quarta-feira, 27 de novembro de 2013

25 frases do Papa na exortação Evangelii Gaudium


“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças”








Confira abaixo uma selecção de 25 passagens da Exortação ApostólicaEvangelii Gaudium, publicada pelo Papa Francisco hoje:

-- O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais, da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios interesses, deixa de haver espaço para os outros, já não entram os pobres, já não se ouve a voz de Deus, já não se goza da doce alegria do seu amor, nem fervilha o entusiasmo de fazer o bem.

-- Há cristãos que parecem ter escolhido viver uma Quaresma semPáscoa. Reconheço, porém, que a alegria não se vive da mesma maneira em todas as etapas e circunstâncias da vida, por vezes muito duras. Adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados.

-- Posso dizer que as alegrias mais belas e espontâneas, que vi ao longo da minha vida, são as alegrias de pessoas muito pobres que têm pouco a que se agarrar.

-- Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro. Aqui está a fonte da acção evangelizadora. Porque, se alguém acolheu este amor que lhe devolve o sentido da vida, como é que pode conter o desejo de o comunicar aos outros?

-- Penso, aliás, que não se deve esperar do magistério papal uma palavra definitiva ou completa sobre todas as questões que dizem respeito à Igreja e ao mundo. Não convém que o Papa substitua os episcopados locais no discernimento de todas as problemáticas que sobressaem nos seus territórios. Neste sentido, sinto a necessidade de proceder a uma salutar «descentralização».

-- Com obras e gestos, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se – se for necessário – até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo. Os evangelizadores contraem assim o «cheiro de ovelha», e estas escutam a sua voz.

-- Sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo actual que à auto-preservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de «saída» e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade.

-- Dado que sou chamado a viver aquilo que peço aos outros, devo pensar também numa conversão do papado. Compete-me, como Bispo de Roma, permanecer aberto às sugestões tendentes a um exercício do meu ministério que o torne mais fiel ao significado que Jesus Cristo pretendeu dar-lhe e às necessidades actuais da evangelização.

-- No seu constante discernimento, a Igreja pode chegar também a reconhecer costumes próprios não directamente ligados ao núcleo do Evangelho, alguns muito radicados no curso da história, que hoje já não são interpretados da mesma maneira e cuja mensagem habitualmente não é percebida de modo adequado. Podem até ser belos, mas agora não prestam o mesmo serviço à transmissão do Evangelho. Não tenhamos medo de os rever! Da mesma forma, há normas ou preceitos eclesiais que podem ter sido muito eficazes noutras épocas, mas já não têm a mesma força educativa como canais de vida.

-- Aos sacerdotes, lembro que o confessionário não deve ser uma câmara de tortura, mas o lugar da misericórdia do Senhor que nos incentiva a praticar o bem possível. Um pequeno passo, no meio de grandes limitações humanas, pode ser mais agradável a Deus do que a vida externamente correcta de quem transcorre os seus dias sem enfrentar sérias dificuldades.

-- A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direcção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direcção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.

-- Se a Igreja inteira assume este dinamismo missionário, há-de chegar a todos, sem excepção. Mas, a quem deveria privilegiar? Quando se lê o Evangelho, encontramos uma orientação muito clara: não tanto aos amigos e vizinhos ricos, mas sobretudo aos pobres e aos doentes, àqueles que muitas vezes são desprezados e esquecidos, «àqueles que não têm com que te retribuir» (Lc 14, 14). Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. Hoje e sempre, «os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho», e a evangelização dirigida gratuitamente a eles é sinal do Reino que Jesus veio trazer. Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!

-- Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos.

-- Assim como o mandamento «não matar» põe um limite claro para assegurar o valor da vida humana, assim também hoje devemos dizer «não a uma economia da exclusão e da desigualdade social». Esta economia mata. Não é possível que a morte por enregelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. Não se pode tolerar mais o facto de se lançar comida no lixo, quando há pessoas que passam fome. Isto é desigualdade social. Hoje, tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população vêem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lançar fora. Assim teve início a cultura do «descartável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas resíduos, «sobras».

-- Hoje, em muitas partes, reclama-se maior segurança. Mas, enquanto não se eliminar a exclusão e a desigualdade dentro da sociedade e entre os vários povos será impossível desarreigar a violência. Acusam-se da violência os pobres e as populações mais pobres, mas, sem igualdade de oportunidades, as várias formas de agressão e de guerra encontrarão um terreno fértil que, mais cedo ou mais tarde, há-de provocar a explosão. Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade.

-- O individualismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares. A acção pastoral deve mostrar ainda melhor que a relação com o nosso Pai exige e incentiva uma comunhão que cura, promove e fortalece os vínculos interpessoais. Enquanto no mundo, especialmente nalguns países, se reacendem várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos «a carregar as cargas uns dos outros» (Gal 6, 2).

-- Há certo cristianismo feito de devoções – próprio duma vivência individual e sentimental da fé – que, na realidade, não corresponde a uma autêntica «piedade popular». Alguns promovem estas expressões sem se preocupar com a promoção social e a formação dos fiéis, fazendo-o nalguns casos para obter benefícios económicos ou algum poder sobre os outros.

-- A nossa tristeza e vergonha pelos pecados de alguns membros da Igreja, e pelos próprios, não devem fazer esquecer os inúmeros cristãos que dão a vida por amor: ajudam tantas pessoas seja a curar-se seja a morrer em paz em hospitais precários, acompanham as pessoas que caíram escravas de diversos vícios nos lugares mais pobres da terra, prodigalizam-se na educação de crianças e jovens, cuidam de idosos abandonados por todos, procuram comunicar valores em ambientes hostis, e dedicam-se de muitas outras maneiras que mostram o imenso amor à humanidade inspirado por Deus feito homem. Agradeço o belo exemplo que me dão tantos cristãos que oferecem a sua vida e o seu tempo com alegria.

-- Uma das tentações mais sérias que sufoca o fervor e a ousadia é a sensação de derrota que nos transforma empessimistas lamurientos e desencantados com cara de vinagre.

-- O mundanismo espiritual, que se esconde por detrás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja, é buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal.

-- Ser Igreja significa ser povo de Deus, de acordo com o grande projecto de amor do Pai. Isto implica ser o fermento de Deus no meio da humanidade; quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus a este nosso mundo, que muitas vezes se sente perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, dêem esperança e novo vigor para o caminho. A Igreja deve ser o lugar da misericórdia gratuita, onde todos possam sentir-se acolhidos, amados, perdoados e animados a viverem segundo a vida boa do Evangelho.

-- Não podemos pretender que todos os povos dos vários continentes, ao exprimir a fé cristã, imitem as modalidades adoptadas pelos povos europeus num determinado momento da história, porque a fé não se pode confinar dentro dos limites de compreensão e expressão duma cultura. É indiscutível que uma única cultura não esgota o mistério da redenção de Cristo.

-- A homilia não pode ser um espectáculo de divertimento, não corresponde à lógica dos recursos mediáticos, mas deve dar fervor e significado à celebração. É um género peculiar, já que se trata de uma pregação no quadro duma celebração litúrgica; por conseguinte, deve ser breve e evitar que se pareça com uma conferência ou uma lição.

-- Peço a Deus que cresça o número de políticos capazes de entrar num autêntico diálogo que vise efectivamente sanar as raízes profundas e não a aparência dos males do nosso mundo. A política, tão denegrida, é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas da caridade, porque busca o bem comum. Temos de nos convencer que a caridade «é o princípio não só das micro-relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro-relações como relacionamentos sociais, económicos, políticos». Rezo ao Senhor para que nos conceda mais políticos, que tenham verdadeiramente a peito a sociedade, o povo, a vida dos pobres. É indispensável que os governantes e o poder financeiro levantem o olhar e alarguem as suas perspectivas, procurando que haja trabalho digno, instrução e cuidados sanitários para todos os cidadãos. E porque não acudirem a Deus pedindo-Lhe que inspire os seus planos? Estou convencido de que, a partir duma abertura à transcendência, poder-se-ia formar uma nova mentalidade política e económica que ajudaria a superar a dicotomia absoluta entre a economia e o bem comum social.

-- A primeira motivação para evangelizar é o amor que recebemos de Jesus, aquela experiência de sermos salvos por Ele que nos impele a amá-Lo cada vez mais. Com efeito, um amor que não sentisse a necessidade de falar da pessoa amada, de a apresentar, de a tornar conhecida, que amor seria?

Advento, caminhada para o Natal do Senhor No tempo do Advento e do Natal estão presentes as três vindas do Senhor: a vinda na carne, a vinda hoje no mistério e a vinda última gloriosa



Por: Frei Alberto Beckhäuser, OFM

Advento significa vinda, chegada! Advento é tempo de preparação para a vinda do Senhor, bem como a própria vinda na celebração, pela mudança de vida, a prática da justiça e da caridade.

Natal significa nascimento, nascimento de Jesus Cristo. É vinda de Jesus Cristo, vinda celebrada e atualizada na celebração do seu Natal. O nascimento de Jesus Cristo é o centro das festividades do Natal.

As celebrações do ciclo de Natal referem-se à vinda de Deus para morar entre os seres humanos. No centro de tudo está o Menino Deus envolto em faixas, e não o papai Noel com seus presentes nem a Ceia de Natal. Este seria o natal do comércio alimentado pelo consumo.

Natal é a festa da vida que nasce, a festa do maior presente que Deus concedeu à humanidade, seu Filho, Jesus Cristo. Na Vida que nasce a humanidade celebra o dom da vida de todos. A alegria pelo dom da vida se expressa bem através dos presentes e da Ceia de Natal. Contudo, a melhor maneira de celebrar o Natal do Senhor consiste em participar da Ceia do Senhor, a Eucaristia.

As festas do ciclo de Natal compreendem todas as festas da manifestação do Senhor neste mundo: seu nascimento em Belém; seu nascimento de Maria; seu nascimento em uma Família, a Sagrada Família; sua manifestação aos povos, simbolizados pelos magos do Oriente e sua manifestação como Filho de Deus no batismo do Jordão.

comemoração desta vinda do Senhor vem precedida de um tempo de preparação, o tempo do Advento.

No tempo do Advento e do Natal estão presentes as três vindas do Senhor: a vinda na carne, a vinda hoje no mistério e a vinda última gloriosa. Comemorando sua vinda no passado, Ele vem agora no presente e esta vinda no presente é um passo à frente ao encontro de sua vinda na glória.

Como a chegada do filho é aguardada pela mãe com expectativa e cuidadosa preparação, o Advento é este tempo de alegre expectativa e de preparação para receber o Filho de Deus. Como ele veio, ele virá nas festas do seu nascimento e de sua manifestação.

Nesta caminhada, somos conduzidos por três guias. Isaías, durante todo o tempo. Ele veio preparar a humanidade para a chegada do Messias. No segundo domingo do Advento, entra em cena João Batista, pedindo mudança de vida, a prática da justiça e da caridade. Ele prepara o povo de Deus para acolher o Messias Salvador. No quarto domingo do Advento, Maria, a mulher grávida de Deus, nos toma pela mão para, com ela, preparar o presépio vivo dos nossos corações, onde ela deseja colocar o seu Filho que vai nascer.

Assim, no Tempo do Advento os cristãos realizam uma caminhada de preparação, na mudança de vida, na prática da justiça e da caridade, em direcção ao Natal do Senhor. O Senhor veio, o Senhor virá na glória. Importa, porém que ele venha aos corações humanos cada dia e, de modo especial, na comemoração de sua vinda na historia, nas festas da manifestação do Senhor. Assim será Natal!

(Instituto Teológico Franciscano)

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Homilia de D. Manuel Clemente no Encerramento do Ano da Fé, em Peniche

A fé em Cristo na caridade do seu reino
Reunimo-nos aqui, caríssimos irmãos, para concluir o Ano da Fé. E fazemo-lo neste santuário de Nossa Senhora dos Remédios, porque é em lugar mariano que melhor celebraremos a fé de todos, que antes de mais foi a d’Ela. Sim, a fé com que aderiu inteiramente ao propósito divino de vir a este mundo e viver entre nós. Como em Jesus Cristo, o Filho de Maria, finalmente aconteceu.
- E que importante é esta primeira alusão! Da anunciação do anjo à hora da cruz, é com Maria que vivemos a fé, com ela aprendida. Com Maria, recebemos o Cristo que Deus Pai nos oferece; com Maria, crescemos em Cristo, guardando no coração as palavras com que Ele mesmo se revela, mais e mais; com Maria, permanecemos ao pé da cruz, onde Ele nos dá a sua vida e partilha connosco a sua mãe.
Por isso estamos aqui, provindos de tantos lugares do nosso Patriarcado, para com Maria nos salvarmos na cruz do seu Filho. E assim mesmo compreenderemos como a Igreja tem em Maria o seu resumo e imagem, pois se trata de repercutir nas nossas vidas pessoais e comunitárias os sentimentos com que Ela recebeu, seguiu e assinalou a vinda de Cristo ao mundo.
Presença de Cristo que inaugura o Reino. Os nossos antepassados do Antigo Testamento, guardavam a memória do rei David, que representara quase tudo o que Israel tivera de grande entre os povos. Os profetas divisaram depois um novo Reino, ainda maior na dimensão e nos propósitos, concentrado num “Filho de David”, como o próprio Jesus seria anunciado e aclamado.
Mas, em Jesus, se há continuidade e resposta em relação às melhores expectativas humanas, há sempre novidade no modo desse mesmo acontecer. Porque, em Jesus, Deus não se limita a responder-nos no sentido curto do que imediatamente nos conviria. Em Jesus, Deus dá-nos respostas definitivas, a que só poderemos aceder se nos dispusermos a viver definitivamente a vida. Na cruz, a entrega divina é total. Ao pé da cruz, a adesão de Maria é completa, representando já a da Igreja toda – o que a nossa há de ser, como verdadeira obra da fé.

Caríssimos irmãos, eu creio e quero crer que tudo quanto aconteceu nas nossas vidas e comunidades ao longo do Ano da Fé, hoje concluído, serviu de facto para nos convencer ainda mais de que, enquanto cristãos, só podemos ser assim, definitivos e totais no acolhimento e seguimento de Cristo. Cristo nas Escrituras, sempre ouvidas e lembradas. Cristo nos sacramentos, outros tantos sinais da sua entrega e companhia, pedindo-nos coerência e progresso na comunhão com Ele. Cristo nos irmãos, em que clama pela nossa atenção e serviço, para afinal nos retribuir a cem por um.
Isto mesmo creio e espero, como fruto dum Ano da Fé traduzido em caridade. Porque a nossa fé não tem nada de imaginário ou abstrato, antes se focaliza inteiramente na vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré, o Filho de Maria e nosso Cristo. E, assim focalizada, não tira os olhos de quanto aconteceu do presépio à cruz, aí mesmo apercebendo os primeiros fulgores da ressurreição garantida. E, se assim nos fixamos, também assim o experimentamos, verificando como o Espírito vai reproduzindo em nós a vida, morte e ressurreição do mesmo Cristo.
- Pois não é espantoso, irmãos, sabermos e reconhecermos que, em todos e cada um dos que aqui viemos, a vida de Cristo se prolonga no mundo?! – E que assim mesmo se alarga aquele Reino e convivência nova em que tudo em nós ganha e realiza a caridade, que outra coisa não é – mas isso mesmo há de ser! – do que o amor com que Cristo nos amou?!
Aqui estamos, pois, e graças a Deus, com Maria ao pé da cruz. Aqui começa o Reino anunciado, porque, acontecendo no coração do mundo, só poderia ser onde o coração humano mais sofre e mais ama. Nada nos é oferecido em Cristo, senão na cruz do mundo, em que inteiramente se entrega. É por isso também que a nossa fé nada tem de alienante, pois, longe de nos alhear do drama e das dores da condição humana, nesta mesma nos faz encontrar a Deus, que exatamente aí nos espera, em Cristo crucificado, e donde Cristo ressuscita.
Por isso São Paulo podia resumir assim a sua pregação, escrevendo aos coríntios: «Julguei não dever saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e este crucificado» (1 Cor 2, 2). E isso dizia, por experimentar vivamente o amor com que Cristo o salvara, como que fazendo dos dois uma só vida. São de fogo estas palavras de Paulo aos gálatas: «Estou crucificado com Cristo. Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. E a vida que agora tenho na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim» (Gl 2, 19-20).
Amados irmãos, importa saber, importa reter, que a fé cristã é um compromisso total com a cruz do mundo, em que Cristo nos espera. Aí mesmo experimentaremos – quando nos abeirarmos de todas as dores e expetativas dos outros – a presença de Cristo, que tão solidariamente nos salva. Aí e só aí se repetirá o diálogo que ouvimos no Evangelho; sendo agora Cristo e nós, cada um de nós, os protagonistas: «E acrescentou [um dos que foram crucificados com Jesus]: “Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com a tua realeza”. Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso”».
Compreendemos pois que, concluindo o Ano da Fé, o nosso programa diocesano seja agora “atuá-la pela caridade”. Direi até que, com este ou outro lema, nesta ou noutra oportunidade, sempre teria de ser assim, para ser autenticamente cristão. E nunca nos faltam ocasiões para crescer na fé, atuando a caridade.                  
Olhe cada um para si, para a família, para os outros, na cruz que aí permanece e onde Cristo nos espera. Como Teresa de Calcutá, que, duma multidão compacta, que enchia uma imensa gare, ouviu um dia o clamor de Cristo na cruz: «Tenho sede! “. E nunca mais deixou de ouvi-lo… É nesta sede compartilhada que também nos dessedentaremos a nós.

Durante o Ano da Fé, repetimos com consciência renovada as frases dum Credo que resume tudo o que aprendemos de Cristo. Sobre o Pai, magnificamente revelado na misericórdia com que aguarda e refaz todos os pródigos, que somos nós. Sobre o próprio Cristo, verdadeiro irmão mais velho, que – ao contrário do da parábola – partilha inteiramente da misericórdia do Pai e nos vem buscar aonde estamos e mal estamos, para nos levar à casa paterna. Sobre o Espírito, em que nos envolve no amor que partilha com o Pai. Sobre a Igreja, que somos nós todos, na comunhão com Ele, para glória de Deus e salvação do mundo. Sobre a vida eterna, outro nome da caridade que o seu Espírito infunde nos nossos corações e não acabará jamais.
 Quando cada um destes artigos articula de facto o nosso ser, em contemplação e ação, estamos deveras no seu Reino e alargamo-lo diariamente neste mundo que, sendo nosso, há de ser finalmente o seu. Finalmente de Cristo, único modo de ser de todos, na caridade, na justiça e na paz.
Ainda na cruz que nos cabe, voltemo-nos para Ele na sua, como fez o bom ladrão. E as duas serão uma só, pois por todos se entrega e a todos oferece a sua vida, como aconteceu naquele dia derradeiro: ao bom ladrão ofereceu o paraíso, ao discípulo amado a sua mãe, a todos a própria vida, no sangue e na água que lhe brotaram do inextinguível coração.
Uma última coisa vos quero dizer, caríssimos irmãos, e especialmente operativa, programática quase: Quando professamos o Credo, há um momento central em que quase nos detemos, sempre inclinamos – e até genufletimos, no Natal e na Anunciação: é quando lembramos que Jesus Cristo, Filho de Deus, «encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem».
Tiremos daqui toda a consequência contemplativa e prática, pois assim mesmo e só assim cresce o Reino de Cristo no mundo. Incarnação significou para Cristo fazer sua a natureza humana, no que esta tem de promessa e igualmente de carência, contradição e até miséria. E aí mesmo estar connosco, estar com todos, com aquela proximidade absoluta que só Deus pode ter, como Criador que absolutamente nos conhece e como Salvador que inteiramente nos redime.
Pois bem: se já vivemos da sua misericórdia, sejamos também sinais ativos dela, junto de todas as necessidades do próximo, único modo de sermos concidadãos e testemunhas do seu Reino. Isso mesmo lembra outro passo evangélico, falando o próprio Cristo: «Vinde, benditos de meu Pai! Recebei em herança o Reino que vos está preparado desde a criação do mundo. Porque tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era peregrino e recolhestes-me, estava nu e destes-me de vestir, adoeci e visitastes.me, estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 34-36).
E não nos pareça grande demais o enunciado, pois se trata dum único sentimento, repercutido nos diferentes campos em que a nossa vida se desdobra, em relação indispensável com os outros. Trata-se sempre da caridade de Cristo, única naturalidade do seu Reino, a alargar no mundo pelos que queiram ser realmente seus.
Deste Reino somos e queremos ser. Por isso aqui estamos e assim daqui partimos, para os compromissos diários da nossa fé, que sempre atua pela caridade, e apenas nesta se credibiliza e demonstra (cf. Tg 2, 18).
Connosco temos a Mãe de Cristo, que diante de todas as carências, nossas e alheias, nos repetirá o que disse nas bodas de Caná: «Fazei o que Ele vos disser!» (Jo 2, 5). Assim fez sobretudo Ela, e agora reina com Cristo, no coração de Deus e do mundo. Assim nos ensinará a fazer, para que o Reino de Cristo seja a imbatível esperança de nós todos!

+ Manuel Clemente
Nossa Senhora dos Remédios (Peniche), 24 de novembro de 2013, solenidade de Cristo Rei e encerramento do Ano da Fé.

Papa Francisco: homilia de clausura do Ano da Fé


O santo padre lembrou a centralidade de Cristo na vida e na história de cada um
Por Redacao
ROMA, 24 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - Publicamos a seguir a homilia do santo padre na celebração eucarística do fechamento do Ano da fé:
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A solenidade de Cristo Rei do universo, que hoje celebramos como coroamento do ano litúrgico, marca também o encerramento do Ano da Fé, proclamado pelo Papa Bento XVI, para quem neste momento se dirige o nosso pensamento cheio de carinho e de gratidão por este dom que nos deu. Com esta iniciativa providencial, ele ofereceu-nos a oportunidade de redescobrirmos a beleza daquele caminho de fé que teve início no dia do nosso Baptismo e nos tornou filhos de Deus e irmãos na Igreja; um caminho que tem como meta final o encontro pleno com Deus e durante o qual o Espírito Santo nos purifica, eleva, santifica para nos fazer entrar na felicidade por que anseia o nosso coração.
Desejo também dirigir uma cordial e fraterna saudação aos Patriarcas e aos Arcebispos Maiores das Igrejas Orientais Católicas, aqui presentes. O abraço da paz, que trocarei com eles, quer significar antes de tudo o reconhecimento do Bispo de Roma por estas Comunidades que confessaram o nome de Cristo com uma fidelidade exemplar, paga muitas vezes por caro preço.
Com este gesto pretendo igualmente, através deles, alcançar todos os cristãos que vivem na Terra Santa, na Síria e em todo o Oriente, a fim de obter para todos o dom da paz e da concórdia.
As Leituras bíblicas que foram proclamadas têm como fio condutor a centralidade de Cristo: Cristo está no centro, Cristo é o centro. Cristo, centro da criação, do povo e da história.
1. O Apóstolo Paulo, na segunda Leitura tirada da Carta aos Colossenses, dá-nos uma visão muito profunda da centralidade de Jesus. Apresenta-O como o Primogénito de toda a criação: n’Ele, por Ele e para Ele foram criadas todas as coisas. Ele é o centro de todas as coisas, é o princípio: Jesus Cristo, o Senhor. Deus deu-Lhe a plenitude, a totalidade, para que n’Ele fossem reconciliadas todas as coisas (cf. 1, 12-20). Senhor da criação, Senhor da reconciliação.
Esta imagem faz-nos compreender que Jesus é o centro da criação; e, portanto, a atitude que se requer do crente – se o quer ser de verdade - é reconhecer e aceitar na vida esta centralidade de Jesus Cristo, nos pensamentos, nas palavras e nas obras. uando se peE, assim, os nossos pensamentos serão pensamentos cristãos, pensamentos de Cristo. As nossas obras serão obras cristãs, obras de Cristo, as nossas palavras serão palavras cristãs, palavras de Cristo. Diversamente, qrde este centro, substituindo-o por outra coisa qualquer, disso só derivam danos para o meio ambiente que nos rodeia e para o próprio homem.
2. Além de ser centro da criação e centro da reconciliação, Cristo é centro do povo de Deus. E hoje mesmo Ele está aqui, no centro da nossa assembleia. Está aqui agora na Palavra e estará aqui no altar, vivo, presente, no meio de nós, seu povo. Assim no-lo mostra a primeira Leitura, que narra o dia em que as tribos de Israel vieram procurar David e ungiram-no rei sobre Israel diante do Senhor (cf. 2 Sam 5, 1-3). Na busca da figura ideal do rei, aqueles homens procuravam o próprio Deus: um Deus que Se tornasse vizinho, que aceitasse caminhar com o homem, que Se fizesse seu irmão.
Cristo, descendente do rei David, é precisamente o «irmão» ao redor do qual se constitui o povo, que cuida do seu povo, de todos nós, a preço da sua vida. N’Ele, nós somos um só; um só povo unido a Ele, partilhamos um só caminho, um único destino. Somente n’Ele, n’Ele por centro, temos a identidade como povo.
3. E, por último, Cristo é o centro da história da humanidade e também o centro da história de cada homem. A Ele podemos referir as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias de que está tecida a nossa vida. Quando Jesus está no centro, até os momentos mais sombrios da nossa existência se iluminam: Ele dá-nos esperança, como fez com o bom ladrão no Evangelho de hoje.
Enquanto todos os outros se dirigem a Jesus com desprezo – «Se és o Cristo, o Rei Messias, salva-Te a Ti mesmo, descendo do patíbulo!» –, aquele homem, que errou na vida, no fim agarra-se arrependido a Jesus crucificado suplicando: «Lembra-Te de mim, quando entrares no teu Reino» (Lc 23, 42). E Jesus promete-lhe: «Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso» (23, 43): o seu Reino. Jesus pronuncia apenas a palavra do perdão, não a da condenação; e quando o homem encontra a coragem de pedir este perdão, o Senhor nunca deixa sem resposta um tal pedido. Hoje todos nós podemos pensar na nossa história, no nosso caminho. Cada um de nós tem a sua história; cada um de nós tem também os seus erros, os seus pecados, os seus momentos felizes e os seus momentos sombrios. Neste dia, far-nos-á bem pensar na nossa história, olhar para Jesus e, do fundo do coração, repetir-lhe muitas vezes – mas com o coração, em silêncio – cada um de nós: «Lembra-Te de mim, Senhor, agora que estás no teu Reino! Jesus, lembra-Te de mim, porque eu tenho vontade de me tornar bom, mas não tenho força, não posso: sou pecador, sou pecadora. Mas lembra-Te de mim, Jesus! Tu podes lembrar-Te de mim, porque Tu estás no centro, Tu estás precisamente no teu Reino!». Que bom! Façamo-lo hoje todos, cada um no seu coração, muitas vezes: «Lembra-Te de mim, Senhor, Tu que estás no centro, Tu que estás no teu Reino!»
A promessa de Jesus ao bom ladrão dá-nos uma grande esperança: diz-nos que a graça de Deus é sempre mais abundante de quanto pedira a oração. O Senhor dá sempre mais – Ele é tão generoso! –, dá sempre mais do que se Lhe pede: pedes-Lhe que Se lembre de ti, e Ele leva-te para o seu Reino! Jesus é precisamente o centro dos nossos desejos de alegria e de salvação. Caminhemos todos juntos por esta estrada!
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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Todos Pecadores, Todos Santos


Todos Pecadores, Todos Santos
Santos precisam-se, santos no meio do mundo, nas famílias, nas estruturas da sociedade, na vida quotidiana, na escola, nos empregos, na labuta do trabalho. Santos precisam-se no mundo que temos tantas vezes sem Deus e avesso às coisas espirituais e evangélicas. Santos precisam-se mesmo quando muitos fazem troça da santidade, falam contra os sacramentos, não apreciam a virtude, ridicularizam a graça da castidade, criticam as boas maneiras, a honestidade, o pudor, a verdade vivida com audácia, a justiça encarnada até ao coração.
Dário Pedroso, s.j.

O tema da vocação universal à santidade que o Concílio Vaticano II colocou diante de nós para reflexão e no nosso coração como dinamismo de vida nova aberta ao amor santo do Deus Santo, é algo empolgante, divinamente maravilhoso. Todos os fiéis, qualquer que seja sua idade, sua cor de pele, sua raça, sua língua, sua profissão, sua condição social, sua cultura, são chamados por Deus a serem santos. Até parece que o Concílio deixou por instante de olhar à sua volta e de ver como todos somos bem pecadores, como o mal se impõe e manobra, como o pecado envenena o ar que os outros respiram. Mas são estes pecadores e pecadoras que são chamados a ser santos. E como um santo é um pecador que não desiste, é alguém que cai mas que se levanta pelo poder da graça, é alguém que luta com audácia, todos podemos chegar a esse estado de santidade que é a vida de Deus em nós. Daí que todos pecadores mas todos santos, como nos diz São Paulo, pois todos já participamos pelo dom do baptismo da santidade de Jesus, autor e consumador da santidade, todos participamos da vida de Deus, da comunhão com a Trindade, já fomos marcados pelo selo divino do Espírito, ungidos pela sua acção santificadora.

Que paradoxo! Num mundo de pecadores, num mundo que tem a alma e o coração doente, num mundo onde abunda o pecado, o mal, o crime, a injustiça, a violência, a luxúria, a depravação moral, a maldade, a calúnia, a destruição da vida, da fama, do amor, da justiça, há multidão de santos. Conheci muitos e muitas na minha vida, começando por minha mãe. Conheci na Companhia de Jesus em que vivo há quase cinquenta anos muitos santos, padres e irmãos de muita virtude e de vida santa. Conheci nas muitas paróquias por onde tenho andado a pregar, a dar cursos, a confessar, muitos homens e mulheres santos, de vida evangélica, de coração centrado em Deus sempre prontos a fazer o bem. Conheço, nas dioceses onde já dei dezenas ou centenas de retiros ao clero, muitos sacerdotes santos, de vida digna, zelosos, bons, castos, dedicados, pobres e servos do povo de Deus. Já encontrei em Congregações e Ordens muitas irmãs consagradas santas, de virtude comprovada, de caridade exemplar, de vida de união com Deus maravilhosa, de humildade a toda a prova. Encontrei casais santos, fiéis ao seu matrimónio, num esforço diário de caridade, de diálogo, de construção de paz, desejosos de educar bem os filhos, lutando contra tudo o que possa ser egoísmo, egocentrismo, vivendo uma santidade de matrimónio com tudo o que isso implica.

Santos precisam-se, santos no meio do mundo, nas famílias, nas estruturas da sociedade, na vida quotidiana, na escola, nos empregos, na labuta do trabalho. Santos precisam-se no mundo que temos tantas vezes sem Deus e avesso às coisas espirituais e evangélicas. Santos precisam-se mesmo quando muitos fazem troça da santidade, falam contra os sacramentos, não apreciam a virtude, ridicularizam a graça da castidade, criticam as boas maneiras, a honestidade, o pudor, a verdade vivida com audácia, a justiça encarnada até ao coração. Santos precisam-se no mundo à nossa volta onde há leis que atenta a vida e a dignidade humana, onde há governos que manipulam o bem e a verdade, onde há tantos que se meteram no caminho da droga, do roubo, da mentira, da fraude. Santos precisam-se como fermento e sal, como luz no meio das trevas nefasta de um mundo hostil a Deus e ao homem. Santos precisam-se para que os caminhos da vida sejam iluminados por testemunhos heróicos que embelezem o dia-a-dia, que confortem os corações, que nos ajudem a rezar e a sorrir, com uma felicidade que vem de Deus. Santos precisam-se pois o mundo à nossa volta parece corrompido pelo mal, pela violência, até nas famílias que deviam viver como igrejas domésticas, na paz, na concórdia, no diálogo amigo, na relação amorosa.

E o apelo de Deus continua a chegar aos ouvidos e ao coração de todos: “Sede santos, por Eu, o Senhor vosso Deus, sou santo”. E a mensagem de Jesus continua a ecoar em nossos corações: “Sede perfeitos como o Pai é perfeito”. E São Paulo não nos deixa sossegados ao repetir-nos sem cessar: “A vontade de Deus é a vossa santificação”. Santos precisam-se pois sem eles o mundo morrerá gelado, sem amor, sem justiça, sem verdade, sem carinho. Santos precisam-se para ser presença viva da santidade de Deus e do Deus que é Santo. Mas para que assim seja precisamos de olhar com amor o mundo á nossa volta e fazer tudo para ajudar os outros a mudar, a converter-se, a ser evangelho vivido. A santidade é dom de Deus mas exige a nossa luta, a nossa tenacidade, a nossa audácia, a nossa contínua determinação. Não sejamos medíocres. Não pactuemos com o mal. Não nos deixemos levar pela tentação. Não nos sujeitemos às forças do maligno. Não nos calemos perante a mentira. Não cedamos à tentação da avareza, da ganância, do egoísmo. Homens sede homens. Mulheres sede mulheres. Jovens sede jovens. Cada um no seu lugar, na vida que tem e que assumiu, sermos todos transparência da santidade de Deus.



quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Papa Francisco: "A Igreja não é a Igreja somente para as pessoas boas"

Homilia desta manhã na Missa celebrada pelo Papa Francisco na Casa de Santa Marta
Por Redacao
ROMA, 05 de Novembro de 2013 (Zenit.org) - A essência do cristianismo é um convite para a festa. Foi o que afirmou o Papa Francisco na Missa desta manhã, na Casa Santa Marta. O Papa reiterou que a Igreja “não é somente para as pessoas boas”, o convite a fazer parte dela é para todos. E acrescentou, que na festa do Senhor, “participa-se plenamente” e com todos, não se pode fazer seleção. “Que os cristãos – advertiu – não se contentem em estar na lista de convidados”, pois seria “como estar fora da festa”.
“As leituras do dia – disse o Papa no início da homilia – nos mostram a carta de identidade do cristão”, sublinhando a seguir que “antes de tudo, a essência cristã é um convite: somente nos tornamos cristãos se somos convidados”. Trata-se, portanto, de “um convite gratuito” para participar, “que vem de Deus”. Para entrar nesta festa, “não se pode pagar: ou és convidado ou não podes entrar”. Se “na nossa consciência não temos esta certeza de sermos convidados”, então “não entendemos o que é um cristão”:
“Um cristão é alguém que é convidado. Convidado para que? Para um negócio? Convidado para fazer um passeio? O Senhor quer nos dizer algo a mais: ‘Tu és convidado para a festa!’. O cristão é aquele que é convidado à festa, à alegria, à alegria de ser salvo, à alegria de ser redimido, à alegria de participar da vida com Jesus. Isto é uma alegria! Tu és convidado para a festa! Se entende, uma festa é um encontro de pessoas que falam, riem, festejam, são felizes. Mas é um encontro de pessoas. Entre as pessoas normais, mentalmente normais, nunca vi alguém que faça festa sozinho, não é mesmo? Isto seria um pouco aborrecido! Abrir a garrafa de vinho... Isto não é uma festa, é uma outra coisa. Festeja-se com os outros, festeja-se em família, festeja-se com os amigos, festeja-se com as pessoas que são convidadas, como fui convidado. Para ser cristão é necessário uma pertença e se pertence a este Corpo, a esta gente que foi convidada para a festa: esta é a pertença cristã”.
Referindo-se à Carta aos Romanos, o Papa afirmou que esta festa é “uma festa de unidade”. E evidenciou que todos são convidados, “bons e maus”. E os primeiros a serem chamados são os marginalizados:
“A Igreja não é a Igreja somente para as pessoas boas. Quem pertence à Igreja, a esta festa? Os pecadores, todos nós pecadores somos convidados. E aqui o que se faz? Se faz uma comunidade que tem dons diversos: um tem o dom da profecia, o outro o ministério, um é professor... Todos têm uma qualidade, uma virtude. Mas a festa se faz levando isto que tenho em comum com todos...à festa se participa, se participa plenamente. Não se pode entender a essência cristã sem esta participação. É uma participação de todos nós. ‘Eu vou à festa mas vou ficar apenas na primeira sala, porque eu tenho que estar somente com três ou quatro que eu conheço e os outros ...". Isso não se pode fazer na Igreja! Ou tu entras com todos ou você fica de fora! Você não pode fazer uma seleção, a Igreja é para todos, começando por estes que eu falei, os mais marginalizados. É a Igreja de todos! "
É a “Igreja dos convidados” – acrescentou: “Ser convidado, ser participante de uma comunidade com todos”. Mas – observou o Papa – na parábola narrada por Jesus lemos que os convidados, um após outro, começam a encontrar desculpas para não ir à festa: “Não aceitam o convite! Dizem sim, mas fazem não”. Estes “são os cristãos que somente se contentam em estar na lista dos convidados: cristãos elencados”. Mas – advertiu Francisco – isto “não é o suficiente” porque se não se entra na festa não se é cristão. “Tu estarás na lista, mas isto não serve para a tua salvação! Esta é a Igreja: entrar na Igreja é uma graça; entrar na Igreja é um convite”. “E este direito não se pode comprar”, advertiu.

“Entrar na Igreja – reiterou - é fazer comunidade, comunidade da Igreja; entrar na Igreja é participar com tudo o que nós temos de virtudes, das qualidades que o Senhor nos deu, no serviço de uns pelos outros. E ainda: “Entrar na Igreja significa estar disponível àquilo que o Senhor Jesus nos pede”. “Entrar na Igreja é fazer parte deste Povo de Deus, que caminha para a Eternidade”. “Ninguém é protagonista na Igreja – observou - mas temos um protagonista que fez tudo. Deus é o protagonista!”. Todos nós O seguimos e quem não O segue, é alguém que se desculpa” e não vai à festa:
“O Senhor é muito generoso. O Senhor abre todas as portas e também entende aquele que Lhe diz: ‘Não, Senhor, não quero ir contigo!’. Entende e o espera, porque é misericordioso. Mas ao Senhor não agrada aquele homem que diz ‘sim’ e faz ‘não’; que finge agradecer-lhe por tantas coisas bonitas, mas em verdade segue seu próprio caminho; que tem boas maneiras, mas faz a própria vontade e não a do Senhor: estes que sempre se desculpam, que não conhecem a alegria, que não experimentam a alegria do pertencer. Peçamos ao Senhor esta graça: de entender bem quão belo é ser convidado para a festa, quão belo é estar com todos e partilhar com todos as próprias qualidades, quão belo é estar com Ele e que ruim é jogar entre o “sim” e o “não”, de dizer “sim” mas contentar-me somente em fazer parte da lista dos cristãos”.

(Fonte: Red.Rádio Vaticano/ Red.ZENIT T.S.)