domingo, 29 de julho de 2012

Santa Maria dos Anjos da Porciúncula



PRIMEIROS DISCÍPULOS
Na continuidade dos dias, sucedeu que logo apareceram os discípulos, aqueles companheiros que entusiasmados com sua transformação, queriam imitá-lo. E no meio de muitos que vieram, historicamente o primeiro discípulo conhecido foi Frei Bernardo Quintavalle, que além de discípulo tinha uma grande devoção pelo Santo. A sua adesão e de mais três rapazes, aconteceu na Igreja de São Nicolau. Como Francisco ainda não tinha escrito uma Directriz ou Norma de Vida para quem quisesse seguir os seus passos, colocou-se nas Mãos de DEUS a fim de que ELE inspirasse a sua conduta. Na Igreja, diante do Sacrário, abriu ao acaso por três vezes a Santa Bíblia e leu as seguintes frases: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos Céus.” (Mt 19,21) Na segunda vez: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.” (Mt 16,24) E finalmente na terceira vez: “Não queirais levar para a viagem coisa alguma”.(Lc 9,3)
Bernardo era nobre e possuía muitos bens. Separou sua parte na herança, vendeu e distribuiu para os pobres de Assis e foi encontrar-se com Francisco.
Em pouco tempo já se contavam quatro Frades na cabana da Porciúncula e com o passar dos meses, o número cresceu muito mais.
Mas para seguir o projecto de vida escolhido por Francisco, não necessitavam de uma moradia fixa, porque passavam a maior parte do tempo em missões, na periferia da cidade ou em outros locais, trabalhando dois a dois ou sozinhos, depois de terem sido devidamente preparados pelo Santo. Eram humildes e objectivos, quando entravam numa cidade, paravam na praça do mercado e cantavam um hino de louvor a DEUS, com a finalidade de atrair a atenção do povo. Logo, formava-se uma multidão de gente ao redor deles.
A letra do hino que Francisco ensinou-lhes era assim:
“Temei e honrai a DEUS, louvai e glorificai o SENHOR!”
“Agradecei ao CRIADOR, Omnipotente, e invocai o DEUS Uno e Trino: PAI, FILHO e ESPÍRITO SANTO, que fez todas as coisas!”
“Convertei-vos para que possam produzir frutos sadios e não se esqueçam de que em breve morrerão!”
“Dai e receberão! Perdoai e também serão perdoados!”
“Mas se não perdoardes as faltas das pessoas, também o SENHOR não perdoará os seus pecados!”
“Sedes humildes e simples, confessem corajosamente todos os seus pecados!”
“Felizes os que morrem depois de convertidos, porque irão para o Reino dos Céus!”
“Infelizes os que morrem em pecado, porque se tornarão filhos do diabo e viverão para sempre no fogo eterno!”
“Guardai-vos e sejam solícitos em evitar o mal, em perseverar no bem, até o último dia de sua vida!”
Com seis meses de apostolado, o número de Frades cresceu para nove homens. Por essa razão, Francisco decidiu deixar a cabana da Porciúncula (que significa, pequena porção de terra) e se transferiu para RivoTorto, instalando-se numa casa que conseguiu, a qual chamavam de “tugurium”, porque era pequena e velha, embora o local fosse esplêndido. Ficava a cerca de 20 minutos a pé da Igreja de Santa Maria dos Anjos, em Porciúncula.
RIVOTORTO
Desde o inicio, a existência dos frades era muito difícil, porque viviam em completa pobreza, somente com o necessário para o quotidiano. Saiam para trabalhar fora, a fim de ganhar o pão de cada dia e por essa razão, aceitavam qualquer tipo de serviço, por mais simples e difícil que fosse. Só pediam esmola em último recurso, quando não existia trabalho e não havia nada para comer.
Francisco foi a Roma com seus frades, para conseguir de Sua Santidade o Papa, uma autorização oficial para estabelecer a Ordem que ele fundou. Esteve com o Papa Inocêncio III e lhe submeteu o programa de vida que havia escrito. Sem qualquer observação, o seu projecto da "Ordem dos Frades Menores" foi aprovado pelo Papa e pelos Cardeais.
Cheio de ideal, regressou a RivoTorto.
Mas, pouco tempo depois de ter regressado, foram expulsos do local. Aconteceu uma desagradável intriga entre os herdeiros da área onde a Comunidade Franciscana ocupava de favor. Por essa razão, decidiram retornar a Porciúncula.
Com disposição construíram diversas cabanas com ramos entrelaçados e rebocados com argila, como se fosse o nosso conhecido estuque, e cobertas com folhas. As cabanas ficavam próximas da Igreja de Santa Maria dos Anjos. Podemos considerar que este foi o primeiro Convento Franciscano (desenho abaixo). Logo que se instalaram, receberam uma nova falange de frades, alegres, dispostos e repletos de devoção por Francisco. A esta nova quantidade de postulantes, poderíamos chamar de segunda geração franciscana.
E sem dúvida, pela humildade e dedicação ao Evangelho, eles causavam admiração, onde estivessem. Desde o tempo dos Apóstolos, jamais alguém tão resolutamente e com tanto empenho, tentara colocar em prática os ensinamentos e as palavras de JESUS, como fizeram Francisco e seus seguidores.

 SUA VOCAÇÃO
Clara nasceu em Assis, no dia 11 de Julho de 1194. Seu pai chamava-se Favorino Scifi e sua mãe, Ortolana da Fiume. O casal possuía mais quatro filhos.
Desde jovem adquiriu o hábito de rezar diariamente e de se mortificar, trazendo um cilício de pelos ásperos sobre o corpo. Também exercitava com frequência a piedade cristã, distribuindo esmolas e atendendo com disponibilidade as pessoas necessitadas que a procuravam. Fazia isto espontaneamente, como demonstração de seu sincero e fervoroso amor a DEUS.
Passaram-se os anos e aquela menina tornou-se moça alta e bonita. Aos 15 anos de idade estava assediada por diversos pretendentes, dos quais, um deles era de muito agrado de seus pais. Todavia, ela não queria conversar sobre o assunto de casamento. Com muito respeito e educação, fugia das insinuações de seus progenitores. Até que um dia, diante da obstinada insistência de sua mãe, revelou que por vontade pessoal, havia consagrado sua virgindade a DEUS, como demonstração de amor e entrega total.
Seus pais ficaram abismados com a decisão e não concordaram, classificando o episódio como excesso de zelo cristão. Assim, com 16 anos de idade Clara Scifi começou a enfrentar uma intensa batalha de palavras e sentimentos contra seus pais, que não aceitavam a sua decisão.
Quase na mesma época, o jovem Francisco cuja conversão comovera a cidade de Assis, voltava de Roma com a autorização pontifícia para pregar o evangelho. E Clara ouviu-o diversas vezes na Igreja da cidade. Diante das palavras incisivas do Santo, começou a compreender que a vida que ele levava, era justamente aquela que ela se sentia atraída a seguir, porque estava perfeitamente convencida, de que aquela era a Vontade de DEUS.
Rufino e Silvestre, dois frades da Ordem de Francisco, também pertenciam à família dela e portanto, tinham um certo parentesco com Clara. Então foi fácil para ela trilhar o caminho até Francisco, diante de quem logo abriu o seu coração e revelou os seus anseios e projectos. Na verdade, o Santo já ouvira falar a respeito dela e agora, diante das palavras decididas de Clara, não teve dúvidas, recomendou que ela perseverasse e lutasse pelo seu ideal. Tornou seu guia espiritual.
Clara continuou vivendo na casa de seus pais, aparentemente com a mesma normalidade, rezando, fazendo mortificações com o cilício e comparecendo com frequência a Santa Missa, onde tinha oportunidade de ouvir as palavras de Francisco. E assim passaram-se os dias, até que em 18 de Março de 1212, decidiu romper definitivamente com os prazeres do mundo e acolher o luto pela Paixão e Morte do SENHOR. Era domingo de Ramos. Vestiu a sua melhor e mais rica veste e foi para a Igreja com sua mãe e irmãs. Frei Tomás de Celano, em seu livro sobre a Vida de São Francisco e de Santa Clara, escreveu: 
“Entre as mulheres e moças de Assis, nenhuma irradiava tanta beleza e esplendor quanto à loura Clara Scifi.”
Após a celebração eucarística, quando começou a distribuição dos ramos bentos, as pessoas que estavam na Igreja se organizaram em filas, a fim de recebê-los das mãos do senhor Bispo Guido. Contudo, ela permaneceu sozinha em seu lugar, enquanto suas irmãs e sua mãe já se encontravam na balaustrada que separava o altar da assembleia. Vendo-a imóvel, com a cabeça baixa, sacudindo os ombros pelos soluços de um profundo choro, derramando lágrimas que inundavam a sua face, o Bispo compreendeu o que se passava, porque tinha sido informado por Francisco a respeito do propósito da moça. Por isto, com terna e paternal consideração, apanhou o ramo que ela não viera receber no altar e pessoalmente, foi a seu encontro no fundo da Igreja e lhe entregou.
Na noite seguinte Clara executou o plano que havia concebido. Acompanhada por uma parente chamada Bona Guelfucci fugiu de casa, seguindo o caminho da Porciúncula. Os frades franciscanos que a esperavam, vieram a seu encontro com tochas que iluminaram o caminho. Bem depressa, ela se ajoelhou diante da imagem de NOSSA SENHORA na Igrejinha de Santa Maria dos Anjos, fez uma oração de renúncia ao mundo “por amor ao Sagrado e Santíssimo MENINO JESUS, envolto em pobres paninhos e deitado numa manjedoura.” Entregou aos frades a sua veste luxuosa e vestiu uma túnica de lã, semelhante à deles, ajustada ao corpo por um cinto de corda. Francisco cortou sua cabeleira de ouro e ela cobriu a cabeça com um espesso véu negro, calçou sandálias de madeira e pronunciou os três votos de monja, prometendo obedecer a Francisco como seu superior hierárquico. Naquela mesma noite, o Santo a conduziu ao Convento das Irmãs Beneditinas de São Paulo, que não ficava distante e já estava preparado para recebê-la.
O refúgio de Clara, logo foi descoberto pelo seu pai, que em companhia de outros parentes vieram procurá-la, tentando fazê-la mudar de ideia. Mas ela foi irredutível, de nada valeram as palavras, os rogos e as promessas que fizeram, ela estava decidida a seguir a vida religiosa. Quando finalmente quiseram recorrer a força, para arrancá-la do Convento, ela correu para junto do altar e retirou o véu negro, mostrando-lhes a cabeça totalmente raspada, que significava o seu definitivo adeus ao mundo.
Na sequência dos dias, como sua família insistia obstinadamente em querer tira-la do Convento, Francisco decidiu transferi-la para outro Convento mais distante e melhor protegido, o Convento de Sant Ângelo em Panzo, que também pertencia às Irmãs Beneditinas.
Todavia, o furor de Favorino cresceu muito mais, quando 16 dias após a fuga de Clara, sua irmã Inês também fugiu de casa e foi para o Convento de Sant Ângelo, a fim de se juntar à irmã no mesmo ideal de vida, para maior glória de DEUS. O pai havia colocado em Inês todas as suas esperanças, na ausência de Clara que era a filha mais velha,  por ser ela também muito bonita e inteligente como Clara, e também porque havia acolhido suas recomendações e estava noiva, com o casamento marcado. Por isso ficou exasperado, sem saber o que fazer. Mandou chamar o seu irmão Monaldo e lhe pediu que reunisse uma dúzia de homens fortes e bem armados, e a trouxessem de volta, mesmo que fosse pela força.
Quando aqueles homens armados chegaram ao Convento, as Irmãs de Sant' Ângelo ficaram apavoradas e diante daquela demonstração de força, prometeram entregar-lhes Inês. Mas esta, embora jovem, estava disposta a tudo e se preparou para reagir. Foi espancada, pisoteada e levou socos em quantidade, da mesma forma que com galhardia tentava defender-se da brutal agressão. Arrastaram-na pelos cabelos para fora do Convento, enquanto desesperadamente ela gritava e pedia socorro a Clara. Esta, impotente para proteger a sua irmã, refugiou-se na sua cela e fervorosamente rezou, invocando a misericordiosa ajuda de DEUS. Eis que de súbito, aqueles doze homens robustos são interrompidos em sua festa de estupidez e brutalidade, não conseguem carregar Inês. O corpo da moça ficou pesado e rígido como se fosse um bloco compacto de pedra. Fizeram todas as tentativas possíveis, em vão, não conseguiram arrastá-la. Tio Monaldo enraivecido, calçou uma luva de ferro com pontas e levantou o braço para esmagar a cabeça da moça... Ficou com o braço paralisado no ar, sem poder realizar o seu intento. Nesse momento, Clara chegou correndo para ajudar a sua irmã. Os homens percebendo que não havia meios de levar Inês, abandonaram o local e a deixaram caída no chão, semimorta.
Esta foi à última tentativa feita pela família para resgatar as filhas.
Anos mais tarde, uma outra irmã de Clara e Inês, chamada Beatriz, foi lhes fazer companhia no Convento de Sant Ângelo.
Entretanto, aquele Convento beneditino era um local provisório, porque elas tinham um ideal e não eram irmãs beneditinas. Assim, Francisco contando com a amizade dos Padres da Ordem dos Camaldulenses do Monte Subásio, que já lhe haviam cedido a Porciúncula, conseguiu agora também graciosamente, São Damião e o pequeno Convento anexo a Igreja. Ali, em companhia de poucas freiras, Clara foi habitar e iniciou o seu notável apostolado. Naquele pequeno Convento germinou e floriu uma vida de oração e trabalho, de pobreza e alegria, que por sua influência benéfica na Comunidade franciscana, pode ser denominada de “flor do movimento franciscano”. O exemplo daquelas mulheres repercutiu longe. Muitas moças que não se achavam retidas pelos laços do mundo, acorreram a São Damião para viver como monjas. A primeira condição requerida para uma postulante ser admitida, era a mesma que Francisco exigia na Porciúncula: dar todos os seus bens aos pobres. Os meios de subsistência das freiras eram os mesmos dos frades: trabalho e a esmola. Enquanto algumas freiras ocupavam-se em trabalhar no claustro fazendo artesanato, na limpeza e cozinha, outras iam mendigar de porta em porta.
São Francisco escreveu para as freiras uma “Regra de Vida”, que em substância se resumia na obrigação da pobreza evangélica. Também por sua intercessão, as freiras obtiveram a aprovação do Papa Inocêncio III, em 1215, ocasião em que Clara, por ordem expressa de Francisco, aceitou o título de Abadessa de São Damião. Isto porque, até então, ele era o Chefe e Director das duas Ordens. Agora, em virtude da nomeação feita pelo Papa, Clara ficou superiora das freiras, fundando a Ordem das Clarissas, e Francisco superior dos frades, da Ordem dos Frades Menores.
Santa Clara enfrentou dificuldades de diversas naturezas, mas soube resistir e solucionar todos os problemas com bravura e muita fé. Foi assim que também resistiu a tentativa de invasão do Convento pelos soldados maometanos de Frederico II, que estava em guerra contra o Papa. Verdadeiramente foi uma situação dramática, porque os muçulmanos sitiaram o Convento e planeavam entrar, matar as monjas e destruí-lo. Clara que se encontrava doente, no leito, pediu que fosse colocada diante da porta principal que estava fechada e mandou trazer o Ostensório de marfim com JESUS Sacramentado, que estava na Igreja. Com o Ostensório na mão e as monjas ao seu redor, rezou uma fervorosa súplica ao SENHOR DEUS, pedindo que livrasse suas filhas das investidas do maligno. Decorrido um pequeno espaço de tempo em silêncio, pareceu-lhe ouvir uma voz que saia do Ostensório, “como se fosse uma voz de criança”, era a Voz do MENINO JESUS que lhe disse: “Serei sempre o Seu Guarda!”
Logo a seguir, ouviu-se o trotar de animais do lado de fora, indicando que os sarracenos tinham desistido do assédio ao Convento e partiam, com o objectivo de procurar uma “presa” mais fácil.
MORTE DE CLARA
Apesar das dificuldades que ocorreram e da rigidez da Regra que ela impôs ao Convento, a qual cumpria com perfeição para servir de exemplo às suas filhas espirituais, trabalhou para o SENHOR durante 41 anos de vida monástica, morrendo com sessenta anos de idade, depois de ter sofrido ao longo de 28 anos de uma incómoda enfermidade.
No verão de 1253, por motivo de sua grave doença, o cardeal Rinaldo, futuro Papa Alexandre IV, foi visitá-la em São Damião e após a Confissão, concedeu-lhe a indulgência plenária e remissão de todos os pecados.
A partir deste dia, as freiras se revezavam diante de seu leito. Inês, sua irmã que era abadessa no Convento de Monticelli e com quem não se encontrava há 30 anos, veio visitá-la. Ajoelhou-se ao lado do seu leito e junto dela permaneceu em orações por longo tempo. Os dias passavam e seu estado de saúde era gravíssimo, faziam duas semanas que não comia absolutamente nada, contudo, manifestava que se sentia bastante forte. Neste dia, lembrou-se do falecido Francisco com doçura e gratidão, seu pai espiritual que já havia partido para a eternidade. Pediu aos frades da Porciúncula, seus amigos que sempre estavam  presentes, que se aproximassem e lessem o Evangelho da Paixão de NOSSO SENHOR JESUS. Frei Leão chorava aos pés do leito e Frei Ângelo procurava consolar paternalmente as freiras ao redor que também choravam, enquanto Frei Junípero, com voz bonita e forte, mas às vezes entre-cortada pela dor, leu a Paixão do SENHOR JESUS. Clara murmurou:
“Vai em paz minha alma, pois você tem um guia seguro que lhe mostrará o caminho, Aquele que lhe criou, santificou, amou e não cessou de vigiá-la com a ternura de uma mãe que zela pelo filho único de seu amor. Dou graças e bendigo ao SENHOR porque ELE criou a minha vida”.
Depois se calou, ficou imóvel. Perguntou-lhe uma freira: “A quem falava minha Madre?” Respondeu Clara: “A minha alma”.
Frei Junípero terminou a leitura do Evangelho e permaneceu em silêncio. Ela não disse mais nada... Com um suave sorriso nos lábios, partiu para a eternidade.
Clara foi canonizada em 1255 pelo Papa Alexandre IV. Seu corpo se encontra num bonito Mausoléu, na Basílica com o seu nome em Assis
SERMÃO DAS AVES
Certo dia, Francisco, em companhia de Frei Masseu e Frei Ângelo, saiu para uma missão. Entre Cannara e Bevagna, num local silvestre, havia um pequeno descampado e ao redor muitas árvores de todas as espécies. Encima das árvores, voando em revoadas e espalhadas pelo chão no descampado, muitas aves, que cantavam e se confraternizavam com grande alarido. O Santo falou a seus discípulos: “Esperem um momento, vou pregar às nossas irmãzinhas aves!” Entrou no campo indo de encontro às aves que estavam no chão. E mal começou a pregar, as que estavam nas árvores desceram.  Nenhuma se mexia, embora andando ele passasse perto e mesmo chegasse a roçar nelas com a extremidade de sua veste! E dizia as aves:
“Minhas irmãzinhas aves, vocês devem muito a DEUS, o CRIADOR, e por isso, em todo lugar que estiverem devem louvá-LO, porque ELE lhes permitiu que voassem para onde quisessem, livremente, da mesma forma que devem agradecer o alimento que ELE lhes dá, sem que para isso tenham que trabalhar; agradeçam ainda a bela voz que o SENHOR lhes proporciona, que lhes permitem realizar lindas entoações! Vejam, minhas queridas irmãzinhas, vocês não semeiam e não ceifam. É DEUS quem lhes apascenta, quem lhes dá os rios e as fontes, para saciar a sede; quem lhes dá os montes e os vales, para o seu refúgio e lazer, assim como lhes dá as árvores altas, para fazerem os ninhos. Embora não saibam fiar e nem coser, DEUS lhes concede admiráveis vestimenta para todas vocês e seus filhos, porque ELE lhes ama muito e quer o bem estar de vocês. Por isso, minhas irmãzinhas, não sejam ingratas, procurem sempre se esforçarem em louvar a DEUS.”
Acabando de dizer-lhes estas palavras, todas as aves num gesto quase uniforme, começaram a abrir os bicos e esticar os pescoços, à medida que abriam as asas e inclinavam reverentemente a cabeça até á terra, cantando, demonstrando assim que Francisco lhes havia proporcionado uma grande satisfação!
Finalmente, São Francisco lhes fez o Sinal da Cruz e deu-lhes licença de se retirarem. Então, todas aquelas aves se levantaram no ar com um maravilhoso canto, e logo se dividiram em revoadas e desapareceram atrás das colinas e das matas.
Frei Tomás de Celano, célebre hagiógrafo de São Francisco, escreveu que dias após aquele notável acontecimento, quando pregou às Aves nas imediações de Bevagna, o Santo foi em companhia de Frei Massau a um lugarejo chamado Alviano, entre Orte e Orvieto. Pararam na praça do Mercado e como sempre, cantaram uma melodia com versos que convidavam a conversão do coração, com a finalidade de reunir o povo. Depois começou a pregar. Entardecia. As andorinhas que ainda hoje fazem ninho nos altos muros e nas torres das construções, voavam de um lado para outro em ciclo contínuo, chilreando forte e de modo quase uníssono. Os habitantes do lugarejo que se comprimiam ao redor para ouvir a palavra dele, não estavam conseguindo entender quase nada, porque o barulho das andorinhas era muito intenso. Então, Francisco com a maior tranquilidade, olhou para elas e com muita doçura disse:
“Irmãs andorinhas, parece-me que agora é minha vez de falar. Já cantaram e falaram bastante! Escutem, pois, a palavra de DEUS e fiquem silenciosas enquanto eu falo!”
Elas pararam e fizeram um grande silêncio, por todo o tempo que ele falou.
MISSÕES NA ITÁLIA
No seu modo de falar, havia algo de insinuante que persuadia e atraía as pessoas. As palavras de Francisco eram “canciones”, na expressão de um poeta espanhol, que tratando de assuntos práticos, convidavam o povo a conversão do coração. Era um moralista inexorável, não se calava diante de acontecimentos que lhe parecessem errados. Por isso mesmo, às vezes ele recebia a alcunha de “pregador da penitência.”
Sobre ele e seus Frades, o Cônego francês Tiago de Vitry escreveu em 1216:
“Achando-me na corte pontifícia vi coisas que me entristeceram, porque havia muita gente preocupada com questões temporais e mundanas. Porém, vi também uma coisa que muito me consolou. Grande número de pessoas, tanto nobres como plebeus, renunciaram ao mundo, abandonaram tudo por amor a CRISTO. Eles são chamados “Frades Menores”, e devo dizer que por sua santidade e pelos seus méritos, são tidos em grande consideração e honra pelo Papa e Cardeais.”
E verdadeiramente, Francisco e seus frades, procuravam com perseverança, viver o Evangelho do SENHOR.
Em certa ocasião, sucedeu que alguns malfeitores que habitavam um bosque nas proximidades do Convento franciscano de Monte Casale, com o objectivo de assaltar as pessoas que por ali passavam, foram pedir pão aos frades. Ouviram a resposta que não ficava bem para a Comunidade Religiosa dar-lhes esmola, porque eles eram assaltantes e ladrões.
Francisco que nesta mesma ocasião, visitava esse Convento, foi questionado pelos frades que lhe perguntaram se era bom dar esmolas aos assaltantes. O Santo lhes respondeu:
“Meus filhos, se fizerem como vou dizer-lhes, tenho a esperança de conseguir diante de DEUS, a salvação das almas daqueles homens. Preparem uma boa quantidade de pão e vinho e levem ao bosque, onde eles se encontram. Convide-os em voz alta dizendo assim: Irmãos assaltantes, venham cá sem medo, nós somos frades e lhes trazemos pães e vinho! Com certeza eles virão e logo ajeitarão uma toalha no chão, arrumando-a como se arruma uma mesa e vocês, humildemente deverão servi-los e permanecer alegres enquanto eles comem. Depois, quando acabarem de comer, vocês deverão falar-lhes sobre DEUS, ensinando-lhes o imenso Amor do CRIADOR por cada um de seus filhos. E por último, complementando esta prova de amizade que vocês vão oferecer-lhes, peçam-lhes um favor: Deles prometerem ao assaltar as pessoas, não matar ninguém e nunca maltratá-las com golpes e socos.”
“Procedendo assim, seguramente eles não negarão, consentirão em lhes fazerem a promessa, isto, em troca da bondade e do procedimento humilde de vocês.”
“No dia seguinte, deverão visitá-los outra vez com a desculpa de lhes agradecer a promessa que fizeram, e deverão levar-lhes além de pães e vinho, alguns ovos frescos cozidos e um bom queijo. Com certeza eles ficarão muito felizes. Quando tiverem terminado de comer, deverão dizer-lhes: Irmãos nossos, porque ficam aqui passando fome e suportando o calor e o frio, além de comprometerem a salvação de suas almas? Melhor fariam se servissem ao SENHOR, porque ELE não deixará de conceder-lhes o que necessitam, ao mesmo tempo em que salvará as suas almas!”
“Com estas palavras, meus filhos, afirmo-lhes que o SENHOR providenciará a conversão daqueles pobres coitados, em recompensa pela humildade, paciência e boa vontade de cada um de vocês!”
Os frades foram e fizeram como Francisco lhes ensinou e aconteceu exactamente como ele havia previsto. Enquanto alguns permaneceram indiferentes, diversos daqueles homens se empenharam em agradecer aos frades a confiança e demonstração de amizade, procurando sempre de alguma maneira retribuir, trazendo-lhes lenha e ajudando em serviços mais pesados. Finalmente, alguns deles foram despertados pelo chamado Divino e entraram na Ordem dos Franciscanos.
INDULGÊNCIA DA PORCIÚNCULA
Numa noite do mês de Julho de 1216, como acontecia em tantas outras noites, na silenciosa solidão da pequena Igreja da Porciúncula, São Francisco ajoelhado no chão , estava profundamente mergulhado nas suas orações, quando de súbito, uma luz vivíssima e fulgurante encheu todo o recinto e no meio dela, apareceu JESUS ao lado da VIRGEM MARIA sorridente, sentados num trono e circundados por diversos Anjos. JESUS perguntou-lhe:
“Qual o melhor auxílio que desejaria receber, para conseguir a salvação eterna das almas?”
Sem hesitar Francisco respondeu: “Santíssimo PAI, peço que todos aqueles arrependidos e confessados, que vierem visitar esta Igreja, conceda-lhes um amplo e generoso perdão, uma completa remissão de todas as suas culpas.”
“O que você pede Frei Francisco, é um benefício muito grande,” disse-lhe o SENHOR, “muito embora você seja digno e merecedor de muitas coisas. Assim, acolho o seu pedido, com uma condição, você deverá solicitar essa indulgência ao meu Vigário na Terra.”
No dia seguinte, bem cedinho, Francisco acompanhado de Frei Nassau, seguiu para Perúgia, a fim de se encontrar com o Papa Honório III. Diante de sua Santidade, falou:
“Santo Padre, há algum tempo, com o auxílio de DEUS, restaurei uma Igreja em honra a Santa Maria dos Anjos. Venho pedir a Sua Santidade colocar nesta Igreja uma indulgência para quem visitá-la, sem a obrigação da pessoa oferecer qualquer coisa em pagamento (naquela época, toda indulgência concedida a uma pessoa, estava ligada à obrigação dessa pessoa fazer uma oferta), a partir do dia da dedicação dela.”
O Papa ficou surpreso e comoveu-se com o incomum pedido. Depois perguntou: “Por quantos anos você quer esta indulgência?”
“Santo Padre, não peço anos, mas penso em almas”, respondeu Francisco.
“O que você quer dizer com isto?”
“Se Sua Santidade estiver de acordo, eu queria que todas as pessoas que visitassem Porciúncula, contrito de seus pecados, em estado de “graça”, confessado e tendo recebido à absolvição sacramental, obtenham a remissão de todos os seus pecados, na pena e na culpa, no Céu e na Terra, desde o dia de seu batismo até o dia em que entrar na Igreja.”
“Mas não é um costume da Cúria Romana conceder tal indulgência!”
“Senhor, falou o “Poverello”, este pedido não faço por mim, mas por ordem de JESUS CRISTO, da parte de Quem estou aqui.”
Ouvindo isto o Papa cheio de amor respondeu três vezes seguidamente:
“Em nome de DEUS, meu filho, concedo-lhe esta indulgência.”
Como alguns Cardeais estavam presentes e quiseram interferir, o Papa confirmou:
“Já concedi a indulgência. Todo aquele que entrar na Igreja de Santa Maria dos Anjos, sinceramente arrependido de suas faltas e confessado, seja absolvido de toda pena e de toda culpa. Esta indulgência valerá somente durante um dia, em cada ano,“in perpetuo”, a começar das primeiras vésperas, incluída a noite, até às vésperas do dia seguinte.”
A “consagração” da Igrejinha aconteceu no dia 2 de Agosto do mesmo ano de 1216. Assim sendo, a mencionada indulgência começa às 12 horas do dia 1 de Agosto até o entardecer do dia 2 de Agosto, todos os anos. A indulgência é conhecida com o nome: “DIA DO PERDÃO”. Para recebê-la, o fiel deve estar em "estado de graça", rezar um CREDO, um PAI NOSSO, fazer o pedido da Indulgência Plenária e rezar um PAI NOSSO, uma AVE MARIA e um GLÓRIA pelas intenções de Sua Santidade o Papa.

Reflexão para o XVII Domingo do Tempo Comum


Cidade do Vaticano (RV) - Para quem diz que a religião deve se preocupar apenas com o espírito, deverá surpreender o tema deste domingo onde na primeira leitura e no Evangelho o pão é multiplicado para que todos se alimentem bem. Aliás, na Sagrada Escritura, o verbo comer aparece quase mil vezes, enquanto que rezar só umas cem.Na primeira leitura, o profeta Eliseu não aceita comer, em uma situação de penúria, de fome mesmo, os 20 pães que um devoto de outro lugar lhe traz. Ele diz a esse bom homem que o distribua aos seus cem seguidores. O benfeitor diz ser impossível, que o pão é pouco e os ouvintes são cinco vezes mais. Eliseu ordena, confiando na Palavra de Deus dita a ele. “O homem distribuiu e ainda sobrou” nos diz a Sagrada Escritura. Naquela época isso aconteceu, bem como outros sinais semelhantes, para que o povo confiasse só em Deus e não nos ídolos. Deus se preocupa com nossas necessidades materiais, mas quer a nossa colaboração. Por isso a multiplicação do que foi trazido, do esforço físico de quem trabalhou, da solicitude de quem o trouxe e da generosidade e fé do profeta, que não reteve o dom para si, mas ensinou o homem a partilhar o que Deus criou para todos.A atitude de Eliseu faz Deus ser verdadeiro e não mentiroso, já que o Senhor havia dito “Comerão e ainda sobrará”. Em nossa realidade social somos os primeiros a fazer Deus passar por mentiroso, quando vivemos no Brasil, país que faz parte do grupo G20, e apesar disso temos mais de 10 milhões de pessoas vivendo abaixo da “pobreza absoluta”. País tão rico e população tão pobre! Deus não é mentiroso, nós é que somos egoístas e não queremos abrir mão de nossos pães que sobram para saciar a fome dos irmãos.E não é só o pão. É a saúde, as vestes, o afecto, a educação, tudo aquilo que depende de nós, porque nós os temos, pouco até, mas os temos. Se confiarmos em Deus, Ele cumprirá sua Palavra e do pouco sobrará bastante. Conta-se que São Vicente de Paulo ao chegar à cidade em que foi destinado como pároco, assistiu a morte de uma senhora e ficou penalizado por ter deixado sua filhinha de pouca idade. Após o sepultamento perguntou à população bastante pobre, quem tinha mais filhos e apareceu uma mãe com seus quatro filhos. Aí São Vicente entregou a ela a pequena órfã e ele acrescentou, mais ou menos assim: quem tem menos posses e mais filhos, sabe dividir e aceita o novo membro como bênção.No Evangelho, ao mandar as pessoas se sentarem, Jesus quer dizer que todos são cidadãos livres, já que os escravos não se sentavam para comer. Mais ainda, no projecto de Jesus não ensina primeiro acumular para depois dividir, mas partilhar o que cada um possui, para que todos fiquem saciados.Esta é a autêntica Eucaristia, o dom de Deus, associado ao esforço das pessoas, em vista da partilha, da fraternidade e da igualdade.E a Carta de Paulo aos Efésios nos diz que há “um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos”. Que nosso testemunho de crer no Deus único e verdadeiro no leve a colocar as mãos em nosso bolso e partilhar tudo aquilo que recebemos ou produzimos porque dele tudo recebemos para partilhar, para sermos irmãos.(CAS)
Source: www.news.vaare

sábado, 28 de julho de 2012

Homilia no XVII Domingo Comum B 2012


26 Julho 2012.
1. Passemos para o outro lado do mar! E retiremo-nos, para o monte, com Jesus e como Jesus! Da brisa plana do mar imenso, subamos às alturas da montanha, para assim “chegar com um dedo ao céu”. Do Mar ao Marão, bem pode chegar a Deus a nossa oração! O Evangelho deste domingo põe em evidência a dupla faceta do monte: ele é lugar de intimidade entre Jesus e os seus discípulos, na oração e no repouso; e é, ao mesmo tempo, lugar onde a multidão sobe, para experimentar a convivialidade, na partilha do pão!
2. Pode parecer-nos que esta dupla dimensão, da oração e da partilha, não tenha nada a ver, uma com a outra. Mas o evangelho esclarece-nos: antes, durante e depois do milagre da partilha do pão, está Jesus em oração: Diz, ao início, o evangelho que “Jesus subiu ao monte e aí sentou-se com os discípulos” (Jo.6,3), num primeiro momento de intimidade e oração. Logo depois, diz que ao receber de André o pouco que havia, “Jesus tomou os pães e deu graças” (Jo.6,11) numa oração de bênção e louvor,porque o pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada. E já no final, o evangelista deixa esta nota: “Jesus retirou-se novamente sozinho para o monte” (Jo.6,15). Assim, a oração está antes, durante e depois da acção. Porque a oração não é só uma questão de nos pormos a dizer palavras e a pedir ajuda a Deus; a oração é verdadeiramente “a experiência que abre o nosso coração a Deus, e assim gera também criatividade na busca de soluções” (Bento XVI, VII Encontro Mundial das Famílias, Festa dos Testemunhos, 2.06.2012). Jesus ensina-nos assim, uma dupla estratégia, no combate à pobreza e na resolução das dificuldades: fazer as coisas como se tudo dependesse de nós, com empenho e dedicação; e depois fazê-las como se tudo dependesse de Deus, com prontidão e confiança!
3. Isto mesmo respondeu Bento XVI, a uma pergunta de um casal da Grécia, no VII Encontro mundial das Famílias em Milão, a respeito do que seria possível fazer pelas famílias mais afectadas pela presente crise. Disse o Papa: “cada um procure fazer tudo o que lhe é possível; pense na família e nos outros, com um grande sentido de responsabilidade, sabendo que os sacrifícios são necessários para avançar. Que podemos fazer nós”? E sugeriu: “que realmente uma família assuma a responsabilidade de ajudar outra família”.
4. Somos assim desafiados a tecer esta rede de comunhão, entre famílias. Não se pode mais esperar soluções apenas dos governantes, das autarquias, da segurança social. O famoso Padre Américo dizia, em meados do século XX: “Ai dos pobres se não fossem os pobres” e estou certo de que diria hoje: “Ai das famílias se não forem as famílias”. É, pois, muito preciso que as famílias ajudem as famílias, com novas redes de entreajuda.
5. Queridos irmãos: o milagre de Deus está na nossa mão, e começa no coração. É no coração do homem, que o amor tem um efeito multiplicador, pois Deus só pode multiplicar, onde o homem for capaz de dividir. Que o pão partido da Eucaristia, que nos sobra e sacia, se multiplique depois na partilha do pão de cada dia

sexta-feira, 27 de julho de 2012

O MUNDO À NOSSA VOLTA


 Viver a esperança 
 Dário Pedroso, s.j.
 O mundo à nossa volta tem muitos sinais de “doença”. A alma do mundo está doente: crimes, guerras, violência doméstica, fraudes de toda a ordem, milhões a morrer à fome, milhões doentes de sida, milhões de drogados, milhões de desempregados, injustiças criminosas, roubos sem conta, ódios que semeiam guerras, como na Síria, ou na matança de cristãos na Nigéria. Um mundo doente onde ainda há muita pedofilia, milhões de abortos, muita depravação moral, muito divórcio e muito adultério, muita criança abandonada pelos pais, muitos idosos sós e desamparados. Muito estômago vazio, muitos milhares pessoas sem emprego, muita mentira e falsidade, mesmo em tribunais. Estamos perante um mundo que apresenta muitos sintomas de doença. E a Igreja, inserida neste mundo, também sofre de muitas doenças. Que o diga o Santo Padre Bento XVI, cujo gabinete pessoal foi assaltado e de onde lhe roubaram documentos pessoais. E que nos repita o que disse aos cardeais, por ocasião do Natal: que o maior mal da Igreja, os piores inimigos, estão dentro dela. Mas a doença vai mais longe: pedofilia de tantos padres, muitas religiosas dos Estados Unidos a serem defensoras e apologistas do aborto, muitos cristãos leigos e mesmo membros da hierarquia a não saberem o que é a obediência fiel e generosa, muita crise vocacional sobretudo na velha Europa tão secularizada e a braços com problemas tão graves, etc. Congregações que há mais de 20 anos não têm uma vocação, sacerdotes idosos, alguns com mais de 80 anos, a terem ainda a “carga” de ser párocos de uma ou até mais paróquias, etc. Perante um mundo e uma Igreja assim não podemos perder a esperança. Temos a certeza da fé que Jesus está connosco, como prometeu, e o seu Espírito não nos abandona. Sabemos que o Pai nos ama e que a Mãe, a Virgem Maria, nos ampara e vela por nós. Temos a certeza que há muita gente boa e que faz muito bem no mundo, muito serviço e muita caridade, muita oração e muita dedicação ao próximo. Nem tudo está perdido. Vivamos a esperança de um mundo, de uma sociedade renovada pela graça e pela sabedoria de Deus no coração de muita gente, de muitos homens e mulheres honestos, empreendedores, dedicados, dispostos a fazer o bem e a levar por diante muita dedicação em favor dos pobres, dos marginais, dos sem emprego e dos sem-abrigo. Vivamos a esperança que nos nasce da certeza que depois do Inverno vem a Primavera, que haverá mais flores, mais pão, mais encanto, mais alegria em viver, mais estímulos para fazer o bem. Por mais sombria ou tempestuosa que seja a noite, não deixará de surgir a madrugada e com ela a esperança da luz da vida, do sol que frutifica e aquece, da beleza que nos encantará e fará sorrir. A esperança que nos enche a alma nos levará a rezar mais, a rezar muito, na certeza que a oração é força que alcança dons e graças, que “vence” a Deus e nos dá o dom de verdadeiros milagres. A esperança faz-nos participar na Eucaristia como sacramento de amor e de vida nova, de transformação, de fermento de um mundo novo, de uma Igreja renovada, de um novo Pentecostes. A esperança ilumina-nos os caminhos da vida e faz-nos acreditar que o Coração da Mãe é o nosso refúgio e que a vitória sobre o mal e o pecado virá do seu Coração Imaculado. A certeza que a misericórdia é infinitamente maior que o mal e o pecado nos dará a esperança da graça e da santidade. As crises, levadas e assumidas em esperança, são sempre benéficas, transformam corações e vidas. Não podemos ficar sepultados na lamentação, na tristeza, olhando o mal, a desgraça, deixando-nos corroer pelo pessimismo doentio. Temos que ser profetas da esperança, mensageiros da boa-nova, testemunhos da vida e do amor, sementes de renovada alegria. Não podemos desistir de acreditar no Amor que Deus é e no Amor que nos tem. Sabemos em Quem acreditamos. Só Jesus, o Salvador, é portador de graça e de vida, de cura e de salvação, de misericórdia e de esperança. E Ele está Vivo e glorioso, é a nossa esperança. Se tudo reverte em favor dos que amam a Deus, como afirmou S. Paulo, então até o mal e o pecado podem ter seus aspectos positivos e serem caminho de salvação e de graça.