sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Todos Pecadores, Todos Santos


Todos Pecadores, Todos Santos
Santos precisam-se, santos no meio do mundo, nas famílias, nas estruturas da sociedade, na vida quotidiana, na escola, nos empregos, na labuta do trabalho. Santos precisam-se no mundo que temos tantas vezes sem Deus e avesso às coisas espirituais e evangélicas. Santos precisam-se mesmo quando muitos fazem troça da santidade, falam contra os sacramentos, não apreciam a virtude, ridicularizam a graça da castidade, criticam as boas maneiras, a honestidade, o pudor, a verdade vivida com audácia, a justiça encarnada até ao coração.
Dário Pedroso, s.j.

O tema da vocação universal à santidade que o Concílio Vaticano II colocou diante de nós para reflexão e no nosso coração como dinamismo de vida nova aberta ao amor santo do Deus Santo, é algo empolgante, divinamente maravilhoso. Todos os fiéis, qualquer que seja sua idade, sua cor de pele, sua raça, sua língua, sua profissão, sua condição social, sua cultura, são chamados por Deus a serem santos. Até parece que o Concílio deixou por instante de olhar à sua volta e de ver como todos somos bem pecadores, como o mal se impõe e manobra, como o pecado envenena o ar que os outros respiram. Mas são estes pecadores e pecadoras que são chamados a ser santos. E como um santo é um pecador que não desiste, é alguém que cai mas que se levanta pelo poder da graça, é alguém que luta com audácia, todos podemos chegar a esse estado de santidade que é a vida de Deus em nós. Daí que todos pecadores mas todos santos, como nos diz São Paulo, pois todos já participamos pelo dom do baptismo da santidade de Jesus, autor e consumador da santidade, todos participamos da vida de Deus, da comunhão com a Trindade, já fomos marcados pelo selo divino do Espírito, ungidos pela sua acção santificadora.

Que paradoxo! Num mundo de pecadores, num mundo que tem a alma e o coração doente, num mundo onde abunda o pecado, o mal, o crime, a injustiça, a violência, a luxúria, a depravação moral, a maldade, a calúnia, a destruição da vida, da fama, do amor, da justiça, há multidão de santos. Conheci muitos e muitas na minha vida, começando por minha mãe. Conheci na Companhia de Jesus em que vivo há quase cinquenta anos muitos santos, padres e irmãos de muita virtude e de vida santa. Conheci nas muitas paróquias por onde tenho andado a pregar, a dar cursos, a confessar, muitos homens e mulheres santos, de vida evangélica, de coração centrado em Deus sempre prontos a fazer o bem. Conheço, nas dioceses onde já dei dezenas ou centenas de retiros ao clero, muitos sacerdotes santos, de vida digna, zelosos, bons, castos, dedicados, pobres e servos do povo de Deus. Já encontrei em Congregações e Ordens muitas irmãs consagradas santas, de virtude comprovada, de caridade exemplar, de vida de união com Deus maravilhosa, de humildade a toda a prova. Encontrei casais santos, fiéis ao seu matrimónio, num esforço diário de caridade, de diálogo, de construção de paz, desejosos de educar bem os filhos, lutando contra tudo o que possa ser egoísmo, egocentrismo, vivendo uma santidade de matrimónio com tudo o que isso implica.

Santos precisam-se, santos no meio do mundo, nas famílias, nas estruturas da sociedade, na vida quotidiana, na escola, nos empregos, na labuta do trabalho. Santos precisam-se no mundo que temos tantas vezes sem Deus e avesso às coisas espirituais e evangélicas. Santos precisam-se mesmo quando muitos fazem troça da santidade, falam contra os sacramentos, não apreciam a virtude, ridicularizam a graça da castidade, criticam as boas maneiras, a honestidade, o pudor, a verdade vivida com audácia, a justiça encarnada até ao coração. Santos precisam-se no mundo à nossa volta onde há leis que atenta a vida e a dignidade humana, onde há governos que manipulam o bem e a verdade, onde há tantos que se meteram no caminho da droga, do roubo, da mentira, da fraude. Santos precisam-se como fermento e sal, como luz no meio das trevas nefasta de um mundo hostil a Deus e ao homem. Santos precisam-se para que os caminhos da vida sejam iluminados por testemunhos heróicos que embelezem o dia-a-dia, que confortem os corações, que nos ajudem a rezar e a sorrir, com uma felicidade que vem de Deus. Santos precisam-se pois o mundo à nossa volta parece corrompido pelo mal, pela violência, até nas famílias que deviam viver como igrejas domésticas, na paz, na concórdia, no diálogo amigo, na relação amorosa.

E o apelo de Deus continua a chegar aos ouvidos e ao coração de todos: “Sede santos, por Eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”. E a mensagem de Jesus continua a ecoar em nossos corações: “Sede perfeitos como o Pai é perfeito”. E São Paulo não nos deixa sossegados ao repetir-nos sem cessar: “A vontade de Deus é a vossa santificação”. Santos precisam-se pois sem eles o mundo morrerá gelado, sem amor, sem justiça, sem verdade, sem carinho. Santos precisam-se para ser presença viva da santidade de Deus e do Deus que é Santo. Mas para que assim seja precisamos de olhar com amor o mundo á nossa volta e fazer tudo para ajudar os outros a mudar, a converter-se, a ser evangelho vivido. A santidade é dom de Deus mas exige a nossa luta, a nossa tenacidade, a nossa audácia, a nossa contínua determinação. Não sejamos medíocres. Não pactuemos com o mal. Não nos deixemos levar pela tentação. Não nos sujeitemos às forças do maligno. Não nos calemos perante a mentira. Não cedamos à tentação da avareza, da ganância, do egoísmo. Homens sede homens. Mulheres sede mulheres. Jovens sede jovens. Cada um no seu lugar, na vida que tem e que assumiu, sermos todos transparência da santidade de Deus.



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