António Valério, s.j.
Terminou ontem o primeiro encontro do Papa Francisco com a comissão dos oito cardeais nomeados para aconselharem o Santo Padre na reforma do governo da Cúria Romana. Ainda não se conhecem resultados muito concretos desta reunião, mas o facto de estarem marcados para breve (Dezembro e Fevereiro) mais dois encontros manifesta o grande interesse que o Papa Francisco tem em dar andamento célere a todo este processo.
Muito se tem falado acerca do Pontificado de Francisco, que certamente imprimiu um estilo muito particular e uma constante «roda viva» de mensagens e acontecimentos, com enorme impacto em redes sociais, seja por parte de crentes, seja por parte de não crentes. De facto, com o Papa Francisco a surpresa é não haver surpresa.
Um dos aspectos mais salientes no modo como se tem apreciado o pontificado do Papa Argentino é a sensação de que haverá uma revolução na Igreja, que tudo irá mudar de repente. E, de facto, estamos diante de uma série de decisões e uma série de afirmações sobre o papel dos Bispos, a sua relação com Roma, o funcionamento do Vaticano, a insistência na atenção e cuidado com os mais pobres, com implicações directas no estilo de vida e apresentação pública da Igreja, que anunciam um novo modo de estar.
Mas é preciso estar atentos a uma coisa: como tudo, é necessário que o entusiasmo dos inícios não perca o horizonte e a continuidade, sabendo que o que hoje acontece resulta de um caminho percorrido e o que amanhã acontecerá depende da forma como nos comprometemos com o presente e a forma como o vemos e vivemos.
O Papa Francisco, pelo seu extraordinário carisma pessoal, irá certamente mudar muitas coisas na Igreja. Mas não irá mudar a Igreja. Porque a Igreja é de Cristo e conduzida pelo seu Espírito Santo. E, a cada momento da história, Deus coloca à frente da sua Igreja os homens que entende para esta missão. João XXIII, João Paulo II, Bento XVI, cada um deles foi um homem com características pessoais marcantes para operarem na Igreja aquilo que era necessário no seu tempo, e não foram coisas nada pequenas! Um Concílio, a abertura da Igreja às relações internacionais no tempo dificílimo do comunismo, a relação com o mundo da cultura e a gestão firme e decidida dos escândalos da Igreja...
Com Francisco encontramos o homem que Deus pôs à frente da sua Igreja para realizar hoje nela o que a Igreja precisa. Que sempre precisou, e é bom que agora possa acontecer, mas foi um caminho preparado para que estas mudanças hoje tivessem lugar. Para além do entusiasmo que Francisco desperta, o entusiasmo ainda maior que deve agora animar os cristãos é a certeza de que o Espírito guia a sua Igreja e não a abandona. O que, para cada um de nós, deve significar um compromisso maior, uma paixão maior por sermos cristãos e operar, a começar por cada um de nós, a mudança que a Igreja precisa.
Sem comentários:
Enviar um comentário