quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Ano da Fé

Ano da Fé João Duque, teólogo Na sequência do tratamento dado à caridade e à esperança (Deus caritas est e Spe salvi), seria de esperar que Bento XVI dedicasse um escrito à fé, centrando assim as suas encíclicas nas três virtudes teologais, como tinha anunciado no início do pontificado. Desta vez, dedica-se o ano de 2012 inteiro à reflexão e meditação sobre a fé. Desse modo, realiza-se o projecto de repensar os elementos essenciais do cristianismo e da vida da Igreja, evitando que, no interior da densa floresta dos assuntos e das propostas, se perca o horizonte fundamental do que nos constitui como cristãos. Interessante-mente, este ano da fé coincide com a celebração do 50.º aniversário do início do Concílio do Vaticano II, precisamente em Outubro de 1962. A junção dos dois «acontecimentos» eclesiais conduz-me a uma breve reflexão sobre o que possa ser o ano que se inicia. A reflexão e a reafirmação daquilo em que verdadeiramente acreditamos, daquilo que orienta fundamentalmente a nossa existência, acontece, normalmente, em momentos críticos da existência pessoal e também comunitária, ajudando a uma redescoberta da identidade, como forma de dar sentido a tudo o que fazemos. Ora, é sabido que o Concílio do Vaticano II foi convocado, precisamente, com essa finalidade. Os séculos XVIII, XIX e XX tinham trazido grandes alterações à vida social e pessoal dos europeus e, por extensão, de todo o mundo. Essas alterações tiveram enorme impacto sobre a vida da Igreja, sobretudo sobre a vida e as convicções de cada cristão. Era urgente, portanto, reflectir sobre a nossa identidade. O Concílio fê-lo, precisamente através de uma rentabilização do cristianismo, assumindo que não é possível a sua existência sem a «contaminação» da história em que se desenvolve, mas também que é necessário reconhecer a profundidade dessa história, libertando-o de muitos acessórios que poderão turvar a compreensão da sua identidade fundamental. É claro que o mais recente Concílio Ecuménico aconteceu num contexto em que os movimentos político-sociais viviam do entusiasmo revolucionário da transformação das condições de vida dos contemporâneos. Desse modo, também as conclusões do Concílio foram acolhidas, por muitos, como contributos para uma forte revolução político-social, capaz de transformar de vez a Igreja e o mundo. Os aspectos mais imediatos – e às vezes mais superficiais – das reformas assumiram o protagonismo quase exclusivo, aliando-se-lhe uma expectativa forte, em relação aos efeitos de determinadas transformações organizativas. Tudo isso foi, sem dúvida, importante para a vida da Igreja, resultando numa alteração notável das práticas quotidianas dos cristãos. Mas depressa se manifestou um problema inerente: que as expectativas estariam colocadas sobre bases pouco sólidas e que as verdadeiras transformações da vida eclesial pudessem ser puro resultado de reformas de organização. No primeiro caso, o que aconteceu foi que, muitas vezes, as modificações de superfície chegaram mesmo a atraiçoar a redescoberta da identidade do cristianismo; ou então, a maioria dos fiéis, que apenas contemplou as transformações de superfície, não chegou a penetrar nos fundamentos da sua fé, através de aprofundado conhecimento bíblico e teológico. Que as mudanças não tivessem passado de alterações epidérmicas, em muitos casos de efeitos de moda passageira, não seria de estranhar, enquanto não fossem trabalhados os alicerces da reforma em curso. No segundo caso, até por natural efeito de quebra de entusiasmo, como acontece com todos os fenómenos de moda, foram surgindo as desilusões, fruto da ineficácia de muitas iniciativas e reorganizações reformadoras. Alguns chegaram mesmo, no auge da desilusão, a considerar que tinha sido errado o Concílio e que seria conveniente anular os seus efeitos. Quando a esperança se coloca apenas em artifícios organizacionais, a desilusão e mesmo o desespero estão já por perto. Ora, penso que estes 50 anos de distância nos permitirão uma reflexão que conduza o Concílio aos seus núcleos fundamentais e permita compreender quais os seus contributos para a profunda transformação da Igreja, no permanente caminho de aproximação à sua identidade e aproximação ao mundo, para o qual existe. Nessa redescoberta, considero fundamental a orientação da fé, pois é nela que se encontra a base da correta ou incorrecta realização do que pretendeu o Concílio. Em primeiro lugar, porque não se trata de mera mudança de estratégia, na gestão de um grupo que previa entrar em crise. Aliás, por esse caminho, a estratégia não resultou, parecendo até que a crise se agravou. Mas o que pretendeu o Concílio foi abrir possibilidades de melhor realização daquilo que é a nossa própria fé, enquanto modo de vida pessoal e enquanto cerne do que constitui a comunidade eclesial. Trata-se, pois, de ser mais fiel à nossa identidade crente, essencialmente exposta na profissão de fé que denominamos «credo» ou «símbolo». Se redescobrirmos os textos do Concílio na sua ligação com esse núcleo crente, o caminho da sua aplicação é ainda longo. Ao mesmo tempo, a atitude crente fundamental exige que não coloquemos a confiança da realização desse caminho exclusivamente nas nossas forças organizativas. É certo que, sem o nosso trabalho, nada se fará. Mas o processo é mais complexo. No nosso trabalho, é o Espírito que age e nem sempre as coisas são como parecem ser. Por isso, com a confiança colocada em base mais sólida – precisamente porque acreditamos – os desânimos não nos levarão à desilusão ou mesmo ao desespero. Porque acreditamos que o contributo do Concílio é bom e importante para o presente e futuro da missão da Igreja, trabalharemos na sua realização, como quem trabalha num projecto muito complexo e abrangente, como humildes servos, confiantes nos efeitos de algo que é maior do que nós mesmos. João Duque, teólogo, presidente do Centro Regional de Braga da Universidade Católica Portuguesa

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Sto. ESTÊVÃO, primeiro mártir (Festa)

Sto. ESTÊVÃO, primeiro mártir (Festa) Livro dos Actos dos Apóstolos 6,8-10.7,54-59. Naqueles dias, cheio de graça e força, Estêvão fazia extraordinários milagres e prodígios entre o povo. Ora, alguns membros da sinagoga, chamada dos libertos, dos cireneus, dos alexandrinos e dos da Cilícia e da Ásia, vieram para discutir com Estêvão; mas era-lhes impossível resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. Ao ouvirem tais palavras, encheram-se intimamente de raiva e rangeram os dentes contra Estêvão. Mas este, cheio do Espírito Santo e de olhos fixos no Céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé, à direita de Deus. «Olhai, disse ele, eu vejo o Céu aberto e o Filho do Homem de pé, à direita de Deus.» Eles, então, soltaram um grande grito e taparam os ouvidos; depois, à uma, atiraram-se a ele e, arrastando-o para fora da cidade, começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram as capas aos pés de um jovem chamado Saulo. E, enquanto o apedrejavam, Estêvão orava, dizendo: «Senhor Jesus, recebe o meu espírito.» Livro de Salmos 31(30),3cd-4.6.8ab.16bc.17 . Sê para mim uma rocha de refúgio, uma fortaleza que me salve. Tu és o meu rochedo e a minha fortaleza; por amor do teu nome, guia-me e conduz-me. Nas tuas mãos entrego o meu espírito; Senhor, Deus fiel, salva-me. Hei-de alegrar-me e regozijar-me com a tua misericórdia, porque conheceste a angústia da minha alma Livrai-me das mãos dos meus inimigos e de quantos me perseguem. Brilhe sobre o teu servo a luz da tua face; salva-me pela tua misericórdia.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a Tua Palavra.


Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a Tua Palavra. Neste quarto Domingo do Advento somos conduzidos pelo Sim da Virgem Maria, coração dócil à vontade de Deus, campo fértil que acolhe a Palavra e dá Fruto novo para toda a humanidade. Maria foi eleita para ser a Mãe de Deus e a si mesmo se chama escrava, manifestando esta humildade sublime de quem sabe reconhecer que tudo vem de Deus e tudo volta para Ele. David tinha a intenção de construir uma habitação de pedra que fosse morada e presença do Senhor no meio do seu povo mas Deus tem outros projectos: “Prepararei um lugar para o meu povo de Israel; e nele o instalarei para que habite nesse lugar, sem que jamais tenha receio”. Esse lugar que Deus preparou foi o seio imaculado da Virgem Maria que se denomina agora Arca da Nova Aliança. Maria, na sua humildade, transporta a Promessa de Deus no seu ventre; aceitando ser a Mãe do Salvador, prometido a David, encerra o longo período de expectativa da humanidade e pela fé, pelo seu fiat generoso, Deus habita verdadeiramente no meio do Seu Povo. Porque a Deus nada é impossível, em Maria, a primeira entre os cristãos a comprometer-se na aventura da fé, nasce a Igreja, morada de Deus no meio dos homens. É na Igreja que hoje recebemos a graça de Deus, nos podemos transformar pela sua Palavra e podemos ver todas as promessas cumpridas e realizadas para nossa salvação. Partindo da experiência de Maria, ao preparar este Natal, sou confrontado com a questão: onde preciso acolher o Menino? Em que dimensões concretas da minha vida, da minha história, há necessidade do Messias? Abramos-lhe as portas do nosso coração, de par em par, e façamos a experiência das verdadeira salvação. Não nos deixemos enganar pelas soluções rápidas e barulhentas mas entremos na aventura da humildade e do silêncio, as únicas que nos ajudarão a ver o Deus vivo no meio de nós

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Coração de Ota - Animação natalícia

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Ele está no meio de vós e não o conheceis

No meio de vós está Alguém que não conheceis. O Evangelho deste Domingo confronta-nos com a missão de João Baptista. “Quem és tu?”, perguntam-lhe os sacerdotes e os levitas. A resposta de João manifesta claramente a consciência da missão - “sou a voz que clama no deserto”, que prepara, anuncia a vinda do Messias. João Baptista apresenta-se a si mesmo como a voz que anuncia a Palavra, que a manifesta e a torna presente. Ser a voz de Cristo, o seu arauto, aquele que anuncia o Salvador do mundo e prepara a sua vinda: esta é a missão de João Baptista e, tal como ele, de todos os cristãos que acolheram a Vida no seu coração. É inquietante a afirmação de João: “Está no meio de vós Alguém que não conheceis”. Impressiona porque ainda hoje muitos homens, bem perto de nós, nunca ouviram falar do Messias, muitos homens ainda não tiveram a oportunidade de se encontrar com o Deus Vivo e Verdadeiro. Por isso mesmo, João Baptista é hoje, para nós, ícone da missão da Igreja. Somos chamados a ser a voz, que proclama com a conversão diária, com a adesão a Cristo, a Vida que está no meio de nós. Com a consciência de que não nos anunciamos a nós mesmos mas a Cristo que por nós deu a vida e fez brilhar a sua luz no meio de nós, acolhamos o convite de São Paulo que escutamos hoje na segunda leitura: “Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças a Deus em todas as circunstâncias. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom”. Alegremo-nos irmãos porque Deus está no meio de nós. Preparemo-nos com seriedade para a vinda do Senhor que se manifestará para nós na paz e na graça. Deixemos que a Palavra nos converta e peçamos ao Senhor que fortaleça a nossa voz com a Palavra de Cristo que gera vida no coração dos crentes.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Eis o Vosso Deus

Eis o vosso Deus. O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará! Somos animados, neste segundo Domingo do Advento, pela confiança absoluta do Profeta na vinda do Senhor. O Senhor virá “como um pastor, apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso”. Confortados pela certeza da vinda do Senhor, somos chamados a preparar o seu caminho, a endireitar as suas veredas, isto é, os caminhos tortuosos da nossa vida. Significa isto que o Advento é também um tempo de conversão, um tempo sério de escuta da Palavra que quer cair em terra boa, de diálogo com o Senhor, de vigilância porque não sabemos o dia nem a hora em que o Senhor passará. Este não pode ser apenas mais um Advento na nossa vida (até porque não sabemos se será o último)! Somos chamados a combater a rotina espiritual e a caminhar com força e esperança que nos prepare para acolher o Menino que nascerá para nós. É urgente colocarmo-nos à escuta, é urgente fazermos um caminho de conversão, deixar que Deus entre com força na nossa vida e nos nossos projectos. São Pedro, na Carta que hoje escutamos, aponta-nos o caminho: “nós esperamos, segundo a promessa do Senhor, os novos céus e a nova terra, onde habitará a justiça. Portanto, enquanto esperais tudo isto, empenhai-vos, sem pecado nem motivo algum de censura, para que o Senhor vos encontre na Paz”. Preparamo-nos para celebrar a Solenidade da Imaculada Conceição e da Virgem Santa Maria, nossa Padroeira, colhemos o testemunho e beneficiamos da sua intercessão. Peçamos-lhe pela nossa Comunidade, para que em cada um dos seus membros, encontre uma terra boa e fértil que acolha com docilidade a Palavra do Seu Filho Jesus. Peçamos-lhe ainda que nos ajude nesta luta diária contra a sedução do mundo e que nos ajude a silenciar todos os barulhos e apelos que, neste tempo, nos afastam do projecto de Deus.