sexta-feira, 15 de julho de 2011

O MUNDO À NOSSA VOLTA

Nada faltará


António Valério, s.j.


O nosso país vive em tempo de incerteza e preocupação, pela situação económica que se tem vivido ao longo dos últimos tempos e que, agora, chega ao ponto da aplicação das medidas que visam resolver estes problemas, sobretudo no cumprimento dos acordos internacionais estabelecidos.

Não se adivinham tempos fáceis e, por isso, a cada cidadão e, particularmente, aos cidadãos cristãos, é pedido um maior esforço de adoptar atitudes e modos de estar na vida que façam destes tempos uma oportunidade de mostrar algo diferente. Somos quase obrigados a adoptar um estilo de vida mais simples, mais despojado, de viver com aquilo que se tem. Somos desafiados a ter um olhar atento às necessidades dos outros, sobretudo os mais pobres, que acabam por ser sempre mais afectados com estas situações.

Já é conhecida a capacidade que as pessoas simples têm de ajudar quem mais precisa. De facto, um dos sinais da pobreza interior é a capacidade de acolher, de ajudar e de sair de si. Não é por ter menos que se é menos. Acredito que, pelo contrário, o ter menos é oportunidade de ser mais, de olhar para o que se tem como dom, de ir percebendo que as coisas essenciais não têm preço nem se guardam em cofres. A simplicidade de vida leva a um aumento da qualidade das relações, de uma maior gratuitidade e serviço.

É muito importante que a atitude cristã do agradecimento e do serviço sejam a pauta para um modo diferente de estar na sociedade. O grande valor de uma sociedade são as pessoas e as relações justas que se estabelecem entre elas. E é neste campo que os cristãos têm uma enorme missão. Mesmo que os ratings ponham a auto-estima nacional a níveis muito baixos, não é por isso que não vamos deixar que a nossa qualidade humana cresça. Pelo contrário, é a resposta mais urgente.

Nestes últimos dias, foi muito significativo o impacto que a morte de Maria José Nogueira Pinto teve nos meios de comunicação, sobretudo o seu “testamento” publicado no Diário de Notícias. Na sua luta contra a doença e o limite, apresenta um extraordinário testemunho de uma cristã implicada no serviço público, sem preconceitos em afirmar a sua fé e confiando absolutamente n’Aquele que nunca faltará. Na crise, no «lixo», nas dificuldades, a confiança em Deus é aquilo que mostra o quanto um cristão é capaz de superar a adversidade com um modo nada ingénuo, mas muito lúcido, de estar na vida.

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