À PROCURA DA PALAVRA
DOMINGO IV COMUM
“Que vem a ser isto? Uma nova doutrina, com tal autoridade….” Mc 1, 27
A autoridade que atrai
O pai, interpretado por George Clooney no filme “Os Descendentes,
que, inesperadamente, tem de cuidar das duas filhas porque a mulher teve
um grave acidente, surpreende-se com a pouca autoridade que tem sobre
elas. Irá descobrir que a autoridade tem a ver com convicções, com a
referência a valores fundamentais e comunitários, com a profundidade da
relação, e até com a importância das raízes familiares. Mas a autoridade
é diferente do autoritarismo. A primeira tem em conta o interlocutor, é
uma proposta de crescimento, algo que desacomoda mas que também atrai; o
segundo é afirmação de força e domínio, impõe sem convencer, nada faz
para tornar credíveis as convicções que defende.
A autoridade de Jesus incomodava e atraía. Certamente ninguém
adormecia quando ele falava ou tinha o pensamento noutro lado. Logo no
início do evangelho de Marcos (ainda estamos no primeiro capítulo)
participamos na força transformadora da sua palavra. Imaginamos os olhos
a brilhar dos ouvintes, mas também o incómodo da religião de
subsistência, dos ritos vazios de vida, da ideia de um Deus distante ou
indiferente ao quotidiano. Que dizia Jesus de novo, com que palavra
expressava o amor, mas também como semeava o projecto que Deus tem para
todos, como maravilhava quem O escutava?
É curioso como o homem com o “espírito impuro” estava calmo e
integrado na assembleia até ouvir Jesus. Talvez fosse um dos mais
“praticantes”, habituado a uma religião que “não aquecia nem arrefecia”.
A palavra viva de Jesus faz revelar a prisão daquele homem. E liberta-o
com a mesma palavra. Não é uma mudança fácil (é agitado violentamente,
solta um forte grito) mas tem o sabor de uma recriação. É a bondade de
Deus em movimento, capaz de devolver a verdadeira liberdade que
compromete, que leva a descobrir a vida nova em Cristo, que faz nascer e
crescer a fé como motor de transformação do mundo.
Por estes dias Mons. Fernando Sebastián, Arcebispo emérito de
Pamplona e Tudela, falando aos padres de Lisboa nas Jornadas de Formação
Permanente sobre a “Nova Evangelização”, afirmou-a como “a acção
pastoral que se ordena directamente a fortalecer a fé dos que crêem
(muitos afastados, débeis, feridos…) e a fomentar, provocar a fé dos que
não crêem, que desertaram da Igreja ou nunca acreditaram. Isto
significa uma redescoberta da fé como raiz da vida cristã. Temos de
superar a pastoral utilitária (…) a dispersão. Parecemos a Igreja dos
centenários, das solenidades. A fé é conversão a Deus, a Jesus Cristo, à
vida eterna, ruptura com o modo de ser do mundo, comunhão com a Igreja.
Não podemos conformar-nos com menos.” A autoridade tem a ver com o “mais” do amor: e isso atrai!
P. Vitor Gonçalves
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