segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Carta do Santo Padre Ao Cardeal Patriarca D. José Policarpo

. José Policarpo celebra 50 anos de Ordenação: ‘Ninguém pode servir a Igreja se não a amar como Cristo a ama’ 04 Set. 2011
No dia 15 de Agosto celebrou nos Jerónimos os 50 anos da sua Ordenação, no meio dos mais de dois mil jovens de Lisboa que iam partir para Madrid, rumo à Jornada Mundial da Juventude. A 20 de Agosto, assinalou em Alvorninha os 50 anos de Missa Nova, entre os seus conterrâneos, familiares e amigos. Em ambas as celebrações, D. José Policarpo falou de amor. Amor à Igreja. E também de fidelidade.

A 15 de Agosto de 1961, na Sé Patriarcal de Lisboa, o jovem José Policarpo, então com 25 anos, é ordenado sacerdote. Meio século passou e, a 15 de Agosto de 2011, a Diocese de Lisboa reúne-se para agradecer a vida e obra de quem há 50 anos se entregava nas mãos de Deus. Hoje, todos o conhecem. Afinal, aquele jovem vindo de Alvorninha – uma pequena freguesia do concelho de Caldas da Rainha – é agora o Cardeal-Patriarca de Lisboa. No Mosteiro dos Jerónimos, todos os cristãos queriam saudar o seu bispo. Em especial os jovens, de mochila às costas e com Madrid no horizonte para o encontro com o Papa, na Jornada Mundial da Juventude. “Celebramos, hoje, 50 anos do meu sacerdócio. Pouca importância teria se não fosse neste contexto”, sublinhou D. José Policarpo, referindo-se à dimensão de serviço de Maria, no dia em que a Igreja celebrava a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. “Porque aqui estão as grandes motivações de um sacerdote e de um cristão: procurar servir a Igreja e nunca a manchar com os seus pecados; procurar fazer dela um povo e nunca deixar que ela se transforme numa amálgama de indivíduos, cada um à procura do seu caminho; procurar que a Igreja seja a esposa fiel, ansiosa por escutar a voz do esposo e segui-la, com todo o carinho e com coragem para enfrentar os tempos e as dificuldades”.

Na sua homilia, D. José Policarpo resumiu toda uma vida de serviço. Uma vida dedicada à Igreja. O próprio Cardeal-Patriarca de Lisboa assume que não foram anos fáceis. Mas foram vividos, sempre, na fidelidade ao ministério. “Em dois mil anos, a Igreja atravessou tudo e conheceu de tudo. Vem da sua própria inserção na história as dificuldades que ela encontra. Mas ela é conduzida por Aquele que venceu a morte. E no triunfo de Jesus Cristo, nós encontraremos o triunfo da nossa própria fidelidade”, acentuou.



Uma Igreja luminosa, sem ruga, esplendorosa

A celebração nos Jerónimos, que foi o ponto alto do Jubileu Sacerdotal (1961-2011) de D. José Policarpo, marcou o envio dos jovens da diocese para Madrid. À juventude presente na celebração, o Cardeal-Patriarca lembrou a importância da fidelidade de quem se entregou e acreditou. “Tantas vezes Maria teve que dizer ‘Eu creio, porque te amo’. Também nós, na nossa longa caminhada, temos de dizer tantas vezes ‘Eu creio’. E às vezes é a única afirmação verdadeira do amor que desejamos, do amor que queremos ter”. Aos mais de dois mil jovens aconselhou-os apenas a pensarem se “a experiência forte de Igreja” que iam fazer em Madrid, no âmbito da JMJ, resultava do chamamento de Deus nas suas vidas.

“A primeira coisa que Deus espera nesta nossa caminhada, de resposta à vocação que Ele nos deu, é fazer com que a Igreja a que pertencemos seja brilhante, sem ruga, esplendorosa. Essa é a grande motivação da nossa fidelidade, da nossa generosidade, da nossa luta, da nossa verdade: fazermos com que a Igreja nunca seja manchada em nenhum dos seus filhos. Nós sabemos que essa Igreja luminosa, sem ruga, é uma realidade da glória celeste, do fim dos tempos, mas constrói-se agora, nesta caminhada”, garantiu o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na celebração que assinalou os seus 50 anos de sacerdote.



A Eucaristia como o momento da verdade

A chamada Missa Nova – segundo a tradição, a primeira Eucaristia celebrada pelo novo presbítero na sua paróquia de origem – é uma celebração que marca cada novo padre. Com D. José Policarpo não foi diferente. Em 1961, após ter sido ordenado na Sé, o então jovem padre Policarpo regressa à terra natal para celebrar a sua Missa Nova. A 20 de Agosto, cinco dias após a ordenação, Alvorninha acolhia a primeira Missa do mais recente padre da Diocese de Lisboa. Também agora, cinquenta anos depois, ao celebrar o seu jubileu sacerdotal, o Cardeal-Patriarca de Lisboa regressou às origens e foi ao encontro dos seus conterrâneos, familiares e amigos. “A maior parte das pessoas que nesse dia participaram na minha primeira Missa já cá não estão, já foram para o Céu. Por isso, esta celebração de acção de graças será também por todos eles”. A verdade é que muitos dos presentes nesta celebração em Alvorninha tinham estado presentes na Missa Nova do então padre Policarpo. E foi o próprio quem o comprovou. “Ponha o dedo no ar quem esteve na minha Missa Nova!”, pediu D. José Policarpo. Como quase um terço da assembleia levantou a mão, o Patriarca de Lisboa sorri. “Ah, afinal ainda há muitos”, salienta.

Na homilia, recordou aquela sua primeira Eucaristia. “Há 50 anos foi a primeira vez que como sacerdote presidi ao povo de Deus para celebrar a Eucaristia. E desde esse dia eu senti que na vida do sacerdote esse é o momento da sua verdade: da verdade da sua fé, da verdade da sua missão, da verdade daquilo que se espera dele e que Deus lhe pede. A primeira Eucaristia é apenas um primeiro momento de uma longa caminhada de quem procura na Eucaristia o verdadeiro rosto de Jesus”. D. José Policarpo convidou os cristãos a rezarem “por todos os sacerdotes”, para que eles sejam “capazes de fazer da Eucaristia o ponto de partida e o ponto de chegada” da vida dos cristãos.

Neste dia festivo, que incluiu também um almoço convívio e a actuação do Rancho Folclórico e Etnográfico ‘Os Azeitoneiros de Alvorninha’, os jovens distribuíram uma pagela comemorativa deste jubileu sacerdotal, com a inscrição: ‘Ninguém pode servir a Igreja se não a amar como Cristo a ama’. Uma frase que resume todo um pontificado e uma vida de entrega à Igreja.



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Carta do Papa a D. José Policarpo



Ao nosso Venerável Irmão

CARDEAL DA SANTA IGREJA ROMANA, JOSÉ DA CRUZ POLICARPO

Patriarca de Lisboa



Ao celebrar-se a Solenidade da Assunção ao Céu da Virgem Santa Maria, queremos, Venerável Irmão, segundo costume fraterno, dirigir-te a palavra. Ao mesmo tempo, desejamos estar contigo por este escrito, pelo qual mais claramente se evidencie aquele acontecimento singular, a saber: o dia do quinquagésimo aniversário da tua recepção do presbiterado. Tal facto insigne da tua vida apostólica deve ser honrosamente proclamado por muitos.

Já nos antigos anais se recorda muita coisa notável dessa cidade em que sobressaem os primeiros varões e testemunhas do preclaro nome cristão. É de facto conveniente divulgar os salutares costumes tradicionais e os exemplos a imitar. Incitado por eles, do modo que te foi próprio, compareceste um dia para receber a sagrada ordenação e os dons do Salvador que devem ser largamente partilhados.

Desde o momento em que o Nosso Antecessor, Venerável Servo de Deus Paulo VI, te quis Bispo Auxiliar de Lisboa, agiste com múltiplas forças para que esta comunidade fruísse de benefícios mais abundantes, e depois recebeste-a, primeiro como Coadjutor e mais tarde para a governares de pleno direito, pois o Beato João Paulo II julgou-te seres aí mais útil como dispensador das riquezas de Cristo e fiel ministro da Igreja.

Conhecemos bem, Venerável Irmão, terem sido estes anos distinguidos pela sólida doutrina, pelo conhecimento preciso da disciplina eclesiástica, pelo intenso labor na ilustre Sé de Lisboa. Nela começara a manifestar-se os recursos, largamente difundidos, das tuas virtudes sacerdotais e episcopais. Tais recursos foram também oportunamente transmitidos a todo o País, enquanto Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. Nem queremos omitir o que costumas fazer nos Dicastérios Romanos, relatado justamente no Colégio dos Cardeais.

Queremos que estejas persuadido de que desejamos que o teu pastoreio se realize com a honra conveniente, o que comprovamos publicamente, em toda a parte, com esta Nossa Carta. Tendo por isso chegado esta feliz recordação da tua ordenação sacerdotal, vivamente nos congratulamos contigo. Pedimos principalmente ao próprio Divino Pastor, que seja para ti remunerador generoso dos teus méritos e igualmente sustentáculo do teu trabalho. Nós na verdade, com o maior afecto e relação fraterna, damos-te em primeiro lugar a Ti, Venerável Irmão, a Bênção Apostólica e a estendemos para que seja comunicada a toda a tua comunidade.



Dada em Castelo Gandolfo, no dia 3 do mês de Agosto, no ano de 2011, sétimo do Nosso Pontificado.



Bento XVI, Papa

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