sábado, 28 de julho de 2012

Homilia no XVII Domingo Comum B 2012


26 Julho 2012.
1. Passemos para o outro lado do mar! E retiremo-nos, para o monte, com Jesus e como Jesus! Da brisa plana do mar imenso, subamos às alturas da montanha, para assim “chegar com um dedo ao céu”. Do Mar ao Marão, bem pode chegar a Deus a nossa oração! O Evangelho deste domingo põe em evidência a dupla faceta do monte: ele é lugar de intimidade entre Jesus e os seus discípulos, na oração e no repouso; e é, ao mesmo tempo, lugar onde a multidão sobe, para experimentar a convivialidade, na partilha do pão!
2. Pode parecer-nos que esta dupla dimensão, da oração e da partilha, não tenha nada a ver, uma com a outra. Mas o evangelho esclarece-nos: antes, durante e depois do milagre da partilha do pão, está Jesus em oração: Diz, ao início, o evangelho que “Jesus subiu ao monte e aí sentou-se com os discípulos” (Jo.6,3), num primeiro momento de intimidade e oração. Logo depois, diz que ao receber de André o pouco que havia, “Jesus tomou os pães e deu graças” (Jo.6,11) numa oração de bênção e louvor,porque o pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada. E já no final, o evangelista deixa esta nota: “Jesus retirou-se novamente sozinho para o monte” (Jo.6,15). Assim, a oração está antes, durante e depois da acção. Porque a oração não é só uma questão de nos pormos a dizer palavras e a pedir ajuda a Deus; a oração é verdadeiramente “a experiência que abre o nosso coração a Deus, e assim gera também criatividade na busca de soluções” (Bento XVI, VII Encontro Mundial das Famílias, Festa dos Testemunhos, 2.06.2012). Jesus ensina-nos assim, uma dupla estratégia, no combate à pobreza e na resolução das dificuldades: fazer as coisas como se tudo dependesse de nós, com empenho e dedicação; e depois fazê-las como se tudo dependesse de Deus, com prontidão e confiança!
3. Isto mesmo respondeu Bento XVI, a uma pergunta de um casal da Grécia, no VII Encontro mundial das Famílias em Milão, a respeito do que seria possível fazer pelas famílias mais afectadas pela presente crise. Disse o Papa: “cada um procure fazer tudo o que lhe é possível; pense na família e nos outros, com um grande sentido de responsabilidade, sabendo que os sacrifícios são necessários para avançar. Que podemos fazer nós”? E sugeriu: “que realmente uma família assuma a responsabilidade de ajudar outra família”.
4. Somos assim desafiados a tecer esta rede de comunhão, entre famílias. Não se pode mais esperar soluções apenas dos governantes, das autarquias, da segurança social. O famoso Padre Américo dizia, em meados do século XX: “Ai dos pobres se não fossem os pobres” e estou certo de que diria hoje: “Ai das famílias se não forem as famílias”. É, pois, muito preciso que as famílias ajudem as famílias, com novas redes de entreajuda.
5. Queridos irmãos: o milagre de Deus está na nossa mão, e começa no coração. É no coração do homem, que o amor tem um efeito multiplicador, pois Deus só pode multiplicar, onde o homem for capaz de dividir. Que o pão partido da Eucaristia, que nos sobra e sacia, se multiplique depois na partilha do pão de cada dia

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