sábado, 26 de outubro de 2013

Com(o) os outros…




Lc 18, 11 Meu Deus eu te dou graças por não ser como os outros homens"
Em matéria de julgamentos, a experiência mostra que é preciso muita humildade (que tem a ver com a verdade e, por isso mesmo, precisa ser procurada!). Por um lado, há o riso de exagerar as qualidades daquilo que é dos outros: “a galinha da vizinha é melhor que a minha”, “o que vem de fora é que é bom”, ou até se elogiam “os maridos da outras” como bem cantado foi por Miguel Araújo. Por outro, há o perigo (de que o fariseu deste evangelho é exemplo) de exagerar virtudes próprias, construíndo auréolas brilhantes, espalhando imagem e “glamour” salpicada de água benta, para se colocar em pedestais, bem acima dos outros, num mundo à parte. E quando toca a misturar a tentação de julgar os outros com a presunção de “defender Deus e a santa religião” o equívoco pode ser ainda maior.
Grande escândalo o de Jesus, em apresentar como modelos da vida da graça as prostitutas, os publicanos, os samaritanos e até as crianças! Que exemplos de ordem e de lei podemos apresentar aos mais novos? Como respeitarão um Deus que parece não castigar os infratores nem recompensar os cumpridores (sabe Deus o esforço de “não ser como os outros”!)? Esta surpresa do Pai que Jesus revela nunca se esgotará para nós. Porque não é a “rama”, aquilo que somos exteriormente, que importa. O que é mesmo importante é o que somos por dentro, é o fundo de nós mesmos onde olhamos Deus face a face ou nos olhamos simplesmente ao espelho. É aí que pode haver encontro que liberta e salva ou auto-justificação que nos fecha ainda mais numa redoma. Na parábola do fariseu e do publicano, mais do que os actos bons ou menos bons, religiosos ou não, o que importa é o interior de cada um. O fariseu veio apresentar os seus créditos e esperar a recompensa, tratou Deus como um patrão e ficou na mesma; o publicano veio de mãos vazias, tratou Deus como alguém que se ama, pediu perdão, e regressou com caminhos novos para percorrer.
Quando Deus se revela mais salvador do que castigador o medo é vencido pela esperança, e a aparência pela verdade. Ficam no desemprego os especialistas em julgar a parte pelo todo, e os “diáconos Remédios” da moralidade (que pena ter ficado associado a esta genial caricatura um grau do sacramento da Ordem tão belo e cujo nome significa “servidor”). Jesus não teve problemas em ser identificado com os “outros”, “Nazareno”, e até chamado “comilão e bebedor de vinho, amigo de publicanos e pecadores” (Lc 7, 34). Porque Ele é o “Deus connosco” e nada do que somos O escandaliza. Jesus sabe bem que, no fundo, somos filhos amados de Deus. E tudo o que impede essa descoberta é que é importante fazer desaparecer!
P. Vítor Gonçalves

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