamento e apoio. Por ocasião do X aniversário da
Encíclica Fides et
ratio, eu recordava que «o lucro fácil ou, pior ainda, a arrogância de
se substituir ao Criador desempenha às vezes um papel determinante. Esta é uma
fórmula de hybris da razão, que pode assumir características perigosas
para a própria humanidade» (Discurso
aos participantes no Congresso internacional promovido pela Pontifícia
Universidade Lateranense, 16 de Outubro de 2008: aas 100 [2008],
788-789). Efectivamente, o cientismo e a lógica do lucro parecem hoje dominar o
campo da infertilidade e da procriação humana, chegando a limitar também muitas
outras áreas de investigação.
A Igreja presta grande atenção ao sofrimento dos casais com infertilidade,
interessa-se por eles e, precisamente por isso, encoraja a pesquisa médica.
Todavia, a ciência nem sempre é capaz de corresponder aos desejos de numerosos
casais. Então, gostaria de recordar aos esposos que vivem a condição da
infertilidade, que isto não faz malograr a sua vocação matrimonial. Pela sua
própria vocação baptismal e matrimonial, os cônjuges são sempre chamados a
colaborar com Deus na criação de uma humanidade nova. Com efeito, a vocação ao
amor é uma vocação ao dom de si, e esta é uma possibilidade que nenhuma condição
orgânica pode impedir. Portanto, onde a ciência não encontra uma resposta, a
resposta que doa luz provém de Cristo.
Desejo encorajar todos vós aqui reunidos para estes dias de estudo e que às
vezes trabalhais num contexto médico-científico onde a dimensão da verdade
permanece ofuscada: continuai pelo caminho empreendido, de uma ciência
intelectualmente honesta e fascinada pela busca contínua do bem do homem. No
vosso percurso intelectual não desdenheis o diálogo com a fé. Dirijo-vos o apelo
urgente, lançado na Encíclica
Deus caritas est: «Para poder agir rectamente, a razão deve ser
continuamente purificada porque a sua cegueira ética, derivada da prevalência do
interesse e do poder que a deslumbram, é um perigo nunca totalmente eliminável
[...] A fé permite à razão realizar melhor a sua missão e ver mais claramente o
que lhe é próprio» (n. 28). Por outro lado, precisamente a matriz cultural
criada pelo cristianismo — radicada na afirmação da existência da Verdade e da
inteligibilidade da realidade, à luz da Suma Verdade — digo a matriz cultural,
tornou possível na Europa da Idade Média o desenvolvimento do saber científico
moderno, saber que nas culturas precedentes tinha permanecido só em embrião.
Ilustres cientistas e todos vós, membros da Academia comprometidos na
promoção da vida e da dignidade da pessoa humana, tende sempre presente também o
papel cultural fundamental que desempenhais na sociedade e a influência que
tendes na formação da opinião pública. O meu predecessor, beato João Paulo II
recordava que, «precisamente porque “sabem mais”, os cientistas são chamados a
“servir mais”» (Discurso
à Pontíficia Academia das Ciências, 11 de Novembro de 2002: aas 95
[2003], 206). As pessoas têm confiança em vós que servis a vida, tem confiança
no vosso compromisso a favor de quantos precisam de alívio e esperança. Nunca
cedais à tentação de tratar o bem das pessoas, reduzindo-o a um mero problema
técnico! A indiferença da consciência em relação à verdade e ao bem representa
uma ameaça perigosa para um progresso científico autêntico.
Gostaria de concluir, renovando os bons votos que o Concílio Vaticano II
dirige aos homens de pensamento e de ciência: «Felizes os que, possuindo a
verdade, continuam a procurá-la, a fim de a renovar, de a aprofundar e de a
transmitir aos outros» (Mensagem
aos homens de pensamento e de ciência, 8 de Dezembro de 1965: AAS 58
[1966], 12). É com estes bons votos que vos concedo, a todos vós aqui presentes
e a todos os vossos entes queridos, a Bênção apostólica. Obrigado!
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