domingo, 19 de julho de 2009

AMIGOS DE DEUS, SERVOS DOS HOMENS

A proclamação de um Ano Sacerdotal, a começar na Solenidade do Coração de Jesus, dia 19 de Junho deste ano, e a terminar na mesma Solenidade do próximo ano, parece ter surpreendido a muitos. Mas o Papa, Pastor Supremo, com sua solicitude, com a graça e a sabedoria do Espírito, saberá bem porque determinou e proclamou este Ano Sacerdotal.

Os sacerdotes têm sido, nas últimas décadas, aqueles membros da Igreja mais expostos a combates, a lutas violentas, a perseguições, a crises de vida e de vocação. Precisamos todos de nos lançar, com renovado ânimo, a reavivar em nós o dom do sacerdócio, a animar-nos nos compromissos que fizemos no dia da ordenação sacerdotal, pois a Igreja e o mundo precisam de sacerdotes santos.

O sacerdócio não pode ser assumido como uma profissão que se desempenha, mas como uma missão que se assume com paixão e encanto. Somos «amigos de Deus e servos dos homens» e, por isso, precisamos de ser homens marcados pelo divino, assumindo a graça da experiência do sobrenatural. Não somos funcionários do sagrado, mas temos que ter de Deus uma experiência vital, amorosa, que passa pela vida de oração e sacramental pessoal, mais profunda e vivida com mais encanto.

Como sacerdotes, nascemos da Eucaristia e para a Eucaristia, e devemos ser celebrantes dos mistérios com renovado amor, com zelo, com empenho, com fé viva e amorosa. Homens da adoração e do louvor, da reparação e da consagração. Homens de joelhos e de coração no sacrário, onde está o Amigo, o Único e Eterno Sacerdote.

Homens da divina misericórdia, da celebração amorosa do sacramento da Reconciliação, acolhendo os nossos irmãos e irmãs e sempre disponíveis para distribuir o abraço do Pai do pródigo, curando corações, alegrando os irmãos e as irmãs com a divina misericórdia, ajudando a fazer festa no coração de todos, como verdadeiros «bons pastores».

Homens apaixonados pela missão que Jesus nos entregou e que a Mãe Igreja, sempre missionária e evangelizadora, coloca no nosso coração, na nossa acção sacerdotal, na nossa vida, sempre acolhida com zelo, com fogo no coração, com renovado empenho, estando atentos, com coração de «pai», aos mais idosos, mais pobres, mais doentes, mais marginalizados, aos que não têm pão, casa, Deus...

Homens centrados em Jesus, olhando continuamente para Ele, deixando-nos apaixonar pelo seu Coração, contemplando-O como Amigo e Irmão, no diálogo orante, num «tu a tu» que apanhe as fibras mais íntimas do coração, verdadeiramente apaixonados pelo nosso Senhor, centrando n’Ele a vida, o coração, o ser, deixando-nos divinizar no dia-a-dia pelo contacto assíduo com a fonte da vida e da graça.

Homens de coração pobre, casto e obediente, no renovado encanto de imitar Jesus de Nazaré e ser, no meio das comunidades, testemunhas vivas d’Ele, como que escrevendo um quinto evangelho, com as nossas vidas dedicadas, serviçais, generosas, dando a vida pelo Senhor e pelos homens, sem nos pouparmos a sacrifícios, a canseiras, à doação total do nosso coração, do nosso tempo, das nossas energias, das nossas vidas.

Homens «amigos de Deus», escolhidos por Ele, sabendo cultivar cada dia o dom da nossa vocação sacerdotal, no meio das tentações, das lutas, dos apegos desordenados, das seduções mundanas, nos momentos de cansaço, de desânimo, de «revolta», quando nos sentimos menos acolhidos, menos compreendidos, mais marginalizados, mais tristes, mais envolvidos pelas trevas do mundo.

Homens descobrindo sem cessar o encanto do serviço generoso, vendo em cada irmão e em cada irmã o rosto de Jesus, num desejo incessante de amar ao jeito d’Ele, de servir dum modo mais radical, de querer estar em contínuo «lava-pés», sendo verdadeiros «bons samaritanos», porque percebemos que a medida do amor é amar sem medida e que o «amor» é a única solução para a acção pastoral.

Homens que, apesar da nossa fragilidade, sabemos que possuímos um tesouro em vaso de barro, e queremos tratar com amor renovado esse tesouro, vivendo as vicissitudes da vida sacerdotal como um desafio a sermos cada dia mais fiéis ao dom que nos foi concedido, gratos pelo chamamento, pelo dom da unção sagrada, pela participação no Sacerdócio de Cristo, vivendo a alegria do dom e do serviço, com fogo no coração, com a alma abrasada em Deus, com uma vida santa.
Dário Pedroso, s.j.

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