Lisboa, 18 set 2012 (Ecclesia) – As expectativas com o início do
Concílio Vaticano II (1962-1965), as discussões que se geraram entre os
mais de dois mil participantes e as dificuldades que se lhe seguiram
marcam a memória de quem seguiu estes momentos.
D. António Marcelino, bispo emérito de Aveiro, recorda o anúncio
inesperado de um Concilio foi “uma lufada de esperança” para quem, após
três anos de vida em Roma, trazia “o coração cheio de inquietações”.
Em texto hoje publicado no Semanário Agência ECCLESIA, este
responsável, que integrou a equipa nacional no pós-concílio, com o
cónego Manuel Falcão, os padres João Alves, Armindo Duarte, Manuel
Vieira Pinto, dinamizando as Semanas Nacionais de Pastoral, lembrou que
“a abertura foi progressiva”.
“Quem no início fechou portas, depois as escancarou”, relata, depois
de lembrar que “nas dioceses o espírito conciliar demorava a conquistar
os próprios bispos”.
Passados 50 anos, D. António Marcelino afirma que Vaticano II ainda não foi aceite “em muitos aspetos” da vida da Igreja.
O padre e jornalista António Rego fala, por sua vez, numa “revolução
serena do Espírito”, a que assistiu enquanto estudante de Teologia ao
lado de outros “jovens inconformados com tantas áreas da Igreja que
pareciam desfasadas”.
“Passados estes 50 anos tenho por vezes a sensação de estar numa
espécie de segunda volta onde vejo com respeito e espanto alguns que
choram e lutam pelo regresso do passado no mesmo estilo de resistência
que encontrei perante a boa nova do Concílio”, observa o sacerdote
açoriano.
Para o antigo diretor do Secretariado Nacional das Comunicações
Sociais da Igreja, o Vaticano II não gerou qualquer crise: “Só Deus sabe
o que seriam os novos tempo sem o seu impulso de esperança”.
Já o padre Luciano Cristino, da Diocese de Leiria-Fátima, evoca a
“fortíssima emoção” que sentiu ao acompanhar a inauguração do Concílio,
por viver em Roma, e lembra os momentos que acabariam por servir como
preparação para a da primeira peregrinação de um Papa, no exercício do
seu ministério.
“No final do Concílio, em dezembro de 1965, o cardeal Cerejeira, em
nome do episcopado português, convidou os bispos para o cinquentenário
das aparições. Já se pensava, nessa altura, em convidar o próprio Papa
[Paulo VI], para fazer uma visita ao Santuário, em 1967”, como veio a
acontecer.
Aires Gameiro, religioso dos Irmãos de São João de Deus, fala das
expectativas de “mudanças democratizantes com autenticidade e mais
espírito evangélico” e de algum “mal-estar” que não viria a ser
superado: “No final dos anos sessenta deu-se a debandada”.
José Victor Adragão, leigo católico, tinha 15 anos quando João XXIII
anunciou a realização de um Concílio (1959) e rumaria depois a Roma, aos
20 anos, numa viagem de comboio que abriu caminho ao “feito espantoso”
de assistir a uma sessão do Vaticano II.
“Pouco a pouco, três vias foram tornando-se nítidas e concentrando as
minhas expectativas: a reforma litúrgica, o papel dos leigos na Igreja e
as relações com os cristãos não-católicos”, relata.
O início do Concílio Vaticano II, a 11 de outubro de 1962, está no
centro do dossier apresentado na mais recente edição do Semanário
Agência ECCLESIA.
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