Saber comunicar, mesmo através do silêncio |
Cláudia Pereira
Comunicar é uma realidade da qual dependemos completamente, seja através
de um gesto, um olhar, uma carta, uma mensagem enviada pelo telemóvel,
um telefonema, uma mensagem de correio electrónico ou partilhada nas
redes sociais... ou através do próprio silêncio. E dependemos da
comunicação quer como emissores, para chegarmos àqueles a quem queremos
transmitir algo, quer como receptores, sentindo que não estamos sozinhos
no mundo.
Se a comunicação tem este papel preponderante no dia-a-dia dos
cidadãos, enquanto seres individuais, ela não tem menos importância
quando se trata de difundir mensagens através dos meios de comunicação
social, como acontece com este site, para chegar, em (muito) pouco tempo
a um grande número de pessoas, espalhadas por várias partes do mundo.
Quem trabalha nos meios de comunicação social deve fazer o
possível.... e, se preciso, o impossível, para levar ao público um
produto informativo que seja o mais fiel possível à verdade, sem
valorizar determinados tipos de interesses. O profissionalismo deve
prevalecer sempre. É preciso saber comunicar.
Por sua vez, quem está do lado do receptor deve olhar sempre para a
mensagem transmitida com sentido crítico e, caso sinta que a isenção
está a ser posta de lado, fazer chegar a sua opinião a quem de direito. É
preciso ver se se sabe comunicar.
Reconhecendo a importância da comunicação social na sociedade actual, foi instituído pela Igreja o Dia Mundial dos Meios de Comunicação Social, que este ano se assinala a 20 de Maio.
Esta é uma importância que já assumimos como natural, mas que muitas
vezes só notamos quando estamos privados de algum meio de comunicação:
quando nos esquecemos do telemóvel ficamos logo “atrapalhados” porque
precisávamos mesmo de enviar uma mensagem à pessoa “x” ou de telefonar à
“y”; quando a ligação à internet falhou não sabemos como entrar em
contacto com aquele(a) a quem íamos mesmo mandar um e-mail; quando há
uma falha de energia eléctrica já não sabemos o que fazer porque ia
mesmo começar um programa televisivo que nunca vimos...
Momentos como esses podem e devem ser aproveitados para reflectirmos
na importância da comunicação, mas também no valor que têm os momentos
de paragem e o silêncio. É preciso saber comunicar, mesmo através do
silêncio.
Neste contexto, merece uma referência especial a Mensagem do
Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais deste ano,
dedicada precisamente ao tema “Silêncio e palavra: caminho de
evangelização”.
Diz o Santo Padre que “no silêncio escutamo-nos e conhecemo-nos
melhor a nós mesmos, nasce e aprofunda-se o pensamento, compreendemos
com maior clareza o que queremos dizer ou aquilo que ouvimos do outro,
discernimos como exprimir-nos. Calando, permite-se à outra pessoa que
fale e se exprima a si mesma, e permite-nos a nós não ficarmos presos,
por falta da adequada confrontação, às nossas palavras e ideias. Deste
modo abre-se um espaço de escuta recíproca e torna-se possível uma
relação humana mais plena”.
Bento XVI considera que, “quando as mensagens e a informação são
abundantes, torna-se essencial o silêncio para discernir o que é
importante daquilo que é inútil ou acessório”.
O Papa aconselha a “olhar com interesse para as várias formas de
sítios, aplicações e redes sociais que possam ajudar o homem actual não
só a viver momentos de reflexão e de busca verdadeira, mas também a
encontrar espaços de silêncio, ocasiões de oração, meditação ou partilha
da Palavra de Deus. [...]. Se Deus fala ao homem mesmo no silêncio,
também o homem descobre no silêncio a possibilidade de falar com Deus e
de Deus”.
Esta Mensagem de Bento XVI deve inquietar-nos e suscitar em
nós a vontade de pararmos e percebermos a importância do silêncio,
quando desempenhamos o papel de emissor, mas também de receptor.
Se tal acontecer, é porque percebemos que é preciso saber comunicar,
mesmo através do silêncio. Façamos de cada momento de silêncio uma forma
de sabermos comunicar com os que nos rodeiam, mas também com Ele. |
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