sexta-feira, 27 de julho de 2012

O MUNDO À NOSSA VOLTA


 Viver a esperança 
 Dário Pedroso, s.j.
 O mundo à nossa volta tem muitos sinais de “doença”. A alma do mundo está doente: crimes, guerras, violência doméstica, fraudes de toda a ordem, milhões a morrer à fome, milhões doentes de sida, milhões de drogados, milhões de desempregados, injustiças criminosas, roubos sem conta, ódios que semeiam guerras, como na Síria, ou na matança de cristãos na Nigéria. Um mundo doente onde ainda há muita pedofilia, milhões de abortos, muita depravação moral, muito divórcio e muito adultério, muita criança abandonada pelos pais, muitos idosos sós e desamparados. Muito estômago vazio, muitos milhares pessoas sem emprego, muita mentira e falsidade, mesmo em tribunais. Estamos perante um mundo que apresenta muitos sintomas de doença. E a Igreja, inserida neste mundo, também sofre de muitas doenças. Que o diga o Santo Padre Bento XVI, cujo gabinete pessoal foi assaltado e de onde lhe roubaram documentos pessoais. E que nos repita o que disse aos cardeais, por ocasião do Natal: que o maior mal da Igreja, os piores inimigos, estão dentro dela. Mas a doença vai mais longe: pedofilia de tantos padres, muitas religiosas dos Estados Unidos a serem defensoras e apologistas do aborto, muitos cristãos leigos e mesmo membros da hierarquia a não saberem o que é a obediência fiel e generosa, muita crise vocacional sobretudo na velha Europa tão secularizada e a braços com problemas tão graves, etc. Congregações que há mais de 20 anos não têm uma vocação, sacerdotes idosos, alguns com mais de 80 anos, a terem ainda a “carga” de ser párocos de uma ou até mais paróquias, etc. Perante um mundo e uma Igreja assim não podemos perder a esperança. Temos a certeza da fé que Jesus está connosco, como prometeu, e o seu Espírito não nos abandona. Sabemos que o Pai nos ama e que a Mãe, a Virgem Maria, nos ampara e vela por nós. Temos a certeza que há muita gente boa e que faz muito bem no mundo, muito serviço e muita caridade, muita oração e muita dedicação ao próximo. Nem tudo está perdido. Vivamos a esperança de um mundo, de uma sociedade renovada pela graça e pela sabedoria de Deus no coração de muita gente, de muitos homens e mulheres honestos, empreendedores, dedicados, dispostos a fazer o bem e a levar por diante muita dedicação em favor dos pobres, dos marginais, dos sem emprego e dos sem-abrigo. Vivamos a esperança que nos nasce da certeza que depois do Inverno vem a Primavera, que haverá mais flores, mais pão, mais encanto, mais alegria em viver, mais estímulos para fazer o bem. Por mais sombria ou tempestuosa que seja a noite, não deixará de surgir a madrugada e com ela a esperança da luz da vida, do sol que frutifica e aquece, da beleza que nos encantará e fará sorrir. A esperança que nos enche a alma nos levará a rezar mais, a rezar muito, na certeza que a oração é força que alcança dons e graças, que “vence” a Deus e nos dá o dom de verdadeiros milagres. A esperança faz-nos participar na Eucaristia como sacramento de amor e de vida nova, de transformação, de fermento de um mundo novo, de uma Igreja renovada, de um novo Pentecostes. A esperança ilumina-nos os caminhos da vida e faz-nos acreditar que o Coração da Mãe é o nosso refúgio e que a vitória sobre o mal e o pecado virá do seu Coração Imaculado. A certeza que a misericórdia é infinitamente maior que o mal e o pecado nos dará a esperança da graça e da santidade. As crises, levadas e assumidas em esperança, são sempre benéficas, transformam corações e vidas. Não podemos ficar sepultados na lamentação, na tristeza, olhando o mal, a desgraça, deixando-nos corroer pelo pessimismo doentio. Temos que ser profetas da esperança, mensageiros da boa-nova, testemunhos da vida e do amor, sementes de renovada alegria. Não podemos desistir de acreditar no Amor que Deus é e no Amor que nos tem. Sabemos em Quem acreditamos. Só Jesus, o Salvador, é portador de graça e de vida, de cura e de salvação, de misericórdia e de esperança. E Ele está Vivo e glorioso, é a nossa esperança. Se tudo reverte em favor dos que amam a Deus, como afirmou S. Paulo, então até o mal e o pecado podem ter seus aspectos positivos e serem caminho de salvação e de graça.

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