PRIMEIROS
DISCÍPULOS
Na
continuidade dos dias, sucedeu que logo apareceram os discípulos, aqueles
companheiros que entusiasmados com sua transformação, queriam imitá-lo. E no
meio de muitos que vieram, historicamente o primeiro discípulo conhecido foi
Frei Bernardo Quintavalle, que além de discípulo tinha uma grande devoção
pelo Santo. A sua adesão e de mais três rapazes, aconteceu na Igreja de São
Nicolau. Como Francisco ainda não tinha escrito uma Directriz ou Norma de Vida
para quem quisesse seguir os seus passos, colocou-se nas Mãos de DEUS a fim
de que ELE inspirasse a sua conduta. Na Igreja, diante do Sacrário, abriu ao
acaso por três vezes a Santa Bíblia e leu as seguintes frases: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e
dá aos pobres, e terás um tesouro nos Céus.” (Mt 19,21)
Na segunda vez: “Quem quiser vir após
mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.”
(Mt 16,24) E finalmente na terceira vez:
“Não queirais levar para a viagem coisa alguma”.(Lc 9,3)
Bernardo
era nobre e possuía muitos bens. Separou sua parte na herança, vendeu e
distribuiu para os pobres de Assis e foi encontrar-se com Francisco.
Em
pouco tempo já se contavam quatro Frades na cabana da Porciúncula e com o
passar dos meses, o número cresceu muito mais.
Mas para seguir o projecto de vida escolhido
por Francisco, não necessitavam de uma moradia fixa, porque passavam a maior parte
do tempo em missões, na periferia da cidade ou em outros locais, trabalhando dois
a dois ou sozinhos, depois de terem sido devidamente preparados pelo Santo. Eram
humildes e objectivos, quando entravam numa cidade, paravam na praça do mercado
e cantavam um hino de louvor a DEUS, com a finalidade de atrair a atenção do povo.
Logo, formava-se uma multidão de gente ao redor deles.
A
letra do hino que Francisco ensinou-lhes era assim:
“Temei e honrai a DEUS, louvai
e glorificai o SENHOR!”
“Agradecei ao CRIADOR, Omnipotente, e invocai o DEUS Uno e Trino: PAI, FILHO e ESPÍRITO SANTO, que fez todas as coisas!”
“Convertei-vos para que possam produzir frutos sadios e não se esqueçam de que em breve morrerão!”
“Dai e receberão! Perdoai e também serão perdoados!”
“Mas se não perdoardes as faltas das pessoas, também o SENHOR não perdoará os seus pecados!”
“Sedes humildes e simples, confessem corajosamente todos os seus pecados!”
“Felizes os que morrem depois de convertidos, porque irão para o Reino dos Céus!”
“Infelizes os que morrem em pecado, porque se tornarão filhos do diabo e viverão para sempre no fogo eterno!”
“Guardai-vos e sejam solícitos em evitar o mal, em perseverar no bem, até o último dia de sua vida!”
“Agradecei ao CRIADOR, Omnipotente, e invocai o DEUS Uno e Trino: PAI, FILHO e ESPÍRITO SANTO, que fez todas as coisas!”
“Convertei-vos para que possam produzir frutos sadios e não se esqueçam de que em breve morrerão!”
“Dai e receberão! Perdoai e também serão perdoados!”
“Mas se não perdoardes as faltas das pessoas, também o SENHOR não perdoará os seus pecados!”
“Sedes humildes e simples, confessem corajosamente todos os seus pecados!”
“Felizes os que morrem depois de convertidos, porque irão para o Reino dos Céus!”
“Infelizes os que morrem em pecado, porque se tornarão filhos do diabo e viverão para sempre no fogo eterno!”
“Guardai-vos e sejam solícitos em evitar o mal, em perseverar no bem, até o último dia de sua vida!”
Com seis meses de apostolado, o número
de Frades cresceu para nove homens. Por essa razão, Francisco decidiu deixar
a cabana da Porciúncula (que significa, pequena porção de terra) e se transferiu
para RivoTorto, instalando-se numa casa que conseguiu, a qual chamavam
de “tugurium”,
porque era pequena e velha, embora o local fosse esplêndido. Ficava a cerca
de 20 minutos a pé da Igreja de Santa Maria dos Anjos, em Porciúncula.
RIVOTORTO
Desde
o inicio, a existência dos frades era muito difícil, porque viviam em completa
pobreza, somente com o necessário para o quotidiano. Saiam para trabalhar fora, a
fim de ganhar o pão de cada dia e por essa razão, aceitavam qualquer tipo de
serviço, por mais simples e difícil que fosse. Só pediam esmola em último
recurso, quando não existia trabalho e não havia nada para comer.
Francisco
foi a Roma com seus frades, para conseguir de Sua Santidade o Papa, uma autorização
oficial para estabelecer a Ordem que ele fundou. Esteve com o Papa Inocêncio
III e lhe submeteu o programa de vida que havia escrito. Sem qualquer observação,
o seu projecto da "Ordem dos Frades Menores" foi aprovado pelo Papa
e pelos Cardeais.
Cheio de ideal, regressou a RivoTorto.
Mas, pouco tempo depois de ter regressado,
foram expulsos do local. Aconteceu uma desagradável intriga entre os herdeiros
da área onde a Comunidade Franciscana ocupava de favor. Por essa razão, decidiram
retornar a Porciúncula.
Com
disposição construíram diversas cabanas com ramos entrelaçados e rebocados
com argila, como se fosse o nosso conhecido estuque, e cobertas com folhas. As
cabanas ficavam próximas da Igreja de Santa Maria dos Anjos. Podemos considerar
que este foi o primeiro Convento Franciscano (desenho abaixo). Logo que se
instalaram, receberam uma nova falange de frades, alegres, dispostos e repletos
de devoção por Francisco. A esta nova quantidade de postulantes, poderíamos
chamar de segunda geração franciscana.
E
sem dúvida, pela humildade e dedicação ao Evangelho, eles causavam admiração,
onde estivessem. Desde o tempo dos Apóstolos,
jamais alguém tão resolutamente e com tanto empenho, tentara colocar em prática
os ensinamentos e as palavras de JESUS, como fizeram Francisco e seus seguidores.
SUA VOCAÇÃO
Clara nasceu em Assis, no dia 11 de
Julho de 1194. Seu pai chamava-se Favorino Scifi e sua mãe, Ortolana da Fiume. O casal
possuía mais quatro filhos.
Desde jovem adquiriu o hábito de rezar diariamente e
de se mortificar, trazendo um cilício de pelos ásperos sobre o corpo. Também exercitava
com frequência a piedade cristã, distribuindo esmolas e atendendo com disponibilidade
as pessoas necessitadas que a procuravam. Fazia isto espontaneamente, como demonstração
de seu sincero e fervoroso amor a DEUS.
Passaram-se os anos e aquela menina tornou-se moça
alta e bonita. Aos 15 anos de idade estava assediada por diversos pretendentes,
dos quais, um deles era de muito agrado de seus pais. Todavia, ela não queria
conversar sobre o assunto de casamento. Com muito respeito e educação, fugia
das insinuações de seus progenitores. Até que um dia, diante da obstinada
insistência de sua mãe, revelou que por vontade pessoal, havia consagrado
sua virgindade a DEUS, como demonstração de
amor e entrega total.
Seus pais ficaram abismados com a decisão e não
concordaram, classificando o episódio como excesso de zelo cristão. Assim,
com 16 anos de idade Clara Scifi começou a enfrentar uma intensa batalha de
palavras e sentimentos contra seus pais, que não aceitavam a sua decisão.
Quase na mesma época, o jovem Francisco cuja
conversão comovera a cidade de Assis, voltava de Roma com a autorização pontifícia
para pregar o evangelho. E Clara ouviu-o diversas vezes na Igreja da cidade. Diante
das palavras incisivas do Santo, começou a compreender que a vida que ele levava,
era justamente aquela que ela se sentia atraída a seguir, porque estava
perfeitamente convencida, de que aquela era a Vontade de DEUS.
Rufino e Silvestre, dois frades da Ordem de
Francisco, também pertenciam à família dela e portanto, tinham um certo parentesco
com Clara. Então foi fácil para ela trilhar o caminho até Francisco, diante
de quem logo abriu o seu coração e revelou os seus anseios e projectos. Na verdade,
o Santo já ouvira falar a respeito dela e agora, diante das palavras decididas
de Clara, não teve dúvidas, recomendou que ela perseverasse e lutasse
pelo seu ideal. Tornou seu guia espiritual.
Clara continuou vivendo na
casa de seus pais, aparentemente com a mesma normalidade, rezando, fazendo
mortificações com o cilício e comparecendo com frequência a Santa Missa,
onde tinha oportunidade de ouvir as palavras de Francisco. E assim
passaram-se os dias, até que em 18 de Março de 1212, decidiu romper
definitivamente com os prazeres do mundo e acolher o luto pela Paixão e Morte
do SENHOR. Era domingo de Ramos. Vestiu a sua melhor e mais rica veste e foi para
a Igreja com sua mãe e irmãs. Frei Tomás de Celano, em seu livro sobre a Vida
de São Francisco e de Santa Clara, escreveu:
“Entre
as mulheres e moças de Assis, nenhuma irradiava tanta beleza e esplendor quanto
à loura Clara Scifi.”
Após a celebração eucarística, quando começou
a distribuição dos ramos bentos, as pessoas que estavam na Igreja se organizaram
em filas, a fim de recebê-los das mãos do senhor Bispo Guido. Contudo, ela permaneceu
sozinha em seu lugar, enquanto suas irmãs e sua mãe já se encontravam na balaustrada
que separava o altar da assembleia. Vendo-a imóvel, com a cabeça baixa, sacudindo os
ombros pelos soluços de um profundo choro, derramando lágrimas que inundavam
a sua face, o Bispo compreendeu o que se passava, porque tinha sido informado por
Francisco a respeito do propósito da moça. Por isto, com terna e paternal consideração,
apanhou o ramo que ela não viera receber no altar e pessoalmente, foi a seu
encontro no fundo da Igreja e lhe entregou.
Na noite seguinte Clara executou o plano que
havia concebido. Acompanhada por uma parente chamada Bona Guelfucci fugiu de casa,
seguindo o caminho da Porciúncula. Os frades franciscanos que a esperavam,
vieram a seu encontro com tochas que iluminaram o caminho. Bem depressa,
ela se ajoelhou diante da imagem de NOSSA SENHORA na Igrejinha de Santa
Maria dos Anjos, fez uma oração de renúncia ao mundo “por amor ao Sagrado e Santíssimo MENINO JESUS, envolto em pobres paninhos
e deitado numa manjedoura.” Entregou aos frades a sua veste
luxuosa e vestiu uma túnica de lã, semelhante à deles, ajustada ao corpo por um
cinto de corda. Francisco cortou sua cabeleira de ouro e ela cobriu a cabeça
com um espesso véu negro, calçou sandálias de madeira
e pronunciou os três votos de monja, prometendo obedecer a Francisco
como seu superior hierárquico. Naquela mesma noite, o Santo a conduziu ao
Convento das Irmãs Beneditinas de São Paulo, que não ficava distante e já
estava preparado para recebê-la.
O refúgio de Clara, logo foi descoberto
pelo seu pai, que em companhia de outros parentes vieram procurá-la, tentando
fazê-la mudar de ideia. Mas ela foi irredutível, de nada valeram as palavras,
os rogos e as promessas que fizeram, ela estava decidida a seguir a vida religiosa.
Quando finalmente quiseram recorrer a força, para arrancá-la do Convento, ela
correu para junto do altar e retirou o véu negro, mostrando-lhes a cabeça
totalmente raspada, que significava o seu definitivo adeus ao mundo.
Na sequência dos dias, como sua família insistia
obstinadamente em querer tira-la do Convento, Francisco decidiu transferi-la
para outro Convento mais distante e melhor protegido, o Convento de Sant Ângelo
em Panzo, que também pertencia às Irmãs Beneditinas.
Todavia, o furor de Favorino cresceu muito
mais, quando 16 dias após a fuga de Clara, sua irmã Inês também fugiu de casa e
foi para o Convento de Sant Ângelo, a fim de se juntar à irmã no mesmo ideal
de vida, para maior glória de DEUS. O pai havia colocado em Inês todas as suas
esperanças, na ausência de Clara que era a filha mais velha, por ser ela
também muito bonita e inteligente como Clara, e também porque havia acolhido
suas recomendações e estava noiva, com o casamento marcado. Por isso ficou
exasperado, sem saber o que fazer. Mandou chamar o seu irmão Monaldo e lhe
pediu que reunisse uma dúzia de homens fortes e bem armados, e a trouxessem
de volta, mesmo que fosse pela força.
Quando aqueles homens armados chegaram ao
Convento, as Irmãs de Sant' Ângelo ficaram apavoradas e diante daquela demonstração
de força, prometeram entregar-lhes Inês. Mas esta, embora jovem, estava disposta
a tudo e se preparou para reagir. Foi espancada, pisoteada e levou socos em
quantidade, da mesma forma que com galhardia tentava defender-se da brutal agressão.
Arrastaram-na pelos cabelos para fora do Convento, enquanto desesperadamente ela
gritava e pedia socorro a Clara. Esta, impotente para proteger a sua irmã, refugiou-se
na sua cela e fervorosamente rezou, invocando a misericordiosa ajuda de DEUS. Eis
que de súbito, aqueles doze homens robustos são interrompidos em sua festa de
estupidez e brutalidade, não conseguem carregar Inês. O corpo da moça ficou pesado
e rígido como se fosse um bloco compacto de pedra. Fizeram todas as tentativas
possíveis, em vão, não conseguiram arrastá-la. Tio Monaldo enraivecido, calçou
uma luva de ferro com pontas e levantou o braço para esmagar a cabeça da moça...
Ficou com o braço paralisado no ar, sem poder realizar o seu intento. Nesse
momento, Clara chegou correndo para ajudar a sua irmã. Os homens percebendo
que não havia meios de levar Inês, abandonaram o local e a deixaram caída
no chão, semimorta.
Esta foi à última tentativa feita pela família
para resgatar as filhas.
Anos mais tarde, uma outra irmã de Clara e Inês,
chamada Beatriz, foi lhes fazer companhia no Convento de Sant Ângelo.
Entretanto, aquele Convento beneditino era um
local provisório, porque elas tinham um ideal e não eram irmãs beneditinas. Assim,
Francisco contando com a amizade dos Padres da Ordem dos Camaldulenses do Monte
Subásio, que já lhe haviam cedido a Porciúncula, conseguiu agora também
graciosamente, São Damião e o pequeno Convento anexo a Igreja. Ali, em companhia
de poucas freiras, Clara foi habitar e iniciou o seu notável apostolado.
Naquele pequeno Convento germinou e floriu uma vida de oração e trabalho,
de pobreza e alegria, que por sua influência benéfica na Comunidade franciscana,
pode ser denominada de “flor do movimento
franciscano”. O exemplo daquelas mulheres repercutiu longe.
Muitas moças que não se achavam retidas pelos laços do mundo, acorreram a São Damião
para viver como monjas. A primeira condição requerida para uma postulante ser admitida,
era a mesma que Francisco exigia na Porciúncula: dar todos os seus bens aos pobres. Os
meios de subsistência das freiras eram os mesmos dos frades: trabalho e a
esmola. Enquanto algumas freiras ocupavam-se em trabalhar no claustro
fazendo artesanato, na limpeza e cozinha, outras
iam mendigar de porta em porta.
São Francisco escreveu para as freiras uma
“Regra de Vida”,
que em substância se resumia na obrigação da pobreza evangélica.
Também por sua intercessão, as freiras obtiveram a aprovação do Papa Inocêncio
III, em 1215, ocasião em que Clara, por ordem expressa de Francisco, aceitou o
título de Abadessa de São Damião. Isto porque, até então, ele era o Chefe e Director das duas Ordens. Agora, em virtude da nomeação feita pelo Papa, Clara
ficou superiora das freiras, fundando a Ordem das Clarissas, e Francisco
superior dos frades, da Ordem dos Frades Menores.
Santa Clara enfrentou
dificuldades de diversas naturezas, mas soube resistir e solucionar
todos os problemas com bravura e muita fé. Foi assim que também resistiu a
tentativa de invasão do Convento pelos soldados maometanos de Frederico II, que
estava em guerra contra o Papa. Verdadeiramente foi uma situação dramática,
porque os muçulmanos sitiaram o Convento e planeavam entrar, matar as monjas e
destruí-lo. Clara que se encontrava doente, no leito, pediu que fosse colocada
diante da porta principal que estava fechada e mandou trazer o Ostensório de marfim
com JESUS Sacramentado, que estava na Igreja. Com o Ostensório na mão e as monjas
ao seu redor, rezou uma fervorosa súplica ao SENHOR DEUS, pedindo que
livrasse suas filhas das investidas do maligno. Decorrido um pequeno espaço de
tempo em silêncio, pareceu-lhe ouvir uma voz que saia do Ostensório,
“como se fosse uma voz de criança”,
era a Voz do MENINO JESUS que lhe disse: “Serei
sempre o Seu Guarda!”
Logo a seguir, ouviu-se o trotar de animais
do lado de fora, indicando que os sarracenos tinham desistido do assédio
ao Convento e partiam, com o objectivo de procurar uma “presa” mais fácil.
MORTE DE CLARA
Apesar das dificuldades que ocorreram e da rigidez da
Regra que ela impôs ao Convento, a qual cumpria com perfeição para servir de
exemplo às suas filhas espirituais, trabalhou para o SENHOR durante 41 anos de
vida monástica, morrendo com sessenta anos de idade, depois de ter sofrido ao
longo de 28 anos de uma incómoda enfermidade.
No verão de 1253, por motivo de sua grave doença, o
cardeal Rinaldo, futuro Papa Alexandre IV, foi visitá-la em São Damião e após
a Confissão, concedeu-lhe a indulgência plenária e remissão de todos os
pecados.
A partir deste dia, as freiras se revezavam
diante de seu leito. Inês, sua irmã que era abadessa no Convento de Monticelli
e com quem não se encontrava há 30 anos, veio visitá-la. Ajoelhou-se ao lado
do seu leito e junto dela permaneceu em orações por longo tempo. Os dias
passavam e seu estado de saúde era gravíssimo, faziam duas semanas que não
comia absolutamente nada, contudo, manifestava que se sentia bastante forte.
Neste dia, lembrou-se do falecido Francisco com doçura e gratidão, seu pai
espiritual que já havia partido para a eternidade. Pediu aos frades da Porciúncula,
seus amigos que sempre estavam presentes, que se aproximassem e lessem o
Evangelho da Paixão de NOSSO SENHOR JESUS. Frei Leão chorava aos pés do leito
e Frei Ângelo procurava consolar paternalmente as freiras ao redor que também
choravam, enquanto Frei Junípero, com voz bonita e forte, mas às vezes entre-cortada pela dor, leu a Paixão do SENHOR JESUS. Clara murmurou:
“Vai
em paz minha alma, pois você tem um guia seguro que lhe mostrará o caminho,
Aquele que lhe criou, santificou, amou e não cessou de vigiá-la com a ternura
de uma mãe que zela pelo filho único de seu amor. Dou graças e bendigo ao
SENHOR porque ELE criou a minha vida”.
Depois se calou, ficou imóvel. Perguntou-lhe
uma freira: “A quem falava minha Madre?”
Respondeu Clara: “A minha alma”.
Frei Junípero terminou a leitura do Evangelho e
permaneceu em silêncio. Ela não disse mais nada... Com um suave sorriso nos lábios,
partiu para a eternidade.
Clara foi canonizada em 1255 pelo Papa Alexandre IV.
Seu corpo se encontra num bonito Mausoléu, na Basílica com o seu nome em Assis
SERMÃO DAS AVES
Certo dia, Francisco, em companhia de Frei Masseu
e Frei Ângelo, saiu para uma missão. Entre Cannara e Bevagna, num
local silvestre, havia um pequeno descampado e ao redor muitas árvores de todas
as espécies. Encima das árvores, voando em revoadas e espalhadas pelo chão no
descampado, muitas aves, que cantavam e se confraternizavam com grande alarido.
O Santo falou a seus discípulos: “Esperem
um momento, vou pregar às nossas irmãzinhas aves!” Entrou
no campo indo de encontro às aves que estavam no chão. E mal começou a pregar,
as que estavam nas árvores desceram. Nenhuma se mexia, embora andando ele
passasse perto e mesmo chegasse a roçar nelas com a extremidade de sua veste!
E dizia as aves:
“Minhas irmãzinhas aves, vocês
devem muito a DEUS, o CRIADOR, e por isso, em todo lugar que estiverem devem louvá-LO,
porque ELE lhes permitiu que voassem para onde quisessem, livremente, da mesma forma
que devem agradecer o alimento que ELE lhes dá, sem que para isso tenham que
trabalhar; agradeçam ainda a bela voz que o SENHOR lhes proporciona, que lhes
permitem realizar lindas entoações! Vejam, minhas queridas irmãzinhas,
vocês não semeiam e não ceifam. É DEUS quem lhes apascenta, quem lhes dá
os rios e as fontes, para saciar a sede; quem lhes dá os montes e os vales,
para o seu refúgio e lazer, assim como lhes dá as árvores altas, para
fazerem os ninhos. Embora não saibam fiar e nem coser, DEUS lhes concede admiráveis vestimenta para todas vocês e seus filhos, porque ELE lhes ama muito e quer o
bem estar de vocês. Por isso, minhas irmãzinhas, não sejam ingratas, procurem
sempre se esforçarem em louvar a DEUS.”
Acabando de dizer-lhes estas palavras,
todas as aves num gesto quase uniforme, começaram a abrir os bicos e esticar os
pescoços, à medida que abriam as asas e inclinavam reverentemente a cabeça até
á terra, cantando, demonstrando assim que Francisco lhes havia proporcionado
uma grande satisfação!
Finalmente, São Francisco lhes fez o
Sinal da Cruz e deu-lhes licença de se retirarem. Então, todas aquelas aves se
levantaram no ar com um maravilhoso canto, e logo se dividiram em revoadas e
desapareceram atrás das colinas e das matas.
Frei Tomás de Celano, célebre hagiógrafo de
São Francisco, escreveu que dias após aquele notável acontecimento,
quando pregou às Aves nas imediações de Bevagna, o Santo foi em companhia de Frei
Massau a um lugarejo chamado Alviano, entre Orte e Orvieto. Pararam na praça
do Mercado e como sempre, cantaram uma melodia com versos que convidavam a
conversão do coração, com a finalidade de reunir o povo. Depois começou a pregar.
Entardecia. As andorinhas que ainda hoje fazem ninho nos altos muros e nas torres
das construções, voavam de um lado para outro em ciclo contínuo, chilreando forte
e de modo quase uníssono. Os habitantes do lugarejo que se comprimiam ao redor para
ouvir a palavra dele, não estavam conseguindo entender quase nada, porque o barulho
das andorinhas era muito intenso. Então, Francisco com a maior tranquilidade, olhou
para elas e com muita doçura disse:
“Irmãs andorinhas, parece-me
que agora é minha vez de falar. Já cantaram e falaram bastante! Escutem, pois,
a palavra de DEUS e fiquem silenciosas enquanto eu falo!”
Elas pararam e fizeram um grande silêncio, por
todo o tempo que ele falou.
MISSÕES NA ITÁLIA
No seu modo de falar, havia algo de insinuante que
persuadia e atraía as pessoas. As palavras de Francisco eram “canciones”, na expressão de um poeta espanhol, que tratando
de assuntos práticos, convidavam o povo a conversão do coração. Era um moralista inexorável,
não se calava diante de acontecimentos que lhe parecessem errados. Por isso mesmo, às
vezes ele recebia a alcunha de “pregador da penitência.”
Sobre ele e seus Frades, o Cônego francês Tiago de Vitry
escreveu em 1216:
“Achando-me
na corte pontifícia vi coisas que me entristeceram, porque havia muita gente
preocupada com questões temporais e mundanas. Porém, vi também uma coisa que
muito me consolou. Grande número de pessoas, tanto nobres como plebeus,
renunciaram ao mundo, abandonaram tudo por amor a CRISTO. Eles são chamados
“Frades Menores”, e devo dizer que por sua santidade e pelos seus méritos,
são tidos em grande consideração e honra pelo Papa e Cardeais.”
E verdadeiramente, Francisco e seus frades, procuravam
com perseverança, viver o Evangelho do SENHOR.
Em certa ocasião, sucedeu que alguns
malfeitores que habitavam um bosque nas proximidades do Convento franciscano de
Monte Casale, com o objectivo de assaltar as pessoas que por ali passavam, foram
pedir pão aos frades. Ouviram a resposta que não ficava bem para a Comunidade
Religiosa dar-lhes esmola, porque eles eram assaltantes e ladrões.
Francisco que nesta mesma
ocasião, visitava esse Convento, foi questionado pelos frades que lhe perguntaram
se era bom dar esmolas aos assaltantes. O Santo lhes respondeu:
“Meus
filhos, se fizerem como vou dizer-lhes, tenho a esperança de conseguir diante
de DEUS, a salvação das almas daqueles homens. Preparem uma boa quantidade de pão
e vinho e levem ao bosque, onde eles se encontram. Convide-os em voz alta dizendo
assim: Irmãos assaltantes, venham cá sem medo, nós somos frades e lhes trazemos
pães e vinho! Com certeza eles virão e logo ajeitarão uma toalha no chão,
arrumando-a como se arruma uma mesa e vocês, humildemente deverão servi-los e
permanecer alegres enquanto eles comem. Depois, quando acabarem de comer, vocês
deverão falar-lhes sobre DEUS, ensinando-lhes o imenso Amor do CRIADOR por cada
um de seus filhos. E por último, complementando esta prova de amizade que
vocês vão oferecer-lhes, peçam-lhes um favor: Deles prometerem ao assaltar as
pessoas, não matar ninguém e nunca maltratá-las com golpes e socos.”
“Procedendo
assim, seguramente eles não negarão, consentirão em lhes fazerem a promessa,
isto, em troca da bondade e do procedimento humilde de vocês.”
“No dia
seguinte, deverão visitá-los outra vez com a desculpa de lhes agradecer a
promessa que fizeram, e deverão levar-lhes além de pães e vinho, alguns ovos
frescos cozidos e um bom queijo. Com certeza eles ficarão muito felizes. Quando
tiverem terminado de comer, deverão dizer-lhes: Irmãos nossos, porque ficam aqui
passando fome e suportando o calor e o frio, além de comprometerem a salvação
de suas almas? Melhor fariam se servissem ao SENHOR, porque ELE não deixará
de conceder-lhes o que necessitam, ao mesmo tempo em que salvará as suas
almas!”
“Com estas palavras, meus filhos,
afirmo-lhes que o SENHOR providenciará a conversão daqueles pobres coitados,
em recompensa pela humildade, paciência e boa vontade de cada um de vocês!”
Os
frades foram e fizeram como Francisco lhes ensinou e aconteceu exactamente como ele
havia previsto. Enquanto alguns permaneceram indiferentes, diversos daqueles homens
se empenharam em agradecer aos frades a confiança e demonstração de amizade,
procurando sempre de alguma maneira retribuir, trazendo-lhes lenha e ajudando
em serviços mais pesados. Finalmente, alguns deles foram despertados pelo
chamado Divino e entraram na Ordem dos Franciscanos.
INDULGÊNCIA
DA PORCIÚNCULA
Numa noite do mês de Julho de 1216,
como acontecia em tantas outras noites, na silenciosa solidão
da pequena Igreja da Porciúncula, São Francisco ajoelhado no
chão , estava profundamente mergulhado nas suas
orações, quando de súbito, uma luz vivíssima e fulgurante encheu todo
o recinto e no meio dela, apareceu JESUS ao lado da VIRGEM MARIA sorridente,
sentados num trono e circundados por diversos Anjos.
JESUS perguntou-lhe:
“Qual o melhor
auxílio que desejaria receber, para conseguir a salvação eterna das
almas?”
Sem hesitar Francisco respondeu:
“Santíssimo PAI, peço que todos aqueles
arrependidos e confessados, que vierem visitar esta Igreja, conceda-lhes um
amplo e generoso perdão, uma completa remissão de todas as suas culpas.”
“O que você
pede Frei Francisco, é um benefício muito grande,” disse-lhe o SENHOR, “muito
embora você seja digno e merecedor de muitas coisas. Assim, acolho o seu pedido,
com uma condição, você deverá solicitar essa indulgência ao meu Vigário na
Terra.”
No dia seguinte, bem
cedinho, Francisco acompanhado de Frei Nassau, seguiu para Perúgia,
a fim de se encontrar com o Papa Honório III. Diante de sua Santidade, falou:
“Santo
Padre, há algum tempo, com o auxílio de DEUS, restaurei uma Igreja em honra a
Santa Maria dos Anjos. Venho pedir a Sua Santidade colocar nesta Igreja uma
indulgência para quem visitá-la, sem a obrigação da pessoa oferecer qualquer
coisa em pagamento (naquela época, toda indulgência
concedida a uma pessoa, estava ligada à obrigação dessa pessoa fazer uma
oferta), a partir do dia da
dedicação dela.”
O Papa ficou surpreso e comoveu-se com
o incomum pedido. Depois perguntou:
“Por quantos anos você quer esta indulgência?”
“Santo Padre, não peço anos,
mas penso em almas”, respondeu Francisco.
“O que
você quer dizer com isto?”
“Se Sua
Santidade estiver de acordo, eu queria que todas as pessoas que visitassem Porciúncula, contrito de seus pecados, em estado de “graça”, confessado e tendo recebido à
absolvição sacramental, obtenham a remissão de todos os seus pecados, na pena e na culpa,
no Céu e na Terra, desde o dia de seu batismo até o dia em que entrar na
Igreja.”
“Mas não
é um costume da Cúria Romana conceder tal indulgência!”
“Senhor,
falou o “Poverello”, este pedido não faço por
mim, mas por ordem de JESUS CRISTO, da parte de Quem estou aqui.”
Ouvindo isto o Papa cheio de amor respondeu três
vezes seguidamente:
“Em nome de DEUS, meu filho,
concedo-lhe esta indulgência.”
Como alguns Cardeais estavam presentes e
quiseram interferir, o Papa confirmou:
“Já
concedi a indulgência. Todo aquele que entrar na Igreja de Santa Maria dos
Anjos, sinceramente arrependido de suas faltas e confessado, seja absolvido de
toda pena e de toda culpa. Esta indulgência valerá somente durante um dia, em
cada ano,“in perpetuo”, a começar das primeiras vésperas, incluída a noite,
até às vésperas do dia seguinte.”
A “consagração”
da Igrejinha aconteceu no dia 2 de Agosto do mesmo ano
de 1216. Assim sendo, a mencionada indulgência começa às 12 horas do dia 1 de
Agosto até o entardecer do dia 2 de Agosto, todos os anos. A indulgência é conhecida
com o nome: “DIA DO PERDÃO”. Para recebê-la, o fiel deve estar em
"estado de graça", rezar um CREDO, um PAI NOSSO,
fazer o pedido da Indulgência Plenária e rezar um PAI NOSSO, uma AVE MARIA e um
GLÓRIA pelas intenções de Sua Santidade o Papa.