terça-feira, 18 de setembro de 2012

Vaticano II: Memórias portuguesas do Concílio


D.R.
Lisboa, 18 set 2012 (Ecclesia) – As expectativas com o início do Concílio Vaticano II (1962-1965), as discussões que se geraram entre os mais de dois mil participantes e as dificuldades que se lhe seguiram marcam a memória de quem seguiu estes momentos.
D. António Marcelino, bispo emérito de Aveiro, recorda o anúncio inesperado de um Concilio foi “uma lufada de esperança” para quem, após três anos de vida em Roma, trazia “o coração cheio de inquietações”.
Em texto hoje publicado no Semanário Agência ECCLESIA, este responsável, que integrou a equipa nacional no pós-concílio, com o cónego Manuel Falcão, os padres João Alves, Armindo Duarte, Manuel Vieira Pinto, dinamizando as Semanas Nacionais de Pastoral, lembrou que “a abertura foi progressiva”.
“Quem no início fechou portas, depois as escancarou”, relata, depois de lembrar que “nas dioceses o espírito conciliar demorava a conquistar os próprios bispos”.
Passados 50 anos, D. António Marcelino afirma que Vaticano II ainda não foi aceite “em muitos aspetos” da vida da Igreja.
O padre e jornalista António Rego fala, por sua vez, numa “revolução serena do Espírito”, a que assistiu enquanto estudante de Teologia ao lado de outros “jovens inconformados com tantas áreas da Igreja que pareciam desfasadas”.
“Passados estes 50 anos tenho por vezes a sensação de estar numa espécie de segunda volta onde vejo com respeito e espanto alguns que choram e lutam pelo regresso do passado no mesmo estilo de resistência que encontrei perante a boa nova do Concílio”, observa o sacerdote açoriano.
Para o antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da Igreja, o Vaticano II não gerou qualquer crise: “Só Deus sabe o que seriam os novos tempo sem o seu impulso de esperança”.
Já o padre Luciano Cristino, da Diocese de Leiria-Fátima, evoca a “fortíssima emoção” que sentiu ao acompanhar a inauguração do Concílio, por viver em Roma, e lembra os momentos que acabariam por servir como preparação para a da primeira peregrinação de um Papa, no exercício do seu ministério.
“No final do Concílio, em dezembro de 1965, o cardeal Cerejeira, em nome do episcopado português, convidou os bispos para o cinquentenário das aparições. Já se pensava, nessa altura, em convidar o próprio Papa [Paulo VI], para fazer uma visita ao Santuário, em 1967”, como veio a acontecer.
Aires Gameiro, religioso dos Irmãos de São João de Deus, fala das expectativas de “mudanças democratizantes com autenticidade e mais espírito evangélico” e de algum “mal-estar” que não viria a ser superado: “No final dos anos sessenta deu-se a debandada”.
José Victor Adragão, leigo católico, tinha 15 anos quando João XXIII anunciou a realização de um Concílio (1959) e rumaria depois a Roma, aos 20 anos, numa viagem de comboio que abriu caminho ao “feito espantoso” de assistir a uma sessão do Vaticano II.
“Pouco a pouco, três vias foram tornando-se nítidas e concentrando as minhas expectativas: a reforma litúrgica, o papel dos leigos na Igreja e as relações com os cristãos não-católicos”, relata.
O início do Concílio Vaticano II, a 11 de outubro de 1962, está no centro do dossier apresentado na mais recente edição do Semanário 
 Agência ECCLESIA.

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