sexta-feira, 15 de abril de 2011

O Mundo à Nossa Volta

Mistério Pascal: Revelação do Amor


Dário Pedroso, s.j.

Estamos a chegar à celebração dos mistérios pascais. Muitos cristãos, pelo que vemos e ouvimos, parecem ter perdido o verdadeiro sentido das festas pascais. O mundo à nossa volta não nos ajuda a preparar bem e a celebrar com encanto, paixão e verdadeira alegria os mistérios do Senhor, o seu Mistério Pascal. Precisamos de parar, de ouvir, de reflectir, de rezar, de nos prepararmos mais proximamente para celebrar o Amor. Muitos andarão preocupados com festas, com toilettes, com passeios, com banquetes familiares, com tanta coisa que o mundo à nossa volta nos atira aos olhos, como poeira que nos impede de ver e viver o amor louco de Jesus Cristo. Talvez outros, porque em tempos difíceis de crise, de desemprego, de falta de dinheiro, de paz, de consolação, também tenham dificuldade em celebrar o amor pascal. Vamos reflectir para melhor rezar e viver.

Toda a Vida do Verbo Encarnado, de Jesus de Nazaré, foi manifestação do amor trinitário, ou seja, do Amor que Deus é. O Verbo veio manifestar esse amor, veio vivê-Lo no meio de nós, é o Amor encarnado, vivido, assumido até às últimas consequências, mas o Tríduo Pascal coloca diante de nós, dum modo mais evidente, a revelação desse amor. Deus é Amor (cf. 1 Jo 4, 8), e o mistério pascal é a mais solene e rica revelação desse amor, numa trilogia enriquecida pelos momentos mais significativos da experiência pascal de Jesus.

Amor eucarístico de Quinta-Feira Santa, amor em que Jesus lava os pés com a humildade de escravo, em que institui a Eucaristia como sacramento de amor, em que institui o sacramento da Ordem para que homens possam perpetuar a sua oferta e os outros sacramentos, em que Se dá a nós na entrega mais generosa e mais total, como Sacerdote e Vítima, em que faz a bela e longa Oração sacerdotal que S. João coloca no capítulo 17 do seu Evangelho. Amor eucarístico que prova a eloquência da dádiva do novo Cordeiro pascal que Se entrega para ser nosso alimento, em que Jesus quer ficar connosco no sacramento da Eucaristia, em que há a oração pela unidade de todos, com Ele, por Ele e n’Ele. Amor eucarístico em que o Bom Pastor Se dá em alimento às suas ovelhas, em que o Pão Vivo se torna manjar celeste, em que homens são investidos do poder sacerdotal. Que maravilhoso dia, o de Quinta-Feira Santa! Que manifestação tão bela do amor de Jesus Eucaristia e de Jesus Sacerdote! Temos que aprender com Ele a amar e a servir, a viver gestos de lava-pés e a ser Eucaristia viva para nos darmos sempre mais aos outros. A Eucaristia é escola de amor, de dom, de serviço, de entrega. E são estas atitudes que nos faltam muito cada dia da nossa vida. Precisamos de amar, de amar mais, de aprender sempre a arte de um novo amor. É o que o mundo à nossa volta mais necessita.

Amor crucificado de Sexta-Feira Santa, em que a vítima Se oferece em holocausto na Cruz, em que se dá a maior prova de amor, a morte pelos amigos, em que o Cordeiro que tira o pecado do mundo Se deixa matar para nos remir e salvar, em que a misericórdia se torna operante, perdoando, remindo e fica perpetuada com a palavra «Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem». Amor crucificado em que o Cordeiro Imaculado Se oferece pela salvação de todos, em que o Bom Pastor vai até ao extremo do dom da vida, em que a oferta é feita em pleno holocausto. Amor crucificado simbolizado no Coração aberto, para provar a «loucura» apaixonada do nosso Deus, em que todos somos aspergidos pelo sangue redentor, em que Jesus estabelece o Reino, em que a Igreja sai do seu lado aberto no símbolo da água e do sangue, os sacramentos do Baptismo e da Eucaristia. Amor crucificado em que Jesus continua a ter sede de nós, da nossa amizade, do nosso amor, da nossa entrega generosa e fiel. Amor crucificado que nos quer ajudar a assumir o sacrifício e a dor, ajudar a sermos uma oferta permanente para que o mundo à nossa volta sofra menos e tenha a vida de Deus em abundância, tenha mais pão, mais amor, mais paz, mais justiça.

Amor ressuscitado de Domingo de Páscoa, continuado em todo o tempo pascal, em que a paz e alegria invadem o coração e vida dos cristãos, começando pelos apóstolos, em que lhes é dado o poder de perdoar e a primeira efusão do Espírito, em que Jesus nos envia em missão, para ser no mundo suas testemunhas. Amor ressuscitado em que nos é dito que Deus é nosso Pai e que somos irmãos de Jesus, em que se gera a fraternidade universal e a comunhão de irmãos, em que o Cristo Pascal nos introduz na comunhão trinitária. Amor ressuscitado em que a Igreja é consolidada pela força do Espírito, em que Jesus nos convida, como a Tomé, a entrar em seu Coração aberto, em que somos enviados pelo mundo inteiro a baptizar, a anunciar o amor, a fazer discípulos. Amor ressuscitado em que Jesus, doravante, fica presente e actuante na Igreja, na Palavra, na Eucaristia, em nós, em todos, sobretudo nos mais pobres e nos que sofrem (cf. Mt 25, 31 e seg.). Que maravilha nos oferece o amor Ressuscitado! E esse Senhor continua presente em nós, sempre vivo para ser nossa paz, nossa força, nossa esperança, como o mundo à nossa volta necessita.

Trilogia do amor, amor-perfeito com três pétalas: eucarístico, crucificado, ressuscitado. O mistério pascal torna-se a revelação mais esplendorosa do amor. Viver o mistério pascal é entrar neste circuito divino do amor. Vamos vivê-lo mais a sério, com mais oração, mais partilha com os outros, mais desejo de sermos testemunhos vivos do amor

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