quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

'Acreditar com o Concílio' - Tema 14: 'A Dignidade dos Cristãos Leigos n...

humildade: a encíclica de Bento XVI na hora da despedida


Bento XVI não publicará a encíclica sobre a fé – embora em fase avançada – que devia apresentar na primavera.  Já não tem tempo. E nenhum sucessor é obrigado a retomar uma encíclica incompleta do próprio predecessor. Mas existe outra encíclica de Bento XVI, escondida no seu coração, uma encíclica não escrita.  Ou melhor, escrita não pela sua pena mas pelo gesto do seu pontificado. Esta encíclica não é um texto, mas uma realidade: a humildade.
A 19 de abril de 2005 um homem que pertence à raça das águias intelectuais, temido pelos seus adversários, admirado pelos seus estudantes, respeitado por todos devido à acutilância das suas análises sobre a Igreja e o mundo, apresenta-se, recém-eleito Papa, como um cordeiro levado para o sacrifício. Utilizará até a terrível palavra «guilhotina» para descrever o sentimento que o invadiu no momento em que os seus irmãos cardeais, na Capela Sistina, ainda fechada para o mundo, se viraram para ele, eleito entre todos, para o aplaudir. Nas imagens da época, a sua figura curvada e o seu rosto surpreendido testemunham-no.
Depois teve que aprender o mister de Papa. Extirpou, como raízes arraigadas sob o húmus da terra, o eterno tímido, lúcido na mente mas desajeitado no corpo, para o projetar perante o mundo. Foi um choque para ambas as partes. Não conseguia assumir a desenvoltura do saudoso João Paulo II. O mundo compreendia mal aquele Papa sem efeito. Bento XVI nem teve os cem dias de "estado de graça" que se atribuem aos presidentes profanos. Teve, sem dúvida, a graça divina, fina mas pouco mundana. Contudo teve, ainda e sempre, a humildade de aprender sob os olhares de todos.
Foram sete anos terríveis de pontificado. Nunca um Papa teve, num certo sentido, tão pouco "sucesso". Passou de polémica em polémica:  crise com o Islão depois do seu discurso de Ratisbona, onde evocou a violência religiosa; deformação das suas palavras sobre a Sida durante a primeira viagem à África, que suscitou um protesto mundial; vergonha sofrida pelo explodir da questão dos sacerdotes pedófilos, por ele enfrentada; o caso Williamson, onde o seu gesto de generosidade em relação aos quatro bispos ordenados por D. Lefebvre (o Papa revogou as excomunhões) se transformou numa reprovação mundial contra Bento XVI, porque não tinha sido informado sobre os discursos negacionistas da Shoah feitos por um deles; incompreensões e dificuldades de pôr em ação o seu desejo de transparência quanto às finanças do Vaticano; traição de uma parte do seu grupo mais próximo no caso Vatileaks, com o seu mordomo que subtraiu cartas confidenciais para as publicar...
Não teve nem sequer um ano de trégua. Nada lhe foi poupado. Às violentas provações físicas do pontificado de João Paulo II, ao atentado e ao mal de Parkinson, parecem corresponder as provações morais de rara violência desta litania de contradições sofrida por Bento XVI.
Ao renunciar, o Papa eclipsa-se. À própria imagem do seu pontificado. Mas só Deus conhece o poder e a fecundidade da humildade.
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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Catequese do 1º Domingo da Quaresma


Sé Patriarcal, 17 de Fevereiro de 2013


Neste Ano da Fé, com o qual celebramos o cinquentenário do início do Concílio Ecuménico Vaticano II, nas Catequeses da Quaresma meditaremos na Fé do Concílio, isto é, a compreensão da fé católica que brota dos textos conciliares. O Magistério solene da Igreja é sempre uma expressão de fé e está ao serviço da fé de todo o Povo de Deus. Descobrimos aí a fé de todos aqueles Bispos reunidos com o Santo Padre, como pastores, conduzindo o Povo de Deus para a compreensão da Igreja, enviada ao mundo contemporâneo para anunciar o Evangelho de Jesus. As Catequeses Quaresmais farão, assim, uma unidade com o programa em curso “Acreditar com o Concílio”, que nos leva, assim o espero, a ler o Concílio com fé e a aprofundar a nossa fé lendo e meditando textos do Concílio.

Neles encontramos uma visão completa da fé católica, na sua simplicidade e na sua densidade envolvendo toda a existência do homem, o sentido do Universo e da História humana. Usando a expressão de Santo Agostinho, encontramos aí “a fé com que acreditamos” e “a fé que acreditamos”, isto é, o abandono ao Senhor que nos dirige a sua Palavra e nos convida à comunhão de amor e as verdades a que essa Palavra amorosa de Deus nos conduz, acerca de Deus, acerca do homem e do seu destino, acerca do mundo que anseia por essa revelação do amor de Deus. Meditando os textos do Concílio aprendemos que só o ardor da caridade suscitado em nós pela escuta da Palavra de Deus, nos leva a acreditar em verdades. A fé manifesta-nos a união profunda entre a verdade e a caridade.

A fé nasce da escuta da Palavra de Deus

1. O Concílio, falando do ministério dos sacerdotes como anunciadores da Palavra, afirma: “O Povo de Deus é reunido, antes de mais, pela Palavra do Deus vivo (…). É a Palavra de Deus que suscita a fé no coração dos não cristãos e a alimenta no coração dos cristãos; é ela que faz nascer e crescer a comunidade dos cristãos, como diz o Apóstolo: «a fé vem do que ouvimos e o que ouvimos vem da Palavra de Cristo» (Rom. 10,17)[1].
A Palavra de Deus, o facto de Deus nos falar, é o mistério mais denso e mais simples da História da Salvação: tem a simplicidade do amor e a densidade do mistério de Deus e do mistério do homem, profundamente interligados. Deus criou o homem para poder revelar-se-lhe, abrir-lhe o coração, deixá-lo penetrar no seu mistério. O homem foi criado para a intimidade da relação com Deus. A revelação como ela acontece no contexto da história humana, mostra que o pecado dos homens não levou Deus a mudar o seu desígnio de intimidade com o homem. Jesus Cristo, Deus feito Homem, não é uma saída de emergência; esteve sempre previsto nesse eterno desígnio de intimidade entre Deus e o homem.

Deus é puro Espírito. Antes de criar o homem, criou os outros seres espirituais, a que a Sagrada Escritura chama “Anjos”, isto é, “mensageiros”. Ao criá-los parece que Deus já preparava a aventura da sua intimidade com o homem, a quem criou à sua Imagem e semelhança, apesar de ser corpóreo (cf. Gen. 1,27). Essa é uma novidade na experiência divina: chamar à Sua intimidade de amor um ser corpóreo, isto é, um ser que exprime o seu carácter espiritual na corporeidade. Nessa criação do homem à sua Imagem está claramente expresso o desígnio de Deus ser Homem, de se fazer Homem, tornando perfeita a sua Imagem na Sua criatura. A incarnação do Verbo de Deus está anunciada na criação do Homem. Contemplando o Homem, plenitude de toda a criação, o salmista reza: “Quem é o homem para que Te lembres dele, o filho de Adão para que dele Te ocupes? Fizeste-o pouco inferior a um Deus e coroaste-o de glória e de honra” (Sal. 8,5-6). Esta grandeza sublime com que Deus criou o Homem, anuncia o desejo de se fazer homem, para poder falar de igual para igual, poder amar com amor humano. Este desígnio mantém-se inalterado mesmo na fragilidade da liberdade humana; então o desígnio torna-se redentor.

Na longa história da fragilidade humana a que vulgarmente chamamos pecado, e que começou logo no início da humanidade, a manifestação mais grave foi o homem querer substituir-se a Deus, acabando por esquecê-l’O. Esta questão torna-se o principal problema de civilização: “O homem tem necessidade de Deus, ou, pelo contrário, as coisas continuam bastante bem sem Ele”? É a questão que Bento XVI põe aos nossos contemporâneos. Se as coisas andassem bem mesmo sem Deus, a decisão de acreditar seria, no fundo, irrelevante. E o Santo Padre continua: “Se o homem se esquece de Deus, perde progressivamente a vida, porque a sede de infinito está presente no homem de um modo que ninguém o pode extinguir. O homem foi criado para a relação com Deus e precisa d’Ele”[2].

O desígnio de Encarnação preside à História da Salvação
2. Toda a Palavra de Deus surge no dinamismo de incarnação, no desejo de Deus ser Homem, poder entrar em comunhão de amor com os homens. Só Deus pode quebrar este abandono de Deus por parte dos homens, respondendo àquela nostalgia do infinito que permanece sempre no coração de todos os homens. É certo que na História da Salvação, Deus, por vezes, envia aos homens os seus “mensageiros” celestes, ou lhes fala através dos ritmos da natureza. Mas é através da Palavra humana dos Profetas que Deus se revela claramente, de Homem para Homem. Deus fala com linguagem humana até ao dia em que fazendo-se Homem, há plena identificação entre a palavra humana e a Palavra de Deus. Na pessoa de Jesus tudo é Palavra, o discurso, o silêncio orante, os milagres. Na Palavra dos Profetas vai estando presente neste diálogo de Deus com os homens, a Palavra eterna de Deus feita Homem. É um grande mistério. Mas não é só Deus que é mistério; é também o homem.

Deus falar aos homens é um desígnio de amor. Diz o Concílio: “Agradou a Deus, na Sua sabedoria e na Sua bondade revelar-se pessoalmente e dar a conhecer o mistério da Sua vontade graças ao qual os homens, por Cristo o Verbo feito carne têm, pelo Espírito Santo, acesso ao Pai e são tornados participantes da natureza divina”[3]. Em cada palavra revelada está presente o desígnio divino de salvação, cuja plenitude se atinge em Jesus Cristo. Cristo, Verno Incarnado, é a plenitude da Palavra de Deus. Não admira que em toda ela se exprima este mistério da incarnação. Deus abre o seu coração e a profundidade do seu mistério através de palavras humanas, ou seja, através da sua Palavra eterna feita Homem. Em toda a palavra profética está presente a plenitude da revelação, Jesus Cristo Palavra Incarnada. Os profetas, possuídos por Deus, falam em nome de Deus. A sua palavra é humana, e os homens podem acolhê-la, e é divina, porque eles dizem o que Deus quer dizer ao Seu Povo. Escutá-la é entrar em comunhão com Deus e não apenas com o Profeta que a disse. A fé é escuta de Deus e não apenas dos profetas. Só em Jesus Cristo a fé é simultaneamente escuta de Deus e do Profeta que a pronunciou.


A Fé é a escuta obediente da Palavra de Deus
3. Quando o homem identifica nessa palavra humana a voz de Deus que se lhe dirige, a sua inteligência, o seu coração e a sua liberdade ficam perante Deus, é um momento de mistério. Ou rejeita escutar o Senhor ou acolhe essa Palavra e aceita confrontar a sua vida com o projeto de Deus. Essa escuta da Palavra é a fé. O Concílio diz: “A Deus que Se revela é devida a obediência da fé, pela qual o homem se entrega total e livremente a Deus numa completa homenagem da inteligência e da vontade a Deus que se revela e na adesão voluntária à revelação que nos faz”[4]. Esta fé é, pois, um momento que toca radicalmente no sentido da nossa existência. Sente-se que a vida é para ser vivida com Deus, que Ele tem sempre uma Palavra a dizer sobre o desenvolvimento da vida que nos deu.

Este texto conciliar diz que esta fé é obediência, inspirando-se em São Paulo que fala da “obediência da fé” (cf. Rom. 16,26). É a aceitação sem limites de Deus e da sua vontade que a sua Palavra nos revelou. Esta obediência é um ato de amor porque só o amor a torna possível.

Nesta escuta obediente da Palavra de Deus, os cristãos podem ser ajudados por exemplos e modelos: de pessoas que eles conhecem e que dão testemunho dessa obediência confiante, pelos Santos e, sobretudo, contemplando Nossa Senhora. O Concílio diz que na sua obediência de fé ela é modelo da Igreja: “A Mãe de Deus é o modelo da Igreja na ordem da fé, da caridade e da perfeita união a Cristo”[5]. “Ela trouxe à obra do Salvador uma cooperação sem igual pela sua obediência, a sua fé, a sua esperança, a sua caridade ardente”[6]. Tudo isso ela exprime na sua resposta ao Anjo: “Eu sou a Serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc. 1,38). Bento XVI comenta assim esta resposta de Maria: “É o momento da obediência livre, humilde e simultaneamente magnânima, na qual se realiza a decisão mais sublime da liberdade humana”. Com esta resposta de Maria o Anjo sente que a sua missão está conseguida e afasta-se “e Maria fica sozinha com a tarefa que verdadeiramente supera toda a capacidade humana. Não há anjos em seu redor; ela deve prosseguir pelo seu caminho, que passará através de muitas obscuridades, a começar pelo espavento de José perante a sua gravidez até ao momento em que se diz de Jesus que está «fora de si» (Mc. 3,21; cf. Jo. 10,20), até à noite na Cruz. Quantas vezes, em tais situações, Maria terá voltado interiormente à hora em que o anjo de Deus lhe falou, terá escutado de novo e meditado a saudação «alegra-te, cheia de graça», e as palavras de conforto «Não temas»… O anjo parte, a missão permanece e, juntamente com ela, matura a proximidade interior de Deus, o íntimo ver e tocar a sua proximidade”[7].

Também nisso Maria é modelo de todos os crentes. Na sua peregrinação da fé terão de voltar a ouvir muitas vezes a Palavra que lhes mudou a vida e a encontrar nela luz nos momentos de obscuridade, força nos momentos de fraqueza, a alegria de sentir que na dureza da caminhada a solicitude de Deus nos acompanha.

A fecundidade da Palavra de Deus
4. Na peregrinação da fé há atitudes que é preciso cultivar, que exprimem a nossa fidelidade ao projeto que Deus nos revelou. A primeira é procurar que a Palavra de Deus que escutámos dê fruto em nós. A Sagrada Escritura afirma claramente a eficácia da Palavra de Deus que realiza sempre o que anuncia (cf. Num, 23,19; Is. 55,10ss). A Palavra de Deus precede o acontecimento mas tende irremediavelmente a ser acontecimento.

Na nossa caminhada da fé esta Palavra de Deus é, tantas vezes, uma Palavra à espera, como o foi nas grandes profecias. A expressão é de Bento XVI, referindo-se à Profecia de Isaías, anunciando que uma Virgem conceberá e dará à luz o Emanuel (cf. Is. 7,14-15). Essa é uma Palavra à espera até Jesus nascer de Maria[8]. A fé é um chamamento à santidade. A Palavra de Deus em nós está à espera do acontecimento, de realizar em nós o que anuncia. Quantas vezes também em nós a Palavra de Deus que escutámos no início da nossa fé, continua a ser “uma Palavra à espera”.

Um outro aspeto da nossa fidelidade na caminhada da fé é o respeito pela dimensão de incarnação da Palavra que Deus nos dirige. Ela é palavra da Escritura, escutada sobretudo quando celebramos e rezamos; é palavra da Igreja, através do ministério apostólico. A Palavra de Deus incarna na Palavra da Igreja. Os profetas do Antigo Testamento eram possuídos por Deus antes de falarem em nome de Deus. No Novo Testamento aqueles que exercem o ministério da Palavra estão unidos a Cristo, são um com Cristo, que continua a ser Palavra na Palavra da Igreja. É por isso que quando anunciam a Palavra esta é para eles e para aqueles que os ouvem, convite de Deus a abraçar o caminho da salvação.

Cristo é a última Palavra de Deus
5. Cristo é a plenitude da revelação, é a Palavra definitiva que Deus dirige aos homens. A fé cristã é sempre fé em Jesus Cristo, mesmo quando é resposta à Palavra de Deus do Antigo Testamento ou do ensinamento dos Apóstolos. O Concílio ensina: “Com efeito Deus enviou o Seu Filho, o Verbo eterno que ilumina todos os homens, para permanecer no meio deles e fazê-los conhecer os segredos de Deus. Portanto Jesus Cristo, o Verbo feito carne, Homem enviado aos homens, pronuncia as palavras de Deus e completa a obra de salvação que o Pai Lhe mandou realizar”[9].

Esta dimensão cristocêntrica da fé é essencial. Não se trata de acreditar numa qualquer ideia de Deus, veiculada pela cultura. Acreditar é escutar o Senhor, unir-se à Pessoa de Jesus, que é Palavra de Deus na totalidade da sua existência e do seu mistério. É Ele que nos levará ao Pai e nos fará mergulhar na insondável comunhão de vida e de amor com as Pessoas divinas. É Ele que nos comunica o Espírito Santo. É por isso que a esses crentes se chama cristãos.

Esta adesão a Cristo Palavra é uma relação de amor. A fé desabrocha espontaneamente na caridade e na esperança. Enquanto escuta da Palavra incarnada, a fé faz sentir ao cristão que a primeira expressão da caridade é o amor a Jesus Cristo e, por Ele, à Santíssima Trindade. O amor dos irmãos decorre desse amor a Jesus Cristo, segundo o seu próprio desejo: “O que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos, a Mim o fazeis” (Mt. 25,40).

Por outro lado essa fé como adesão amorosa a Cristo suscita a esperança. Só nela podemos viver profundamente a fé. O Concílio afirma: “Unidos, pois, a Cristo na Igreja e marcados pelo selo do Espírito Santo, «o qual é garantia da nossa herança» (Ef. 1,14), chamamos e na realidade somos filhos de Deus (cf. 1Jo. 3,1),mas não aparecemos ainda com Cristo na glória (cf. Col. 3,4), na qual seremos semelhantes a Deus, porque O veremos tal como Ele é (cf. 1Jo. 3,2). Assim, «enquanto permanecermos neste corpo, vivemos exilados longe do Senhor» (2Cor. 5,6) e, apesar de possuirmos as primícias do Espírito, gememos dentro de nós (cf. Rom. 8,23) e ansiamos por estar com Cristo (cf. Fil. 1,23)”[10]. O anúncio da fé é sempre o anúncio da esperança, com amor.

6. Depois da morte e ressurreição de Jesus, escutar Cristo Palavra acontece quando ouvimos a sua Palavra e celebramos, nos sacramentos, a sua Páscoa. Os sacramentos, sobretudo a Eucaristia, são o momento da síntese harmónica entre a Palavra da Escritura escutada e a Páscoa celebrada. O Senhor quis deixar-nos, nos sacramentos, essa maneira nova de nos unirmos a Ele escutando-O mais profundamente[11].
† JOSÉ, Cardeal-Patriarca

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

'Acreditar com o Concílio' - Tema 13: Condições de Pertença à Igreja

As palavras de Bento XVI no I Domingo da Quaresma

Nas tentações o que está em jogo é a fé, porque está em jogo Deus.
CIDADE DO VATICANO, 17 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org) - Queridos irmãos e irmãs!
Na última quarta-feira, com o tradicional Rito das Cinzas, entramos na Quaresma, tempo de conversão e penitência em preparação para a Páscoa. A Igreja, que é mãe e mestra, chama todos os seus membros a renovar-se no espírito, a reorientar-se decididamente para Deus, renegando o orgulho e o egoísmo para viver no amor. Neste Ano da Fé a Quaresma é um tempo propício para redescobrir a fé em Deus como critério-base da nossa vida e da vida da Igreja. Isso comporta sempre uma luta, um combate espiritual, porque o espírito do mal naturalmente se opõe à nossa santificação e busca fazer-nos desviar do caminho de Deus. Por isso, no primeiro domingo da Quaresma, todos os anos é proclamado o Evangelho das tentações de Jesus no deserto.
Jesus, de fato, depois de receber a "investidura" de Messias - "ungido" de Espírito Santo - no Batismo no Jordão, foi conduzido pelo mesmo Espírito no deserto para ser tentado pelo diabo. Ao iniciar o seu ministério público, Jesus teve que desmascarar e repelir as falsas imagens de Messias que o tentador lhe propunha. Mas essas tentações são também falsas imagens do homem, que em todos os momentos insidiam a consciência, trasvestindo-se de propostas convenientes e eficazes, ou até mesmo boas. Os evangelistas Mateus e Lucas apresentam três tentações de Jesus, diversificando-as apenas na ordem. O núcleo central consiste em instrumentalizar Deus para os próprios interesses, dando mais importância ao sucesso ou aos bens materiais. O tentador é astuto: não impele diretamente em direção ao mal, mas a um falso bem, fazendo crer que as verdadeiras realidades são o poder e aquilo satisfaz as necessidades primárias. Dessa forma, Deus torna-se secundário, reduz-se a um meio, torna-se definitivamente irreal, não importa mais, desvanece. Em última análise, nas tentações o que está em jogo é a fé, porque está em jogo Deus. Nos momentos decisivos da vida, mas, vendo bem, a qualquer momento, estamos numa encruzilhada: queremos seguir o eu ou Deus? O interesse individual ou o que realmente é bem?
Como nos ensinam os Padres da Igreja, as tentações fazem parte da "descida" de Jesus à nossa condição humana, ao abismo do pecado e das suas consequências. Uma "descida" que Jesus percorreu até o fim, até a morte de cruz, até os infernos do extremo distanciamento de Deus. Desse modo, Ele é a mão que Deus estendeu ao homem, à ovelha perdida, para reconduzi-la a salvo. Como ensina Santo Agostinho, Jesus tirou de nós a tentação, para nos dar a vitória (cf. Enarr  Psalmos em, 60,3:. PL 36, 724). Portanto, também nós não tememos enfrentar o combate contra o espírito do mal: o importante é que o façamos com Ele, com Cristo, o Vencedor. E para estar com Ele voltemo-nos para a Mãe, Maria: Invoquemos com confiança filial na hora da provação, e ela nos fará sentir a potente presença de seu Filho divino, para repelir as tentações com a Palavra de Cristo, e assim recolocar Deus no centro da nossa vida.
(Após o Angelus)
Obrigado a todos!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Audiência de quarta-feira


 Superar a tentação de submeter Deus a si e aos próprios interesses
As palavras de Bento XVI na Audiência Geral desta quarta-feira
CIDADE DO VATICANO, 13 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org) - Queridos irmãos e irmãs,
Hoje, Quarta-feira de Cinzas, iniciamos o tempo litúrgico da Quaresma, quarenta dias que nos preparam para a celebração da Santa Páscoa; é um tempo de particular empenho em nosso caminho espiritual. O número quarenta aparece várias vezes na Sagrada Escritura. Em particular, como se sabe, recorda os quarenta anos no qual o povo de Israel peregrinou no deserto: um longo período de formação para transformar o povo de Deus, mas também um longo período em que a tentação de ser infiel à aliança com Deus estava sempre presente. Quarenta foram também os dias de caminhada do profeta Elias para chegar ao Monte de Deus, Horeb; bem como o tempoem que Jesuspassou no deserto antes de iniciar a sua vida pública e onde foi tentado pelo diabo. Na catequese de hoje gostaria de deter-me neste momento da vida terrena do Senhor, que leremos no Evangelho do próximo domingo.
Antes de tudo, o deserto, para onde Jesus se retira, é o lugar do silêncio, da pobreza, onde o homem é privado dos apoios materiais e se encontra diante das questões fundamentais da existência, é convidado a ir ao essencial e por isto lhe é mais fácil encontrar a Deus. Mas o deserto é também o lugar de morte, porque onde não tem água, não tem vida, é o lugar da solidão, onde o homem sente mais intensamente a tentação. Jesus vai para o deserto e lá é tentado a deixar o caminho indicado pelo Pai para seguir outros caminhos mais fáceis e mundanos (cf. Lc 4,1-13). Assim, Ele assume as nossas tentações, leva consigo a nossa miséria, para vencer o maligno e para abrir-nos o caminho para Deus, o caminho da conversão.
Refletir sobre as tentações sofridas por Jesus no deserto é um convite para cada um de nós a responder uma pergunta fundamental: o que é realmente importante na minha vida? Na primeira tentação o diabo propõe a Jesus transformar uma pedra em pão para acabar com a fome. Jesus responde que o homem vive também de pão, mas não somente de pão: sem uma resposta à fome da verdade, à fome de Deus, o homem não pode ser salvo (cf. vv 3-4.). Na segunda tentação, o diabo propõe a Jesus o caminho do poder: o conduz ao alto e lhe oferece o domínio sobre o mundo; mas este não é o caminho de Deus: Jesus tem muito claro que não é o poder mundano que salva o mundo, mas o poder da cruz, da humildade, do amor (cf. vv. 5-8). Na terceira tentação, o diabo propõe a Jesus atirar-se do ponto mais alto do Templo de Jerusalém e fazer-se salvar por Deus mediante seus anjos, isto é, de fazer algo de sensacional para colocar à prova o próprio Deus; mas a resposta é que Deus não é um objeto ao qual impor as nossas condições: é o Senhor de tudo (cf. vv 9-12.). Qual é o núcleo das três tentações que Jesus sofre? É a proposta de manipular a Deus, de usá-Lo para os próprios interesses, para a própria glória e para o próprio sucesso. Então, essencialmente, de colocar a si mesmo no lugar de Deus, retirando-O da própria existência e fazendo-O parecer supérfluo. Cada um deveria perguntar-se: qual é o lugar de Deus na minha vida? É Ele é o Senhor ou sou eu?
Superar a tentação de submeter Deus a si e aos próprios interesses ou colocá-Lo em um canto e converter-se à ordem correta de prioridade, dar a Deus o primeiro lugar, é um caminho que todo cristão deve percorrer sempre de novo. “Converter-se", um convite que escutamos muitas vezes na Quaresma, significa seguir Jesus de modo que o seu Evangelho seja guia concreto da vida; significa deixar que Deus nos transforme, parar de pensar que somos os únicos construtores da nossa existência; é reconhecer que somos criaturas, que dependemos de Deus, do seu amor, e apenas "perdendo" a nossa vida Nele podemos ganhá-la. Isto exige trabalhar as nossas escolhas à luz da Palavra de Deus. Hoje não se pode mais ser cristão como uma simples consequência do fato de  viver em uma sociedade que tem raízes cristãs: mesmo quem nasce de uma família cristã, é educado religiosamente deve, a cada dia, renovar a escolha de ser cristão, ou seja, dar a Deus o primeiro lugar, diante das tentações que uma cultura secularizada sugere continuamente, diante das críticas de muitos contemporâneos.
As provas às quais a sociedade moderna submete o cristão, de fato, são muitas, e afetam a vida pessoal e social. Não é fácil ser fiel ao matrimônio cristão, praticar a misericórdia na vida cotidiana, dar espaço à oração e ao silêncio interior; não é fácil opor-se publicamente às escolhas que muitos consideram óbvias, como o aborto em caso de gravidez indesejada, a eutanásia em caso de doença grave, ou a seleção de embriões para prevenir doenças hereditárias. A tentação de deixar de lado a própria fé está sempre presente e a conversão torna-se uma resposta a Deus que deve ser confirmada muitas vezes na vida.
Temos como exemplo e estímulo as grandes conversões como a de São Paulo no caminho de Damasco, ou de Santo Agostinho, mas também na nossa época de eclipses do sentido do sagrado, a graça de Deus está a serviço e faz maravilhas na vida de muitas pessoas. O Senhor nunca se cansa de bater à porta dos homens em contextos sociais e culturais que parecem engolidos pela secularização, como aconteceu para o russo ortodoxo Pavel Florenskij. Depois de uma educação completamente agnóstica, a ponto de agir com verdadeira hostilidade para com os ensinamentos religiosos ensinados na escola, o cientista Florenskij encontra-se a exclamar: "Não, não é possível viver sem Deus!", e a mudar a sua vida completamente, a ponto de tornar-se monge.
Penso também na figura de Etty Hillesum, uma jovem holandesa de origem judia que morreuem Auschwitz. Inicialmentedistante de Deus, descobre-O olhando em profundidade dentro de si mesma e escreve: "Um poço muito profundo está dentro de mim. E Deus está nesse poço. Às vezes eu posso alcançá-lo, muitas vezes a pedra e a areia o cobrem: então Deus está sepultado. É preciso de novo que o desenterrem"(Diário, 97). Na sua vida dispersa e inquieta, encontra Deus em meio à grande tragédia do século XX, o Holocausto. Esta jovem frágil e insatisfeita, transfigurada pela fé, torna-se uma mulher cheia de amor e paz interior, capaz de dizer: "Vivo constantemente em intimidade com Deus".
A capacidade de opor-se às atrações ideológicas do seu tempo para escolher a busca da verdade e abrir-se à descoberta da fé é evidenciada por outra mulher do nosso tempo, a americana Dorothy Day. Em sua autobiografia, confessa abertamente ter caído na tentação de resolver tudo com a política, aderindo à proposta marxista: "Eu queria andar com os manifestantes, ir para a cadeia, escrever, influenciar os outros e deixar o meu sonho no mundo. Quanta ambição e quanta busca de mim mesma havia em tudo isso!”. O caminho de fé em um ambiente tão secularizado era particularmente difícil, mas a Graça age da mesma maneira, como ela mesma ressalta: "É certo que eu senti muitas vezes a necessidade de ir à igreja, ajoelhar, curvar a cabeçaem oração. Uminstinto cego, poderia-se dizer, porque eu não estava consciente da oração. Mas eu ia, inseria-me na atmosfera da oração ... ". Deus a conduziu a uma consciente adesão à Igreja, em  uma vida dedicada aos menos favorecidos.
No nosso tempo não são poucas as conversões entendidas como retorno de quem, depois de uma educação cristã talvez superficial, afastou-se da fé por anos e depois redescobre Cristo e o seu Evangelho. No livro do Apocalipse, lemos: "Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e me abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo "(3, 20). O nosso homem interior deve preparar-se para ser visitado por Deus, e por essa razão não deve deixar-se invadir pelas ilusões, pelas aparências, pelas coisas materiais.
Neste tempo de Quaresma, no Ano da fé, renovemos o nosso compromisso no caminho de conversão, para superar a tendência de fechar-nos em nós mesmos e fazer, ao invés, espaço para Deus, olhando com seus olhos a realidade quotidiana. A alternativa entre o fechamento no nosso egoísmo e a abertura ao amor de Deus e dos outros, podemos dizer que corresponde à alternativa das tentações de Jesus: alternativa, isso é, entre o poder humano e o amor da Cruz, entre uma redenção vista apenas no bem-estar material e uma redenção como obra de Deus, a quem damos o primado da existência. Converter-se significa não fechar-se na busca do próprio sucesso, do próprio prestígio, da própria posição, mas assegurar que a cada dia, nas pequenas coisas, a verdade, a fé em Deus e o amor tornem-se a coisa mais importante.
(Após a catequese)
Amados peregrinos lusófonos, uma cordial saudação para todos, nomeadamente para os grupos portugueses de Lamego e Lisboa, e os brasileiros de Curitiba e Porto Alegre. Possa cada um de vós viver estes quarenta dias como um generoso caminho de conversão à santidade que o Deus Santo vos pede e quer dar! As suas bênçãos desçam abundantes sobre vós e vossas famílias! Obrigado!

*** “Tú és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja”

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“Tú és Pedro e sobre esta pedra edificarei minha Igreja” (Mt 16,18)
Recebemos a notícia da renúncia do Papa Bento XVI como uma palavra de sabedoria, que nos surpreendeu profundamente.
Creio que agora está na hora de refletir sobre a Igreja. Nós temos nosso credo: ‘Creio em Deus Pai, Creio em Jesus, Creio no Espirito Santo, Creio na Santa Igreja Católica’. A nossa Igreja é o corpo de Cristo, é o Cristo vivo agindo. Acreditamos que o Espírito Santo está movendo esta Igreja.
Vivenciamos, nestes últimos anos, um servo de Deus muito capaz, Bento XVI. Creio que ele foi movido pelo Espirito Santo, pois chegou ao ponto de dizer que é melhor ‘que eu renuncie para o bem deste corpo’: “renuncio ao Ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, que me foi confiado por meio dos Cardeais em 19 de abril de 2005, de modo que, a partir de 28 de fevereiro de 2013, às 20 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro ficará vaga”.
As coisas no mundo, hoje, são muito mais rápidas, como a comunicação, que é instantânea. E esta foi uma decisão movida pelo Espirito Santo para colocar outro servo à frente da Igreja.
Deus pode fazer o que Ele quiser. Não é necessário o papa permaneça naquela posição até a morte. Esta decisão do Papa foi uma palavra de sabedoria que nos surpreendeu profundamente, e acolhemos com nosso apreço e orações as razões apresentadas por Sua Santidade.
Eu acredito que é Deus que manda na Igreja, porque ela é o corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo e um corpo que é movido pelo Divino Espirito Santo.
No dia de pentecostes ficaram todos cheios do Espírito Santo, e esta Igreja é movida pelo Espirito Santo. Fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo com o derramamento do Espirito Santo.
Nós temos o próprio Senhor Jesus Cristo presente nesta Igreja, neste corpo maravilhoso que recebemos o perdão de Jesus. Primeiro, somos integrados pelo Sacramento do Batismo; recebemos o perdão de Jesus; somos ungidos pela força do Espirito Santo, pelo Sacramento de Crisma; e algumas pessoas são ordenadas, consagrados de coração indiviso para servir à Igreja. Jesus pode fazer o que Ele quiser no corpo dele. Então a Igreja continua. Eu ‘creio em Deus Pai, em Jesus, no Espirito Santo, na Santa Igreja Católica’ que é o corpo Dele hoje em dia.
Certamente, nós católicos devemos orar, amar a nossa Igreja, entender a beleza da nossa Igreja que foi fundada pelo Nosso Senhor Jesus Cristo. Temos que orar para que a pessoa certa, o servo certo seja escolhido para estar à frente da Igreja, onde por oito anos esteve Bento XVI, com toda sua humildade e grandeza.
Fonte: a Zenit

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O Papa vai resignar

A Sede de São Pedro ficará vacante a partir de 28 de Fevereiro. Será convocado o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.
CIDADE DO VATICANO, 11 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org) - Apresentamos as palavras com que Bento XVI anunciou a sua renuncia:
Caríssimos Irmãos,
convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.

Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus.
Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013. 
BENEDICTUS PP. XVI

Igreja: Levar Deus ao Hospital


D.R.
Lisboa, 11 fev 2013 (Ecclesia) - O padre José Cruz, capelão do Hospital dos Capuchos e das Descobertas, em Lisboa, tem como missão diária acompanhar e escutar aqueles que “estão na condição de doença”, mesmo quando colocam em causa a sua fé.
“O capelão ou assistente hospitalar e religioso é aquele que está para quem precisa. Estas pessoas sentem-se perdidas na cama de um hospital e deixam de ter o seu ritmo natural, o seu dia a dia, a sua cama ou até o seu pijama”, afirmou à ECCLESIA, a respeito do Dia Mundial do Doente que hoje se celebra.
“Estou aqui para o ser o colo que escuta tudo, as lágrimas, a revolta, muitas vezes a revolta contra Deus, ou as tentativas de aproximação à fé, onde até me pedem orações”, acrescenta.
O capelão sente que não está só nesta missão, revelando que por vezes são os próprios médicos, enfermeiros ou auxiliares que o chamam ou sugerem a sua presença.
“Às vezes nem é o próprio doente e chegam-me papelinhos com a mensagem que a ‘esposa do doente tal precisa de apoio, está triste, talvez uma palavra sua, ajude’”, confessa o padre José Cruz.
O sacerdote lembra que muitas pessoas “fazem o seu luto” nos hospitais e que, nestes espaços, a vida e a morte são uma presença constante.
“Há poucos dias uma família unia-se à volta de um recém-nascido que, com a sua simplicidade, encantava todos. Mas a mãe estava à beira de um grande perigo e a noite foi de sofrimento”, relata, acrescentando que a mulher mãe recuperou e está já com o seu filho nos braços”, diz com satisfação o capelão hospitalar.
“Estes são momentos de olhar para o céu, agradecer a vida e as alegrias que acontecem nos hospitais e que nos fazem acreditar a cada dia”, confessou.
Para este Dia do Doente, o padre José Cruz pede que todas as pessoas que sofrem possam “abrir o coração e estar atentos à sua história de amor”.
   

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A cruz de Jesus é a nova "árvore da vida"


Bento XVI reflete sobre a natureza da criação de Deus
ROMA, 06 de Fevereiro de 2013 (Zenit.org) - Deus, como "Pai na criação", foi o tema da catequese do papa Bento XVI na audiência geral desta manhã. O credo, disse o Santo Padre, nos recorda em primeiro lugar a Sagrada Escritura (cf. Gn 1,1). Deus é, portanto, "a origem de todas as coisas e é na beleza da criação que se revela a sua onipotência de pai que ama".
"Como pai bom e poderoso, ele toma conta do que criou com amor e lealdade que nunca falham", continuou o papa.
Conforme apontado por São Paulo (cf. Hb 11,3), tendo sido o mundo criado por Deus, é a partir do invisível que toma forma o que é visível, e, assim, a fé significa "ser capaz de reconhecer o invisível mediante as suas marcas no mundo visível".
A inteligência humana pode encontrar na bíblia, à luz da fé, “a chave de interpretação para compreender o mundo”. Os primeiros seis dias da obra da criação divina do mundo são todos finalizados pela afirmação "Deus viu que isso era bom" (Gn 1,4.10.12.18.21.25).
No sétimo dia, dedicado à criação do homem, a afirmação do autor bíblico é reforçada: "Deus viu tudo o que tinha feito, e eis que era muito bom" (Gn 1,31).
"Tudo o que Deus cria é bom e belo, cheio de sabedoria e de amor. A ação criadora de Deus traz ordem, harmonia e beleza", ressaltou o papa.
Qual é o sentido, porém, "na era da ciência e da tecnologia, de ainda falarmos da criação?", questionou Bento XVI. "A bíblia não pretende ser um manual de ciências naturais; sua intenção é ajudar a entender a verdade genuína e profunda das coisas", respondeu.
Do Gênesis, portanto, aprendemos que "o mundo não é um conjunto de forças contrastantes, mas que a sua origem e estabilidade estão no Logos, na razão eterna de Deus, que continua a sustentar o universo".
Acreditar que o agir racional de Deus está na base da criação "ilumina cada aspecto da vida e nos dá a coragem de enfrentar com confiança e esperança a aventura da vida", acrescentou o papa.
O ser humano, por sua vez, na sua pequenez e limitação, é "capaz de conhecer e amar seu Criador" (constituição pastoral Gaudium et Spes, 12). A fragilidade humana, disse o papa, convive com "a magnitude do que o eterno amor de Deus quis para nós".
O Gênesis diz que o homem foi criado por Deus do "pó da terra" (cf. Gn 2,7), que torna todos iguais, sem distinções culturais nem sociais. O homem, portanto, não é deus, nem foi criado por si mesmo, mas tem originem "da terra boa, por obra de um Criador bom".
Todo homem é criado à imagem e semelhança de Deus (cf. Gn 2,7), de quem carregamos o "sopro de vida". "Esta é a razão mais profunda da inviolabilidade da dignidade humana perante qualquer tentação de avaliar a pessoa de acordo com critérios utilitários e de poder", reforçou Bento XVI.
Do Gênesis, prosseguiu ele, emergem duas imagens significativas. A primeira é "a árvore do conhecimento do bem e do mal" (cf. Gn 2,15), ponto de referência em Deus por parte do homem, que deve "reconhecer o mundo não como propriedade a ser saqueada e explorada, mas como um dom do Criador".
E há também a imagem da serpente demoníaca (cf. Gn 2,8-15), que insinua ao homem "a desconfiança de que a aliança com Deus seja como uma corrente que o prende, que o priva da liberdade e das melhores coisas da vida". Daí a origem de todas as tentações: da pretensão de "construir o próprio mundo, de não aceitar as limitações da criatura, os limites do bem e do mal, da moralidade".
Se o homem "perverte a relação com Deus com a mentira, colocando-se no seu lugar, todas as outras relações acabam alteradas" e o outro "se torna um rival, uma ameaça", a ponto de "a inveja e o ódio pelo outro entrarem no coração do homem" e Caim chegar a matar o próprio irmão Abel (Gn 4,39).
Caindo no pecado original, o homem se rebela não apenas contra Deus, mas "contra si mesmo", originando assim "todos os pecados da história". O primeiro pecado é a destruição da "relação com Deus", que, juntamente com as relações humanas, é o ponto de partida para o homem ser ele mesmo.
O homem não pode "redimir-se sozinho". Só Deus pode restaurar as "relações corretas". Se Adão tinha a pretensão de tomar o lugar de Deus, Jesus Cristo reconstrói o "relacionamento filial perfeito com o pai", rebaixando-se, tornando-se "servo" e percorrendo "o caminho do amor, humilhando-se até a morte de cruz"; a mesmo cruz que, assim, se torna "a nova árvore da vida".
Viver de fé, concluiu Bento XVI, significa, portanto, "reconhecer a grandeza de Deus e aceitar a nossa pequenez, a nossa condição de criaturas, deixando que Nosso Senhor a preencha com o Seu amor".

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

03.02.13 - Novos Ministros Extraordinários da Comunhão

A nossa Presidente também foi enviada a ser Ministra Extraordinária de Sagrada Comunhão.
Parabéns Dache por ser merecedora de tão grande graça 
Herdou este ministério  da sua mãe  que é um testemunho para a nossa comunidade .

                  
D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa, convidou os novos Ministros Extraordinários da Comunhão a exercerem esta missão “com simplicidade, humildade e espírito de serviço”.
 
Agradecendo aos Ministros Extraordinários da Comunhão a “disponibilidade ao convite” que a Igreja lhes dirigiu, através dos párocos, “para exercer este ministério na comunidade cristã”, D. Joaquim Mendes recomendou: “A vossa idoneidade é indispensável para o exercício deste belo ministério de distribuir a sagrada Comunhão aos demais fiéis e de a levar aos doentes”. Na sua homilia, na Sé de Lisboa, o Bispo Auxiliar lembrou também a atitude que deve presidir a esta missão: “Na ausência do sacerdote ou do diácono, quando o sacerdote está impedido por enfermidade, idade avançada, ou por outra verdadeira causa, ou quando é grande o número de fiéis para comungar, sois chamados a dar a vossa colaboração com simplicidade, humildade e espírito de serviço”.
Esta celebração de nomeação decorreu no Domingo, 3 de fevereiro. “A vossa particular relação com Jesus Eucaristia deve levar-vos a promover, antes de mais, com o exemplo da vossa própria vida, o amor e a devoção à Santíssima Eucaristia, junto dos doentes e dos restantes fiéis da comunidade, a ser verdadeiros adoradores em “espírito e verdade””, salientou D. Joaquim Mendes.
Da Voz da Verdade

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Vaticano II: estar à altura da herança


Pe. Alexandre Palma

Ser herdeiro tem tanto de graça quanto de fardo. Tem tanto de vantagem quanto de tarefa. Por um lado, ao herdeiro é entregue algo que não construiu, algo que não conquistou. De repente, ele vê-se proprietário e senhor de um património que gerações passadas foram reunindo. É-lhe pois, sem qualquer mérito da sua parte, dado gozar do tesouro que outros foram construindo. Mas por outro lado, o herdeiro é também alguém sobre quem repousa a expectativa de estar à altura do bem que recebe e, sobretudo, à altura da confiança de quem lho entrega. Ele sabe-o e, por isso, não poucas vezes a herança se transforma também em fardo. Não é apenas a pressão para não delapidar a herança. É ainda o natural desafio de aumentar e enriquecer o bem recebido. Porque um dia será ele a confiá-lo a outro.
A dinâmica da herança está inscrita no próprio código genético da fé cristã. «O Senhor é a minha herança» (cf. Sl 16 [15], 5), diz o salmista. E Jesus anuncia para os justos: «Recebei em herança o Reino que vos está preparado» (Mt 25, 34). A própria transmissão da fé é isso mesmo: legar o Evangelho como tesouro e herança a outros, a outras gerações.
Celebrar os 50 anos do Concílio Vaticano II é celebrar esta condição de sermos hoje seus herdeiros. De nos deixarmos confrontar com a questão: Que fazemos desta herança? Como a temos enriquecido? Como abraçamos o que o Vaticano II tem de graça e de tarefa? De modo bem sugestivo, G. Routhier (estudioso do Concílio) relia recentemente estes 50 anos à luz de cinco grandes modos de se ser herdeiro (in L’Osservatore Romano 18/1/2013, 5). Há, em primeiro lugar, aquele tipo de herdeiro que se apressa em esbanjar tudo quanto recebeu. Seja por ignorância da riqueza recebida, seja pelo embaraço que esta lhe possa causar, este desafazer-se da herança significa sempre um não lhe reconhecer o devido valor. Em segundo lugar, há aquele tipo de herdeiro que, talvez tomado pelo receio de não estar à altura dos seus antepassados, como que congela a herança, na ilusão de que desse modo lhe é mais fiel. Mas assim nunca chega a gozar do bem recebido e, mais grave ainda, não chega a dar-lhe vida. Em terceiro lugar, uma herança pode sempre ser recusada. Talvez o herdeiro não queira nada dos seus antepassados e, portanto, queira romper com esse laço que o liga aos seus antecessores, sem se dar conta que ele também será um dia antepassado de quantos se lhe seguirão. Em quarto lugar, há aqueles que enleiam a herança numa teia de discussões e contendas estéreis. Será de todos bem conhecido o poder destruidor das acirradas disputas entre herdeiros. É um outro modo de matar a herança, neste caso pelo seu intenso desmembramento. Tudo isto pode ser feito (e tem sido feito) também com o Vaticano II.
O quinto modo identificado por G. Routhier é aquele apontado na parábola evangélica: uma herança só é bem recebida se posta a render (cf. Mt 25, 14-30). É com este desafio que estamos hoje confrontados: fazer frutificar o tanto que do Vaticano II recebemos. Resistindo a todas as tentações de desvalorização, de fechamento, de recusa ou de fragmentação na recepção do Concílio. Por certo as atitudes mais fáceis. Como sempre, a estrada mais fecunda coincide com a mais exigente. Tomar a sério a herança conciliar. Assumi-la. Não apenas como uma riqueza que nos legou o passado. Sobretudo como um tesouro que nos enriquece o presente. Talvez só assim estaremos, de verdade, à altura da herança que nos legaram os Padres conciliares

domingo, 3 de fevereiro de 2013

'Acreditar com o Concílio' - Tema 11: A UNIDADE DA FÉ EXPRIME-SE NA VARI...

"O amor tem a sua verdade"


As palavras do Papa Bento XVI durante o Angelus
Queridos irmãos e irmãs!
O Evangelho de hoje - retirado do quarto capítulo de São Lucas - é a continuação daquele do domingo passado. Estamos ainda na sinagoga de Nazaré, a cidade onde Jesus cresceu e onde todos o conhecem e à sua família. Agora, depois de um período de ausência, Ele voltou diferente: durante a liturgia do sábado lê uma profecia de Isaías sobre o Messias e anuncia o seu cumprimento, dando a entender que aquela palavra se refere à Ele, que Isaias falou dele. Este fato chocou os nazarenos: por um lado, “todos estavam maravilhados das palavras cheias de graça que saiam da sua boca” (Lc 4:22); São Marcos relata que muitos diziam: “De onde lhe vêm estas coisas? E que sabedoria é essa que lhe foi dada?" (6,2). Por outro lado, no entanto, os  seus vizinhos o conhecem muito bem: é um como nós – dizem -. A sua pretensão só pode ser uma presunção (cf. A infância de Jesus, 11). "Não é este o filho de José?" (Lc 4, 22), como se dissesse: um carpinteiro de Nazaré, que aspirações pode ter?
E é conhecendo isso, que confirma o provérbio “nenhum profeta é bem recebido na sua pátria”, que Jesus dirige às pessoas, na sinagoga, palavras que soam como provocação. Cita dois milagres realizados por grandes profetas Elias e Eliseu em favor de pessoas não israelitas, para demonstrar que às vezes existe mais fé fora de Israel. Nesse ponto, a reação foi unânime: todos se levantam e o expulsam, e até tentam jogá-lo no precipício, mas Ele, com calma soberana, passa pelo meio das pessoas furiosas e vai embora. Neste ponto surge a pergunta: por que que Jesus quis provocar esta ruptura? A princípio as pessoas estava admiradas por ele, e talvez poderia ter conseguido certo consenso... Mas, o ponto está justamente aqui: Jesus não veio para procurar o consenso dos homens, mas – como dirá no final à Pilatos – para “dar testemunho da verdade” (Jo 18, 37). O verdadeiro profeta só obedece a Deus, e se coloca à serviço da verdade, pronto para pagar pessoalmente. É verdade que Jesus é o profeta do amor, mas o amor tem a sua verdade. Na verdade, amor e verdade são dois nomes da mesma realidade, dois nomes de Deus. Na liturgia de hoje ecoam também estas palavras de São Paulo: “A caridade... não se ensoberbece, não se enche de orgulho, não é desrespeitosa, não busca seus próprios interesses, não fica com raiva, não leva em conta o mal sofrido, não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade "(1 Cor 13,4-6). Crer em Deus significa renunciar aos próprios prejuízos e acolher o rosto concreto no qual Ele se revelou: o homem Jesus de Nazaré. E esta via leva também a reconhecê-lo e a servi-lo nos outros.
Nisto é iluminador a atitude de Maria. Quem melhor do que ela teve a familiaridade com a humanidade de Jesus? Mas nunca se chocou como os moradores de Nazaré. Ela guardava no seu coração o mistério e soube acolhê-lo sempre mais e sempre de novo, no caminho da fé, até a noite da Cruz e à plena luz da Ressurreição. Que Maria também nos ajude a percorrer com fidelidade e alegria este caminho.