segunda-feira, 7 de março de 2011

Liberdade religiosa

A situação tumultuosa de atropelos e crimes à liberdade religiosa, algumas palavras do Papa na homilia do Natal, a sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz, acções criminosas em vários pontos do mundo, ataques à liberdade religiosa no nosso país, etc., nos levaram a dedicar o dossier do Mensageiro deste mês a este tema.

A liberdade religiosa é um direito de qualquer pessoa, qualquer que seja a sua raça, a sua crença, a sua cultura. Liberdade religiosa que não se faça ostensiva e agressiva contra a liberdade dos outros. Liberdade religiosa não só para cristãos ou católicos, mas para todas as religiões do mundo. Diz-se religiões, não seitas, que muitas vezes exploram, cometem crimes, manipulam pessoas, cometem atentados à liberdade pessoal dos seus membros.

O homem é, por sua natureza, religioso, tem uma tendência para o transcendente, é movido pela sua consciência a buscar o divino, o que não morre, o que gera vida. Essa religiosidade, se bem ordenada e pacífica, se defende os direitos humanos como a vida, a paz, a justiça, é algo de grande no coração de cada homem e de cada mulher. Com isto não queremos dizer que todas as religiões são iguais em valores filosóficos e teológicos, em critérios de vida e de costumes, em métodos de oração e de valores éticos. Mas todos temos que crescer no respeito pela liberdade de todos.

Hoje, um pouco por todo o lado, cometem-se verdadeiros atentados à liberdade religiosa. Dizem os especialistas que hoje a Igreja Católica e outras confissões cristãs são as mais atacadas, e seus membros os que mais sofrem perseguição, calúnia, maltrato, morte. Um mundo cruel, sem respeito pelos outros, um mundo cruel que se deixa guiar pela violência, a injustiça, o crime. Quando não há respeito pela liberdade religiosa, como infelizmente acontece em certos sectores do nosso país, há sempre violência, tirania, meios déspotas e agressivos, atitudes caluniosas, se não até criminosas. Sem respeito pela liberdade religiosa não há paz, nem justiça, nem respeito pela vida e dignidade humanas.

Só na busca daquilo que as outras religiões têm de bom, de justo, de caminho para a santidade, de respeito pelos outros, se pode viver um diálogo sincero, frutuoso, que tente unir, que não semeie divisão nem contenda. Estas são sempre pólos de desunião, de atropelos que geram violência, que semeiam tantas vezes a morte. Seguidores de uma religião que, por motivos vários e em nome das suas crenças, atentam contra a vida dos outros, negam com os seus actos a fé que dizem professar. Esta, se é digna e justa, só pode conduzir à liberdade e à paz. Caso contrário, não é caminho que leva à abertura a Deus, ao respeito pela dignidade humana, à aceitação do modo como outras pessoas vivem sua fé, sua prática, seus costumes.

Qualquer fundamentalismo é sempre mau, é sempre caminho de intolerância e de violência, espaço de terrorismo, de ofensa verbal, de falta de diálogo e de aceitação dos outros, dentro ou fora da sua religião. Mas, de tempos a tempos, renascem, ressurgem certos tipos de fundamentalismos, mesmo não religiosos, que destroem a vida, a paz, o diálogo, a alegria, a convivência pacífica, a estima pelos outros, a capacidade de ver aquilo que de bom há nas pessoas, nas religiões, na prática de costumes ou de cultos. Os fundamentalismos, de um ou de outro lado, desta ou daquela religião ou de alguns de seus membros geram sempre mal-estar, disputa, agressividade, violência em grau que pode ser criminoso. Quantos têm perdido a vida, sido mortos, ficado sem casa, sem família, etc., por causa de fundamentalismos criminosos. A paixão cega sempre. Só o amor liberta. Só a luz nos conduz por caminhos de paz e de unidade.



Dário Pedroso

Sem comentários: