1. Passemos para o outro lado do mar! E retiremo-nos,
para o monte, com Jesus e como Jesus! Da brisa plana do mar imenso,
subamos às alturas da montanha, para assim “chegar com um dedo ao céu”.
Do Mar ao Marão, bem pode chegar a Deus a nossa oração! O Evangelho
deste domingo põe em evidência a dupla faceta do monte: ele é lugar de
intimidade entre Jesus e os seus discípulos, na oração e no repouso; e
é, ao mesmo tempo, lugar onde a multidão sobe, para experimentar a
convivialidade, na partilha do pão!
2. Pode parecer-nos que esta dupla dimensão, da oração
e da partilha, não tenha nada a ver, uma com a outra. Mas o evangelho
esclarece-nos: antes, durante e depois do milagre da partilha do pão,
está Jesus em oração: Diz, ao início, o evangelho que “Jesus subiu ao monte e aí sentou-se com os discípulos” (Jo.6,3), num primeiro momento de intimidade e oração. Logo depois, diz que ao receber de André o pouco que havia, “Jesus tomou os pães e deu graças”
(Jo.6,11) numa oração de bênção e louvor,porque o pouco com Deus é
muito e o muito sem Deus é nada. E já no final, o evangelista deixa esta
nota: “Jesus retirou-se novamente sozinho para o monte”
(Jo.6,15). Assim, a oração está antes, durante e depois da acção. Porque a
oração não é só uma questão de nos pormos a dizer palavras e a pedir
ajuda a Deus; a oração é verdadeiramente “a experiência que abre o nosso coração a Deus, e assim gera também criatividade na busca de soluções”
(Bento XVI, VII Encontro Mundial das Famílias, Festa dos Testemunhos,
2.06.2012). Jesus ensina-nos assim, uma dupla estratégia, no combate à
pobreza e na resolução das dificuldades: fazer as coisas como se tudo
dependesse de nós, com empenho e dedicação; e depois fazê-las como se
tudo dependesse de Deus, com prontidão e confiança!
3. Isto mesmo respondeu Bento XVI, a uma pergunta de
um casal da Grécia, no VII Encontro mundial das Famílias em Milão, a
respeito do que seria possível fazer pelas famílias mais afectadas pela
presente crise. Disse o Papa: “cada um procure fazer tudo o que lhe é
possível; pense na família e nos outros, com um grande sentido de
responsabilidade, sabendo que os sacrifícios são necessários para
avançar. Que podemos fazer nós”? E sugeriu: “que realmente uma família assuma a responsabilidade de ajudar outra família”.
4. Somos assim desafiados a tecer esta rede de
comunhão, entre famílias. Não se pode mais esperar soluções apenas dos
governantes, das autarquias, da segurança social. O famoso Padre Américo
dizia, em meados do século XX: “Ai dos pobres se não fossem os pobres” e estou certo de que diria hoje: “Ai das famílias se não forem as famílias”. É, pois, muito preciso que as famílias ajudem as famílias, com novas redes de entreajuda.
5. Queridos irmãos: o milagre de Deus está na nossa
mão, e começa no coração. É no coração do homem, que o amor tem um
efeito multiplicador, pois Deus só pode multiplicar, onde o homem for
capaz de dividir. Que o pão partido da Eucaristia, que nos sobra e
sacia, se multiplique depois na partilha do pão de cada dia
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