quinta-feira, 14 de outubro de 2010

A COMUNIDADE MODELO (4)
«Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, o temor dominava todos os espíritos. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum. Vendiam terras e outros bens e distribuíam o dinheiro por todos, de acordo com as necessidades de cada um.


Como se tivessem uma só alma, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão em suas casas e tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus e tinham a simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava, todos os dias, o número dos que tinham entrado no caminho da salvação.» Act 2, 42-47


«Eram assíduos…à fracção do pão»

Fiquei a reflectir nesta característica tão importante das primeiras comunidades cristãs e tive de, forçosamente, reconhecer que nós cristãos católicos, no nosso tempo, não nos apercebemos ou sequer percebemos a real dimensão da importância de sermos assíduos à Eucaristia, como ápice da vivência da fé, como imprescindível à nossa vida cristã.

Com efeito, a Igreja que somos e a que pertencemos, Igreja Sacramental, todos os dias, em todas as partes do mundo, nos oferece a celebração da Eucaristia, memorial que torna presente, realmente presente, Jesus Cristo Nosso Senhor e Salvador.

Li em tempos num livro chamado "A fonte da Liturgia” de Jean Corbon, uma frase que me chamou a atenção e me deu alguma luz sobre esta presença real e verdadeira de Jesus Cristo, no Seu Todo, na Eucaristia: «Cristo, por ter ressuscitado, abriu uma brecha no muro do tempo mortal»

Com certeza que a presença real de Cristo na Eucaristia é um Mistério ao qual não podemos aceder totalmente pela razão, mas sim pela fé, dom de Deus aos homens, que O procuram de coração aberto.

Mas podemos humanamente perceber, que tendo Jesus Cristo, (verdadeiro Deus e verdadeiro Homem), ressuscitado, vencido a morte, venceu o tempo, o tempo que o homem conta na sua própria vida, contando-o em relação à sua, (do homem), própria morte, como um fim, que afinal deixa de o ser, porque em Cristo o homem alcança a imortalidade e o tempo deixa de o ser.

Assim, Jesus Cristo, vencida a morte, vencido o tempo, porque é Deus a Quem nada é impossível, faz-se presente sempre, verdadeiramente presente em cada Eucaristia celebrada por um sacerdote ordenado.

E é esta realidade que nós, cristãos católicos, tantas vezes não percebemos, não meditamos, não reflectimos e por isso mesmo não damos, repito, não damos a real e imprescindível importância, na nossa vida de filhos de Deus, discípulos de Cristo.

E nem nos apercebemos da infinita graça que a Igreja todos os dias coloca ao nosso alcance, na celebração dos Sacramentos.

Há uns anos atrás fui, com um grande amigo meu hoje sacerdote, ter um encontro com um Bispo americano de uma Igreja Evangélica.

Tratava-se de uma conversa preliminar para um possível encontro ecuménico, entre diversas igrejas cristãs, tal como já tinha acontecido noutros países da Europa e não só.

Estava também nesse encontro um Pastor português dessa Igreja.

No meio da conversa, muito agradável, por razão que agora não lembro, falou-se da Eucaristia, que esse Pastor presente “desvalorizou”, embora sem qualquer tipo de acinte, ou desprezo.

Nessa altura o Bispo americano tomou a palavra, e defendeu veementemente a Eucaristia, dizendo que era um Sacramento em que ele acreditava, que era uma riqueza imensa da Igreja Católica, e que ele lamentava profundamente não comungar, quando estava em cerimónias ecuménicas e havia celebração da Eucaristia.

Não me lembro obviamente das suas palavras, mas lembro-me da sua atitude e da forma intensa como falou sobre a importância da Eucaristia.

Ficou-me sempre esta impressão de que, infelizmente, nós católicos temos a riqueza maior que o Senhor nos deixou, e d’Ela não aproveitamos, d’Ela não vivemos a vida nova que nos é sempre dada.

Escrevo estas palavras e chego rapidamente à conclusão de que não tenho palavras para falar sobre a Eucaristia, a «fracção do pão».

Assim e para que percebamos melhor este Sacramento de amor infinito que o Senhor nos deixou sirvo-me do livro

Eucaristia" do Cardeal D. José Saraiva Martins - Universidade Católica Editora - Lisboa 2005 :Joaquim Mexia Alves

Sem comentários: