terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Mensagem do Padre Dário Pedroso

EIS O NOSSO DEUS
por Dário Pedroso, s.j.

No meio das prendas, das festas, das iluminações, das árvores de Natal e do pai natal, muitos já não conseguem descobrir o Deus que nos nasceu feito Menino, nascido da Virgem Maria. Ele é o nosso Salvador, nosso Senhor, nosso Rei, nosso Amigo. Ele vem para nos dar a sua vida divina, para nos mergulhar na vida trinitária, para nos fazer participar na alegria do seu Nascimento.

Quem de nós saiu deste Natal renascido por dentro, mais caridoso e mais orante, mais justo e mais misericordioso? Quem saiu deste Natal a ser mais paz para os outros, a estabelecer relações amigas de comunhão fraterna? Quem estava zangado e de relações cortadas e neste Natal fez as pazes e estabeleceu comunhão? Quem se preocupou menos com as prendas e abriu o coração aos mais pobres, mais doentes, mais sós, mais abandonados? Quem neste Natal ousou, com caridade cristã, sentar um pobre à sua mesa, ou, se não foi capaz de tanto, ir ao encontro do pobre e marginal, suavizando dor, solidão, tristeza e fome?

Sem abrirmos o coração ao Menino que é Deus verdadeiro e sem rasgarmos os corações para amar mais, sermos mais justos e dedicados, mais serviçais e amigos, mais atentos aos outros, sem semear à nossa volta paz e alegria verdadeira, não há Natal, não há Nascimento de Deus em nós e de nós em Deus. Não basta presépio, Missa do galo, etc. Urge nascer por dentro para uma vida diferente, para uma vida evangélica de mais amor e mais justiça, mais verdade, mais compromisso com os outros, mais oração que conduza ao amor actuante e vivo.

Tempos de crise? Parece que sim. Mas há sinais que até parece que não. Os jornais e os telejornais falam em gastos exagerados, de levantamentos imensos, como nunca, nos multibancos. Hipermercados cheios de gente sempre a comprar. Afinal, a crise não é de todos nem paga por todos. O mundo à nossa volta, confuso, cheio de fraudes, de mentiras, de falsidades, de poeira que nos lançam nos olhos, não nos deixa acolher Aquele que nos pode dar a paz e a graça, a salvação, Aquele que nos quer converter e fazer mais felizes, Aquele que quer viver em nós e connosco.

Se, depois do Natal, a vida continua na mesma, o coração não mudou, a oração não cresceu, o amor pelos outros não aumentou, a injustiça e a mentira continuam na vida quotidiana a fazer seus estragos, em que ficou o nosso Natal? Houve mesmo Nascimento? Deus entrou em nós e renovou-nos a sério? Demos lugar ao Menino? Que ficou do Natal: uma árvore para deitar fora, umas prendas para guardar, um presépio e umas iluminações para arrumar até para o ano? Que ficou mais?

Quantos cristãos ficaram sem oração, quantos católicos sem Eucaristia, quantos corações sem a graça da comunhão, quantos sem a paz e a alegria que o Menino nos veio trazer? Quantas famílias continuaram desavindas, quanta violência doméstica a fazer as suas vítimas, quanto estômago vazio e sem consoada, quanto velhinho só e abandonado? Quantas crianças sem carinho dos pais ou dos familiares, tantas vezes exploradas de um modo criminoso? Quanta falta de partilha fez o Natal de alguns mais triste, mais só, mais amargo?

E que dizer daqueles que gastaram rios de dinheiro em luxo, em toilettes, em banquetes, em noites de orgias? E que dizer daqueles que, na noite de Natal, se meteram ainda mais na droga, na prostituição, no roubo? E que dizer daqueles que fecharam o coração à paz com a família, ao restabelecimento de relações com outras pessoas? As trevas não deram lugar à Luz. Não houve Natal a sério, pois não houve Nascimento de Deus em nós e de nós n’Ele.

Mas pode suceder, pelo dom da graça, que tudo se possa recompor, que renasça a esperança, pois Ano Novo é vida nova. O Menino está vivo. Ele está connosco, pois é o Emanuel. É sempre tempo de graça, de dom, de conversão, de mudança. Deus quer fazer em nós seus milagres de dom e de graça. Porque esperamos? Saibamos abrir-Lhe o coração e a vida, a porta da nossa casa, o ambiente da nossa família. Façamos a Festa de Deus. Alegremo-nos n’Ele. Deixemos que Ele seja em nós semente divina de vida nova. Deus quer, Deus deseja, o Menino nasceu para isso. Não percamos a esperança. Fica-nos sempre o desafio de acolher o nosso Deus.

em O Mundo à Nossa Volta, APOSTOLADO DE ORAÇÃO, 23-12-2010

Sem comentários: