segunda-feira, 7 de março de 2011

Apostolado de Oração

"Interiorizar... para depois extravasar de alegria", por Cláudia Pereira, de Apostolado de Oração

Depois da folia dos festejos carnavalescos, chega um dos momentos mais marcantes para a vida dos cristãos. A Quaresma tem um significado e uma importância vitais e deve ser assumida nesse sentido e não apenas como uma sequência de «dias obscuros», cinzentos, em que somos «obrigados» a privar-nos de determinados hábitos ou exageros.

Liturgicamente, o período que nos leva até à Páscoa é particularmente marcante e os cristãos devem saber aproveitá-lo devidamente, interiorizando as mensagens transmitidas ao longos destes dias, para vivenciarem o Domingo da Ressurreição com um espírito renovado.

Não são meros rituais, que cumprimos por tradição. Se participarmos na Missa de Quarta-Feira de Cinzas, com a imposição das mesmas sobre a nossa cabeça, se interiorizarmos e vivermos intensamente os valores e práticas destes 40 dias, como o jejum, a esmola e a oração, se participarmos na Missa da Ceia do Senhor, em Quinta-Feira Santa, na Celebração da Paixão do Senhor, em Sexta-Feira Santa, e na Solene Vigília Pascal, veremos que o Domingo de Páscoa terá outro sabor.

Na sua Mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa Bento XVI refere que «a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma» – que relatam as tentações de Jesus, a Transfiguração do Senhor, o episódio da Samaritana, a cura do cego de nascença e a ressurreição de Lázaro – nos guia «para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã».

«Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo».

É verdade que a Quaresma nos convida a um estilo de vida mais sóbrio, à simplicidade por exemplo em algumas refeições, à abstinência de carne em determinados dias, ao jejum, renunciando a alguns alimentos.

A propósito do jejum, o Santo Padre lembra que, «tornando mais pobre a nossa mesa, aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso “eu”, para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos».

Outra tónica dominante destes 40 dias, que recordam os 40 dias que Jesus passou no deserto, em oração, é a esmola. Se a esmola e a partilha fazem sentido ao longo de todo o ano, neste período elas assumem particular relevo. Importa, no entanto, interiorizar o verdadeiro significado da esmola: abdicar de algo que nos pertence e, quem sabe, nos faz falta (não interessa tanto dar do que nos sobra) e entregá-lo a quem mais precisa.

Diz Bento XVI que «a prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia».

Atitude particularmente marcante deste período é a oração. Se ela já faz parte do nosso dia-a-dia, porque não intensificá-la e dar-lhe um toque diferente durante este tempo de interioridade? Porque não valorizar ainda mais os momentos de oração em família, que a todos enriquecem e unem? Porque não participar em momentos de oração em comunidade, nomeadamente na Via-Sacra, porque a fé também se vive aí?

Meditando e interiorizando a Palavra de Deus que, na Quaresma, a Igreja nos oferece «com particular abundância», «aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciámos no dia do Baptismo».

Mas de que nos valem esses comportamentos exteriores – jejum, esmola e oração – se interiormente o nosso coração não muda, se não vivemos e interiorizamos a mensagem litúrgica transmitida, se não temos um gesto de amor e de partilha para com aqueles que mais precisam, se, passados esses dias em que até cumprimos alguns preceitos e tradições, continuamos a ter exactamente as mesmas atitudes?

«O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo», adianta o Santo Padre.

Por isso, importa interiorizar... devidamente... para depois extravasar de alegria.

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